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A descoberta de Davi

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  • 13/12/2016
  • 16:30

O final de semestre chegou e com ele a proposta de produzir uma grande reportagem para a matéria de Jornalismo Popular. Ao discutirmos possíveis pautas nós – Grazielle Guimarães e Kassia Salles – abraçamos o autismo, este assunto tão delicado, era agora o nosso último grande desafio. O resultado você acompanha logo abaixo.

 

Davi nasceu diferente, e não era um mistério: Se Guédria Motta, sua mãe, colocasse um brinquedo interessante ao seu lado, ele, ao invés de tentar ir até o objeto, pensava em como trazer o objeto até si. Brincava com as coisas de forma diferente, também. Tinha um teclado musical colorido e barulhento, mas gostava mesmo era de brincar com a parte de trás do brinquedo, toda branca e apenas com o compartimento das pilhas, onde a diversão estava em tentar tirá-las.

Engatinhou com 11 meses, caminhou quando completou um ano e quatro meses, mesmo com as visitas mensais ao pediatra e a afirmação do médico que estava tudo normal. Foi em setembro de 2014, aos 19 meses de idade, que Guédria estranhou uma coisa. A professora da creche disse que não tinha muitas fotos dele – ela tirava fotos das crianças em sala de aula – porque ele “quase não participava”. “Como assim ‘quase não participava’? Surtei. A professora não sabia dizer quais eram as suas diferenças”, Guédria conta.

Depois de férias na praia, Guédria marcou uma consulta com um neuropediatra em Blumenau. No final de janeiro de 2015, eles passaram 1h30 na consulta. Perguntas, testes clínicos, encaminhamento de exames e um laudo: Davi era autista.

Guédria só queria ser prática naquele momento. Ao contar aos amigos e familiares, muitos sugeriram buscar outra opinião. No fim daquela tarde, ela conta: “Parei com o Davi no parque e intimei: ele iria subir na droga da escada e descer do escorrega, se comportar normalmente como uma criança de dois anos em um parque. E ele passou uma hora apenas observando as placas do local. Naquele instante decidi virar a página da aceitação e iniciar o trabalho”. Hoje Davi tem três anos e nove meses e ainda não fala como uma criança da sua idade.

 

Autismo:

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição geral para um grupo de desordens do cérebro que se apresenta, antes, durante ou após o nascimento. Esses distúrbios são caracterizados pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos. “Podemos considerar que todas as pessoas com autismo partilham dessas dificuldades ao longo do seu desenvolvimento, assim como Davi, entretanto a forma como o TEA se manifesta dependerá de sua intensidade. Sendo assim, as diferenças de sintomas podem existir desde o nascimento, sendo óbvias ou tênues no processo da avaliação diagnóstica”, explica o psicólogo da AMA Litoral de Balneário Camboriú, Ezequiel Leopoldo da Silva.

O profissional mais indicado para o fechamento do diagnóstico de autismo é o médico neurologista. Porém, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, dentre outros profissionais com experiência no desenvolvimento infantil e autismo, também podem auxiliar na avaliação do diagnóstico.

Quanto mais cedo o diagnóstico acontecer, melhor será o prognóstico, ou seja, o desenvolvimento posterior ao diagnóstico. Segundo Ezequiel, todas as crianças com autismo podem e devem estudar regularmente.

“Primeiro, por ser direito constituído por lei e, segundo, por todos terem condições de aprendizagem”. Mesmo que as crianças autistas possam apresentar dificuldades na aprendizagem, isso não é uma regra.

A Associação de Pais e Amigos dos Especiais, a APAE, faz um trabalho de inserção de pessoas com os mais diversos transtornos psicológicos na sociedade e no mercado de trabalho em parcerias com empresas. Em Camboriú, a Escola Especial Alegria de Viver – APAE faz esse trabalho com crianças e adolescentes. São 178 alunos matriculados, onde aproximadamente 30 são autistas. Na APAE, todas as crianças devem estar matriculadas no ensino regular, e no contra turno participam das atividades na instituição.

 

 

Superação

Segundo Guédria, Davi aprendeu o alfabeto e os numerais sozinho, aos dois anos, assim como a contar em inglês até 10.

Hoje, ele participa de sessões duas vezes por semana numa clínica mantida pela APAE, em Brusque, com o objetivo de desenvolver suas habilidades cognitivas e motoras. Guédria ainda fez uma especialização à distância sobre autismo pela Universidade de São Paulo – USP.

Guédria é jornalista e em suas redes sociais mantém um diário de seu dia a dia com seus dois filhos, Davi e Daniel. Daniel tem 7 meses e é cardiopata, ele realiza suas próprias superações a cada dia. Fica mais do que claro que tratamos aqui de uma família especial onde o amor transforma tudo em luta.

Grazielle Guimarães e Kassia Salles – estudantes de Jornalismo.