Nuvens bem espalhadas e o sol brilhando… é claro que ela estaria na janela. Ela adorava tirar fotos do céu. Sabe quando é fim da tarde e o céu fica meio rosa? Ou numa manhã de inverno em que o sol só brilha e não esquenta? E às vezes, quando a noite surpreende com uma lua gigantesca? Então, eram nesses horários que eu me escondia atrás da minha cortina só para observá-la. Ela sorria, ela fotografava, ela olhava para a foto e fazia umas expressões faciais que diziam se ela havia ou não gostado da foto. Ela tinha uma careta muito simpática. Ora ela colocava a mão na frente, ora esperava um pássaro para modelar de graça, mas todo o tempo ela clicava e mexia a câmera pra lá e pra cá. Acho que ela revelava e colocava num álbum ou num livro de recortes, não sei, o Facebook não existia ainda.
Mas não importava a foto, o que importava de verdade era o sorriso dela por trás das câmeras e essa imagem era exclusividade minha. Bom, eu acho que era, afinal, ela não tinha nenhum outro vizinho que fora capaz de ter uma ideia tão boa quanto essa. Foi o meu primeiro amor platônico. Um amor de janela. Eu escrevia poemas e lia em voz alta no meu quarto cuidando para ela não escutar nada, eu ouvia músicas pensando nela e lia textos românticos imaginando ela narrando. Era uma paixão melosa, confesso, mas o que se espera de um vizinho adolescente, não é mesmo?
Mas o tempo passou. Eu cresci e me casei, porém todo dia ensolarado me traz lembranças daquela adolescência louca. Mas em nenhum deles, o sol brilhou como ontem. Eu nunca contei a ninguém sobre meus planos adolescentes de conquistar a menina, pois com o tempo tudo foi virando memórias daquelas que no futuro eu usaria depois da frase “na minha época…”.
Enfim, era fim de tarde e eu chegara do serviço um pouco mais cedo. Ao abrir a porta me deparei com a minha esposa na janela, com a câmera para o ar, tirando fotos e mais fotos. Comecei a rir. Ela perguntou qual era o motivo da graça. Então, eu expliquei que na minha adolescência eu observava uma garota fazendo o mesmo e blábláblá. Contei toda a história em detalhes curtos e terminei indignado por ter me apaixonado de uma maneira tão platônica quando jovem. Porém, fiquei surpreso com a reação da minha companheira que, com um olhar irônico, me respondeu:
– E onde você acha que eu estava nos dias chuvosos, menino das poesias?
Vitor Hochsprung – 17 anos – calouro Letras – FURB
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