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A letargia e o Renascimento

Nada
tem me incomodado tanto nos últimos tempos quanto a letargia que atinge parcela
tão significativa da nossa juventude, em especial os estudantes. Às vezes tenho
a impressão de que se trata de um transe coletivo, dada a agudeza do
desinteresse geral pelo aprendizado de qualquer coisa que seja. É como se um
vírus poderoso criasse uma prolongada anestesia na alma.

A
origem do vírus é bem conhecida. Ao serem incentivados a darem vazão às suas
vontades e impulsos, a não reconhecerem autoridade, a terem pouco ou nenhum
compromisso, a desdenharem das tradições mais preciosas, desenvolveram uma
irresistível fraqueza moral, que os mantém presos ao limitado território das
satisfações imediatas. Os celulares, computadores e assemelhados, de
ferramentas úteis que são, têm se tornado versões eletrônicas do crack, tal a
dependência que criam no usuário, mormente para fruição fútil. E não se trata
de observação apenas de um professor apegado ao passado. Essa perplexidade é
partilhada por muitas pessoas, que se mostram igualmente preocupadas com o que
nos reserva o futuro, se as coisas continuarem nesse pé.

Mas
quando estou propenso a desanimar, tenho os olhos encaminhados para as
verdadeiras pérolas que pipocam aqui e acolá. 
No meio dessa multidão que caminha em procissão macabra para imolar o
melhor da sua vida no templo da mediocridade, há sinais de um Renascimento, que
nos enche de esperanças.

Esse
Renascimento não deixa de ser um sinal do profundo cansaço que a nossa cultura
já provoca. Quem tem ainda alguma lucidez na alma já percebe, com angústia, a
enorme ilusão dessa cultura que pretendia nos libertar dos grilhões de tudo o
que era tradicional, mas que só tem conseguido nos fazer patinar na nossa
subjetividade e nos nossos prazeres, vendidos como fonte de felicidade e
emancipação.

Outra
cultura, com outros fundamentos, já caminha, mesmo que às vezes despercebida,
no nosso meio. Não são poucos os que começam a despertar para valores mais
nobres, a verem a própria vida com outros olhos, a darem mais importância ao estudo,
ao trabalho honesto, ao cuidado da saúde física e espiritual, colocando o
cérebro e o coração acima da pele e dos impulsos mais básicos da natureza. É
através desses que eu creio num novo Renascimento cultural, tão necessário ao
nosso tempo. É em nome desse Renascimento que ainda vejo sentido na minha
tarefa de educador.

A
Jornada Mundial da Juventude é um sinal desses novos tempos. Que ela rejuvenesça
nossas esperanças.