A qualidade das relações humanas
Nas últimas décadas, as relações interpessoais e socioculturais passaram por grandes transformações. Nossos avós nem tinham condições de imaginar os meios de comunicação que, hoje, temos a nossa disposição diariamente. Todavia, uma pergunta logo vem à nossa mente: a qualidade de nossas relações humanas melhorou? Qual seria a melhor resposta a essa questão? Que todos […]
Nas últimas décadas, as relações interpessoais e socioculturais passaram por grandes transformações. Nossos avós nem tinham condições de imaginar os meios de comunicação que, hoje, temos a nossa disposição diariamente. Todavia, uma pergunta logo vem à nossa mente: a qualidade de nossas relações humanas melhorou? Qual seria a melhor resposta a essa questão? Que todos temos que dar. Pessoalmente, julgo que seja um sim e um não. Explico-me.
Quanto à qualidade dos meios a nossa disposição, creio que não há qualquer dúvida. Houve significativo avanço e o progresso. Parece não ter limites à vista. As distâncias físicas ou geográficas foram superadas e encurtadas. Foram encurtadas não só na quilometragem, mas também no tempo. Portanto, a resposta é um sim sem titubear.
Mas, e o não! Bem, é só observar uma família que vai almoçar ou jantar, em um restaurante. Cada um com o seu instrumento predileto à mão ou em cima da mesa, sem despregar o olhar dele. E, normalmente, todos entretidos com o seu aparelho. Essa cena já a presenciei várias vezes. Tempos atrás escutei uma entrevista na TV, um médico pediatra usou esta expressão que achei interessante por que caracteriza razoavelmente bem a situação. Dizia ele: “parece que as crianças, hoje, nascem com uma ‘prótese’: o celular na mão”. E discorria a respeito dos malefícios que tal “prótese” causa na saúde física, psíquica, social, cultural e até espiritual, no desenvolvimento e amadurecimento da personalidade do ser humano.
Evidente que com o incremento sempre mais acentuado desses meios de comunicação, a verdadeira comunicação entre pessoas, face a face, sem meio mecânico intermeando, fica prejudicada. A oralidade é substituída pela imagem, por caracteres frios, sem emoções ou bastante limitadas, sem sentimentos, sem expressões táteis de afeto, de carinho tão essenciais para o desenvolvimento e amadurecimento afetivos da pessoa humana. É claro que tudo isso afeta a qualidade da comunicação entre as pessoas. Torna-as mecânicas, frias, impessoais, distantes. Por mais que se queira substituir, inclusive, servindo-se de fotos ou mesmo da imagem ao vivo (online), jamais será da mesma qualidade do que o face a face ou o olho no olho do interlocutor (a).
As relações humanas se tornam cada vez mais relações mediadas. Relacionamentos indiretos e com emoções limitadas, filtradas por instrumentos: computador, telefone, chat, blog, redes sociais… Fique claro que, em si, não há nada errado nestes meios de comunicação. Tal como acontece com qualquer outro instrumento que nos servimos (faca, bisturi…). O problema está em quem o usa ou, dele, se serve. A mediação é ambivalente. Mas, o ser humano ao utilizar qualquer instrumento tem que fazer uma opção, escolha: servir-se dele para fazer o bem ou o mal. A escolha é estritamente pessoal. Para isso tenho que me educar ou ser educado para construir relações interpessoais e socioculturais construtivas. Esse é o campo da educação da consciência ética e moral. E o lugar, por excelência, para que ela aconteça é o seio da família. Daí o cultivo de valores éticos e morais, em família, que dignificam o ser humano e o preparam para as complexas relações humanas.
De novo, caímos no âmbito da educação da pessoa humana, em todas as suas dimensões para poder viver, digna e construtivamente, em sociedade e na cultura que está inserida.