A cultura do cuidado
Sou professor de Ética e Sustentabilidade na Faculdade São Luiz, no Curso de Administração. Essa disciplina acadêmica oportuniza reflexões a respeito da nossa Casa Comum, o Planeta Terra. O papa Francisco trouxe uma contribuição imensa para o debate dessa temática com a sua Carta Encíclica Laudato Sì de 2015. Ele não cansa de lembrar que […]
Sou professor de Ética e Sustentabilidade na Faculdade São Luiz, no Curso de Administração. Essa disciplina acadêmica oportuniza reflexões a respeito da nossa Casa Comum, o Planeta Terra. O papa Francisco trouxe uma contribuição imensa para o debate dessa temática com a sua Carta Encíclica Laudato Sì de 2015. Ele não cansa de lembrar que somos chamados a nos educar para o exercício da Cultura do Cuidado. Por isso nos propõe uma reflexão para uma ação, tendo presente justamente esses dois princípios: a sustentabilidade e o cuidado. Princípios que têm que estar sempre presentes em nossos relacionamentos com nossa Casa Comum. Vejamos o que esses princípios nos sugerem como ação.
Sustentabilidade: o que vem a ser? Antes e, sobretudo, significa o uso racional dos recursos limitados da Terra; uso que não pode danificar o conjunto da natureza, além de manter as condições de sua reprodução; e tem de deixar aberta sempre a possibilidade de as gerações futuras poderem também usufruir o direito a ter um ambiente habitável. Como se percebe, a sustentabilidade afeta toda a vida da sociedade e da cultura de uma Nação.
Num sentido mais amplo, todo o Universo. Tem que estar presente em todos os setores socioculturais: meio ambiente, economia, política, artes, esportes, lazer, enfim, a própria vida das pessoas e das comunidades. Em última análise, significa criar um estilo de vida, pessoal e social, em que haja sempre um respeito à vida, a sua reprodução e conservação, evitando toda hostilidade que comprometa a vida natural presente e futura.
A sustentabilidade clama para um cuidado. O que se pode entender por cuidado, neste contexto que estamos refletindo? Parece-nos que a melhor maneira de abordá-lo será relacioná-lo a afetividade, ao amor. Na linha de pensamento e de ação que norteou o relacionamento de São Francisco de Assis com a natureza. Expressava essa relação amorosa com a Natureza, inclusive no modo de falar: “irmão Sol, irmã Lua, irmão lobo…”. O cuidado, então, se expressa por meio de um relacionamento amoroso, não agressivo, pelo contrário, respeitoso, evitando toda destruição gratuita e inconsequente.
O cuidado pelas “coisas” da Casa Comum nos liga a todas elas com laços de estreita dependência mútua. Para quem vive a fé cristã, não há muita dificuldade de compreensão dessa verdade. Com efeito, a fé nos diz e assegura que Deus é Criador de tudo, evidentemente, da nossa Casa Comum. Todas as coisas têm algo em comum: são criaturas. Todas têm a mesma origem. Não deixa de existir “certo parentesco” que as unem ao mesmo Senhor, seu princípio e fim. Embora em graus diversos, todas participam das perfeições de seu Criador. Por isso merecem todas, um respeitoso cuidado porque, como diz, a própria Escritura Sagrada: “pelas coisas criadas podemos chegar ao Criador”.
O cuidado é uma arte que passa pelo próprio cuidado que temos que ter uns para com os outros, como seres humanos, até um novo relacionamento com a natureza que nos envolve. Em nosso estilo diário de vida, temos que nos educar a pôr, efetivamente em prática, os princípios fundamentais de uma Cultura do Cuidado. Essa Cultura do Cuidado, com certeza, criará uma nova maneira de relacionar-se com o Planeta Terra, evitando maior degradação do meio ambiente. Esse zelo cuidadoso pela Casa Comum, por sua vez, creio, vai reverter também em um novo modo de relações interpessoais, criando uma sociedade e uma cultura mais humanas.