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Academia Catarinense de Letras: agora, sou cronista acadêmico

A partir do começo do século 17, a França se destacou no campo da política, da filosofia e das artes gerais. Não foi por acaso que, já em 1635, o país conheceu a sua Academia de Letras, reunindo seus principais escritores da época, muitos de renome universal. Hoje, é uma das instituições mais antigas da […]

A partir do começo do século 17, a França se destacou no campo da política, da filosofia e das artes gerais. Não foi por acaso que, já em 1635, o país conheceu a sua Academia de Letras, reunindo seus principais escritores da época, muitos de renome universal.

Hoje, é uma das instituições mais antigas da França. Ao longo de sua secular existência, a Academia Francesa de Letras tem exercido enorme influência no campo da literatura ocidental. Prova disso é a nossa Academia Brasileira, criada em julho de 1897, inspirada no modelo francês e que teve Machado de Assis como seu primeiro presidente.

Logo, o ideário acadêmico ganhou força em nosso Estado. Em 1920, graças à liderança e ao trabalho perseverante de José Henrique Boiteux, os catarinenses passaram a contar com a sua Academia de Letras – ACL – hoje, conhecida como a Casa José Boiteux. Nossa já quase centenária Academia tem por finalidade estatutária incentivar a produção literária e congregar os mais destacados escritores de Santa Catarina.

A exemplo da sua congênere brasileira, a ACL é integrada por 40 escritores, escolhidos mediante o voto secreto de seus integrantes, reunidos em assembleia convocada para tal fim. A investidura do novo acadêmico, de caráter perpétuo, levou a opinião pública a se referir aos seus integrantes como “imortais”. Na realidade, o que se pretende é destacar a perpetuidade e a intemporalidade da arte literária universal, cujo patrimônio imaterial e humanístico deve ser cultuado e permanecer vivo através dos tempos.

A nossa Academia de Letras surgiu inovando e recepcionando as novas ideias no campo político e social. Desde sua fundação, admitiu a presença feminina em seus quadros, numa época em que a mulher não tinha direito de votar nem de praticar boa parte dos atos da vida civil, sem autorização do marido, então chefe incontestável da vida familiar. Delminda Silveira e Maura de Senna Pereira, professoras e escritoras, foram as pioneiras acadêmicas da Casa de José Boiteux.

Sediada na capital do Estado, fiel à sua finalidade estatutária e, atualmente, presidida pelo acadêmico Salomão Ribas Júnior, a ACL congrega as figuras mais destacadas da Literatura e da cultura de Santa Catarina. Atualmente, penso que o grande desafio da Entidade é o de continuar cumprindo suas finalidades e de preservar sua rica história, diante da internet, no contexto de uma cultura e de uma literatura cada vez mais virtualizadas.

Já aposentado de minhas funções junto ao Ministério Público de Santa Catarina e das atividades acadêmicas universitárias, sinto-me honrado e gratificado por ter sido eleito para integrar a Academia Catarinense de Letras. O grande número de amigos que enviaram carinhosas mensagens de felicitações pela eleição, me deixaram ainda mais feliz por essa importante conquista. A eles meu sincero agradecimento.

Agradeço, também, ao jornal O Município por ter aberto suas páginas para publicação semanal de minhas crônicas. Tem sido um incentivo e uma oportunidade para possibilitar que minha obra literária seja mais lida e conhecida. Isto, com certeza, foi levado em consideração pelos acadêmicos, no momento da eleição.

Sei que não sou imortal. Afinal, a morte é condição da vida humana. Porém, imorredoura é, sim, minha gratidão a todos os amigos e leitores, com os quais gostaria de compartilhar esse raro momento de alegria.