Abril azul: entenda por que é difícil o diagnóstico do autismo leve em meninas

Mês é dedicado à conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista

Abril azul: entenda por que é difícil o diagnóstico do autismo leve em meninas

Mês é dedicado à conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista

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Por muitos anos, o autismo foi considerado um transtorno especificamente masculino. Porém, esta condição também pode ser observada em meninas, mas chegar ao diagnóstico nem sempre é simples.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição de saúde caracterizada pelo déficit na comunicação social e no comportamento. O neuropediatra Egon Frantz explica que as meninas têm qualidades e aspectos de comportamento diferentes dos meninos, o que acaba dificultando o diagnóstico.

“As meninas são mais inteligentes, mais sociáveis e geralmente não apresentam um atraso significativo na fala. Também não tem apego a objetos como dinossauros, legos, carrinhos, não tem o hiperfoco como os meninos tem, e isso acaba mascarando o diagnóstico”.

A presidente da Associação de Pais, Profissionais e Amigos dos Autistas de Brusque e Região (AMA Brusque), Guédria Motta, destaca que quando iniciou as leituras e cursos sobre autismo, foi informada que o espectro era muito mais comum em meninos do que em meninas e, exatamente por isso, a cor que representava o transtorno era o azul. Hoje, o símbolo foi atualizado para um grande quebra-cabeça colorido.

“Na época, quando se falava em autismo em meninas, havia relação com o quadro mais severo do espectro, com comunicação e interação social bastante comprometidas e a presença marcante de estereotipias. Hoje já se sabe que não é bem a verdade, e que um tantão de meninas autistas caminham entre nós”, diz. 

Guédria ressalta que muitas meninas autistas passam despercebidas em comportamentos camuflados como timidez. Elas também têm o cognitivo bastante preservado e muito menos dificuldades de comunicação ou01 incidência de estereotipias como nos meninos autistas. 

“Meninas dentro do espectro, em seu quadro mais leve, raramente têm atraso de fala. Podem ser exímias leitoras, perfeccionistas nas tarefas e ter um apreço muito grande às rotinas”.

A presidente da AMA chama atenção para outras características como insegurança, medo desproporcional, dificuldade para fazer amigos, reações mais ou menos sensíveis aos estímulos e seletividade alimentar. “Pode não ser timidez. Pode ser autismo. E a intervenção precoce é tudo o que essas meninas precisam e merecem”, diz.

Por muito tempo a gente quis identificar na menina autista leve, sinais do menino autista leve, sem se dar conta do quão diferente é a influência do espectro entre os sexos”, completa.

Diagnóstico precoce é fundamental para meninos e meninas

O neuropediatra Egon Frantz destaca que o diagnóstico do autismo – tanto em meninas quanto em meninos – em qualquer fase da vida é importante, mas o diagnóstico precoce é fundamental para que a criança consiga desenvolver da melhor forma suas habilidades.

“O diagnóstico é viável até os três anos, mas clinicamente é importante até os dois anos de vida. O padrão ouro é entre um e dois anos. Casos leves de meninos e meninas têm passado despercebidos e isso é um problema”.

De acordo com o médico, 90% das crianças, adolescentes e adultos que recebem o diagnóstico melhoram bastante quando encontram o caminho do entendimento da família, boas terapias, a interação na escola, na faculdade e no trabalho.

Ainda segundo o médico, o autismo é uma condição bastante frequente: afeta uma a cada 54 crianças, por isso, é tão importante ter esse olhar atento aos sinais para perceber e ajudar as crianças o mais rápido possível.

O médico enumera alguns sinais que podem ajudar a identificar o espectro como:

  • bebês extremamente calmos depois que nascem, em que é preciso acordar para mamar, por exemplo, ou então bebês extremamente irritados, que choram muito;
  • não fixação de olhar, que ocorre desde a amamentação;
  • atraso da fala;
  • dificuldade de interação social;
  • seletividade alimentar

“O sinal maior e que pode pode contribuir para o diagnóstico precoce é a não fixação do olhar, depois vem o atraso na fala, que em meninas geralmente não acontece. Com um ano e seis meses, a criança tem que ter um vocabulário de 50 palavras, aos dois anos, esse vocabulário tem que ser de 200 palavras. Existe um mito que cada criança tem seu tempo. Isso é, infelizmente, uma situação que posterga o diagnóstico de autismo”, observa o médico.

O neuropediatra afirma que com o diagnóstico precoce e a associação de terapias, é possível ao autista regredir de nível. “O nível 3 é mais difícil regredir, mas há melhora. O nível 2, bem trabalhado, com diagnóstico precoce, pode atingir a qualidade de nível 1 tranquilo. Já o nível 1 tem uma melhora significativa. Depois de 10, 12 anos, só os pais ou o neuropediatra vão lembrar. Na vida adulta, algumas coisas podem aparecer, mas raramente pode atrapalhar a rotina”.

Desenvolvendo a comunicação

A fonoaudióloga da Tag Klinik, Marta Obeidi Hilbert, observa que a alteração na linguagem é um dos primeiros sinais do transtorno do espectro autista, mas a comunicação humana não se limita somente à fala. “Usamos muitas maneiras para nos comunicar, como expressões, gestos, escrita, sinais”.

Por isso, ela destaca que são amplas as possibilidades de ação fonoaudiológica no tratamento de crianças com autismo.

“Na audiologia, avaliamos e (re)habilitamos questões quantitativas e qualitativas da audição e do equilíbrio, como a hipersensibilidade auditiva, que é o incômodo com sons que às vezes passam despercebidos por outras pessoas. Trabalhamos com situações alimentares e tratamos possíveis origens de quadros comuns de seletividade alimentar, além de linguagem oral, escrita e não verbal”.

De acordo com ela, há diferentes métodos de tratamento fonoaudiológico para TEA, pois dentro do espectro existe uma variedade de condições de cada indivíduo. 

A fonoaudióloga destaca ainda que como é no ambiente escolar que a criança tem suas relações interpessoais mediada pela linguagem, é de extrema importância o contato e a troca entre o profissional e a escola. Além disso, o acompanhamento de uma criança com TEA deve ser feito por uma equipe multidisciplinar.

“Outras habilidades do desenvolvimento podem ser alteradas além da fala e linguagem, necessitando de tratamento com mais de um profissional. Nesses casos, uma equipe multidisciplinar é o ideal, pois é composta por um grupo de profissionais de saúde que trabalham em conjunto a fim de chegar a um objetivo comum. A vantagem é que a criança é vista como um todo e tratada por especialidades, fazendo com que todas as necessidades sejam trabalhadas”.

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