A forma e o conteúdo
Na semana que passou, a denúncia que o Ministério Público Federal apresentou à Justiça contra Lula e os discursos de defesa do ex-presidente e dos seus advogados ocuparam grande parte dos noticiários e das conversas. Por um lado, foi muito criticada a forma “pirotécnica” como o procurador apresentou a denúncia, em entrevista coletiva. Por outro, Lula contra-atacou com mais um discurso manjado, para a militância petista, no qual reiterou sua honestidade monástica, com direito a choro e balangandãs.
Eu também considerei exagerada a forma como a denúncia foi apresentada, mas isso está muito longe de ser um atestado de inocência para Lula. Defensores do ex-presidente se aproveitaram do exagero da forma para desqualificar o conteúdo da denúncia, especialmente ao reiterarem que não foram apresentadas provas. As provas devem ser apresentadas e desenvolvidas durante a instrução do processo e, sendo convincentes, determinarão a condenação do denunciado. O que precisa haver numa denúncia são elementos suficientes para darem inicio ao processo. Com todas as delações (prova testemunhal) que os procuradores têm na mão, e todos os demais indícios, o que o juiz Sérgio Moro deve analisar é se isso é suficiente para esse início (Obs.: escrevo na noite de domingo – ainda não sei se a denúncia foi acatada ou não pelo juiz). Acatada a denúncia, o ex-presidente poderá exercer plenamente seu direito de defesa, e o resultado sairá na sentença.
Mas o que já começa a ganhar corpo é uma desqualificação da Justiça, seja dos procuradores, seja de Moro, como forma de construir a narrativa de um Lula perseguido e injustiçado, similar à narrativa do golpe contra a “presidenta”. Ora, qualquer cidadão minimamente inteligente e honesto já deve estar, há muito tempo, mais que desconfiado de que Lula é o grande chefe da quadrilha que assaltou a Petrobrás, o BNDES e aparelhou o Estado brasileiro segundo os interesses de seus amigos e correligionários. Eu simplesmente não consigo entender esse enorme esforço prévio em querer inocentá-lo. Será que alguém realmente acredita que ele seja inocente e honesto? Afinal, ele será julgado pela Justiça, com direito a, pelo menos, duas apelações, caso seja condenado em primeira instância. Será que todo mundo estaria conspirando contra o homem mais honesto da face da Terra? Ora, convenhamos, há muito conteúdo espúrio na biografia de Lula, e não será a “pirotecnia” do procurador federal que haverá de dissipar tanta coisa que o ex-presidente tem a explicar. Se Lula for inocente, então é um completo idiota. Como ele poderia não saber de tudo o que acontecia a um palmo de sua barba, e que está levando à condenação seus amigos e companheiros?
As formalidades legais poderão ser acompanhadas e fiscalizadas durante todo o processo, caso essa denúncia seja acatada. De qualquer forma, outras poderão ser formuladas a qualquer tempo. Os cidadãos honestos do país não precisam sair em defesa de Lula. Ele tem advogados pagos a peso de outro para fazer isso.