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A fabricação de um mundo louco

A filosofia, no período que chamamos de moderno, se ateve, como principal tarefa, a desconstruir as bases do que os filósofos antigos e medievais haviam construído. Os filósofos modernos impuseram-se a tarefa de repensar tudo a partir do zero, criticando e tateando em busca dos limites do conhecimento humano. Uma conclusão muito seguida dessas divagações […]

A filosofia, no período que chamamos de moderno, se ateve, como principal tarefa, a desconstruir as bases do que os filósofos antigos e medievais haviam construído. Os filósofos modernos impuseram-se a tarefa de repensar tudo a partir do zero, criticando e tateando em busca dos limites do conhecimento humano. Uma conclusão muito seguida dessas divagações foi a de que a realidade é, pelo menos em certo aspecto, construída pelo sujeito que a conhece. O filósofo alemão Imanuel Kant afirmou que é a razão humana quem dá ao mundo as leis da natureza, e sem o sujeito humano que conhece, o mundo é um caos. Seu seguidor Arthur Schopenhauer afirmava sem pudor que “o mundo é minha representação”. Essa mania de grandeza de quem pensa que o mundo só existe porque estamos olhando para ele fez escola. No século XIX, outro alemão, Friedrich Nietzsche pretendia solapar todas as bases da civilização ocidental, afirmando, entre outras coisas, que a moral cristã é fruto do ressentimento, e que o homem de verdade, que ele chamava de “super-homem”, deveria impor sua vontade sem escrúpulos (Hitler era seu leitor assíduo!). Karl Marx (outro alemão) também pretendia reformar o mundo não só na economia e na política, mas na base da natureza humana. Ele afirmou que, até sua época, os filósofos tinham tentado entender o mundo, e que era hora de parar com essa “bobiça” e começar a transformar o mundo. Michel Foucault (esse era francês!), queridíssimo nos meios intelectuais brasileiros, foi seguidor assíduo de Marx e Nietzsche no século XX, e é um dos pais dessa asneira colossal denominada “ideologia de gênero”. O que todos têm em comum é o apego à ideia moderna de que o mundo pode ser como nós imaginamos, que a realidade depende do que o sujeito pensa e faz dela. Ora, isso pode ser verdadeiro em algum âmbito e até útil num livro de autoajuda, mas se for levado muito a sério, leva à loucura. Aliás, Nietzsche viveu seus últimos anos num hospício, e Foucault, que adorava falar de suicídio e tentou se suicidar, também foi parar no manicômio. Foucault era chegado em sadomasoquismo e estimulava jovens a experiências com drogas e sexo, em nome da contracultura. Adorava falar em liberdade, mas admirava as ditaduras comunistas assassinas de sua época.

Mas por que estou desenterrando esses mortos? Porque não estão mortos. Eles estão no centro da vida intelectual de nossas universidades, e compõem um cardápio essencial a quem se imagina antenado com o que é “cult” e intelectual. É por isso que estamos sendo desconstruídos intelectual, moral e espiritualmente. Os grandes guias dos tempos atuais não compõem a torcida do Corinthians, mas são, sem dúvida, “um bando de loucos”. Possuem uma dialética requintada e um discurso atraente, especialmente para quem se considera “crítico”, mas suas inconsistências são bastante coerentes com suas biografias, que expõem pessoas perdidas em sua insanidade, tentando construir um mundo à sua imagem e semelhança. E não lhes faltam seguidores! Será difícil reconstruir nossa civilização sem nos livrarmos desse veneno.