A rocha e a areia
No domingo passado, participei de uma cerimônia de bodas de
ouro. Tal longevidade numa relação conjugal é oportunidade para refletir acerca
dos fundamentos da família e sua relação com a vida social em geral. Muitas
pessoas olham para um casal que está junto há cinquenta anos não mais com o
olhar de santa inveja e desejo de chegar também a tal comemoração. Isso talvez
não passe de uma quimera para relacionamentos que se baseiam em fundamentos bem
menos sólidos. Quem faz bodas de ouro hoje se casou em 1964, com valores e
costumes que estão em crise. Um desses valores é o senso de responsabilidade na
formação de uma família. O namoro era orientado para este fim e, uma vez
escolhido o par, restava conhecer melhor a pessoa, encaminhar os preparativos e
começar a vida em comum. As dificuldades de todos os tipos eram enfrentadas com
a força e a coragem de quem se preparou para enfrentá-las. Não se constrói um
relacionamento de cinquenta anos apenas com romance. Ele só é possível para
quem evoluiu da ilusão romântica dos contos de fadas, que compreendeu que o
amor verdadeiro é feito de renúncias e sacrifícios e não só de fruição e
satisfação pessoal, e que amar só é possível como resultado de um amadurecimento
conjunto e não do veneno da flecha do cupido.
Penso nos adolescentes do nosso tempo, que começam seus
relacionamentos nas baladas ou nos “rolés”. Eles não podem trabalhar, nem são
responsabilizados criminalmente, mas na área da sexualidade, são mais que
precoces. Sua ideia mestra é o que dizia um sucesso musical de algum tempo, que
virou um hino de uma geração: “eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo”. Dessa
fábrica de gente fútil, dificilmente sairão casais maduros o suficiente para o
que exige o matrimônio. É claro que sempre houve os deslizes, vícios e futilidade
em todas as gerações, mas isso está se tornando a norma no nosso tempo, o que é
muito perigoso. Há várias razões para que um casamento não dê certo, e cada
casal deve saber avaliar isso com responsabilidade. Mas podemos contribuir para
que, entre essas razões, não estejam nossa imaturidade e falta de compromisso.
Mas há muitos casais e jovens que nos fazem ter esperança num
futuro de famílias fundamentadas na rocha. São aqueles que sabem que os
“valores que os tempos não mudam” não foram revogados pelas teorias
mirabolantes de Freud ou da Marta Suplicy. Que eles se fortaleçam para que a
sociedade do futuro seja mais sólida e que as crianças realmente “aprendam no
colo a sentido da vida”.