O primeiro suicídio – Rússia 2016
A notícia que daria início à lenda urbana da Baleia Azul na internet surgiu em 15 de maio de 2016, quando o jornal russo Novaya Gazeta revelou que 130 crianças haviam cometido suicídio no período de 2015 a 2016, e que todas os suicídios estavam relacionados com o VK (rede social russa).
Segundo essa notícia, grupos do VK, como o #f57 e o #f58 são citados como supostos incentivadores de suicídio; supostamente Rina (nome ocultado) teria cometido suicídio em uma linha de trem e sua morte sido idolatrada pela comunidade.
A notícia gerou polemica e mais matérias sensacionalistas surgiram. O próximo a publicar e modificar essa notícia seria o jornal britânico Daily Mail, abordando o mesmo assunto, mas com manchetes mais polêmicas e chamativas.
O jornal apresenta o nome de 3 meninas que supostamente teriam cometido suicídio, mas somente uma é identificável, Renata Kambolina, de 17 anos. No VK é possível achar uma comunidade em sua homenagem, mas nada sobre incentivo ao suicídio ou qualquer coisa ligada a isso.
Logo a polícia russa começou a investigar, chegando a Filipp Budeikin, que foi preso em Moscou. Ele foi julgado por comandar 8 grupos no VK, onde postava vídeos e imagens com conteúdo gráfico violento, autoflagelamento e posição de privação de sono. Filipp negou ter incentivado Renata a cometer suicídio e afirmou que seu objetivo era apenas de postar conteúdos assustadores, sem intenção de promover o suicídio. Fillip foi preso, junto com outras 11 pessoas que tinham alguma relação com o #f57 e #f58.
A matéria conclui apenas a existência de uma romantização do suicídio, sem nenhuma seita ou game qualquer.
O Segundo Suicídio – Quirquistão
O assunto voltou a aparecer em 1 de fevereiro de 2017, com o suicídio de um garoto no Quirquistão. Um jornal afirma que a polícia notou o uso frequente de tags como “baleias” “4e20noite” e que participava de um jogo que envolvia realização de tarefas perigosas. A polícia negou tudo e afirmou que nenhuma tag ou jogo foi encontrado no computador do garoto. Mas a notícia havia se espalhado e gerado uma paranoia pública, inclusive fazendo com que a população retirasse o grafite de uma baleia em uma das paredes da cidade.
Rapidamente a lenda urbana se espalhou pela internet, chegando a portais de renome internacional como o I Heart Inteliggence, que juntou a entrevista antiga do Novaya Gazeta com Filipp Budeikin.
O RadioFreeEurope foi menos sensacionalista em sua matéria, em que cita apenas o número de suicídios e não qualquer culto a baleia azul. O próprio jornal desmente casos fantasiosos, como o de um garoto de 19 anos do Cazaquistão que se enforcou e teve sua morte relacionada com jogos on-line, o que foi negado por seu tio. O repórter também menciona que se infiltrou em tais redes para ir atrás desses grupos, mas apenas encontrou adolescentes curiosos e diversas pessoas se passando por curadores para impedir que outras pessoas cometessem suicídio.
No VK, as hashtags do f57 e f58 foram bloqueadas.
O terceiro Suicídio – Rússia
No dia 27 de fevereiro de 2017, o jornal Siberian Times publicou uma matéria sobre Yulia Kostantionova e Veronika Volkova, de 15 e 16 anos.
Segundo a notícia, duas garotas saltaram de um edifício de 14 andares na Sibéria. A lenda começou a ganhar mais força quando foi divulgado que uma das meninas postou uma foto de uma baleia em sua rede social.
Com as notícias, inúmeros grupos denominados “baleia azul” surgiram. A polícia inclusive conversou com alguns “curadores”, que deveriam ser os chefes das seitas. No entanto, o que se observou foi que a maioria dos grupos criados após o boato são apenas simulacros dos supostos grupos originais.
O gráfico representa as buscas pelo termo “baleia azul” em português, inglês e russo. Ele mostra que o termo baleia azul era totalmente desconhecido no período de 2015 e 2016, tanto no Brasil quanto na Rússia. Somente após a publicação da notícia falsa as pesquisas aumentaram. Ao contrário do esperado, esses termos não são tão populares assim na Rússia.
Isso nos aponta que tal jogo, seja como for, provavelmente não existiu, uma vez que, caso existisse, deveria ser muito mais pesquisado e comentado. Por outro lado, tais grupos de idolatria ao suicídio realmente existem. Mas eles são apenas simulacros, em que pessoas assumem o papel de curadores e instruem os integrantes do grupo à autoflagelação. Nota-se que tais grupos estão longe do que é noticiado. São apenas adolescentes que se encontram, assumem papéis, e convivem no grupo como em qualquer outro.
Vale lembrar que, para aqueles que já possuem tendências a comportamentos autodestrutivos, estes grupos podem influenciá-los. Porém, não há nenhum jogo que induza pessoas a se suicidarem em grande escala, como demonstrado.
Guilherme Battisti Borba – 18 anos