Luiz Antonello
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Em 2 de dezembro de 2017, o empresário Fabrísio Comandoli despertou no Hospital Azambuja, em Brusque. “Acordei na UTI e vi que perdi a perna esquerda. Vi que estavam me preparando para falar. Eu cheguei para a psicóloga e disse que não precisava me falar muito, pois já tinha percebido”, recorda.
Nove dias antes, por volta do meio-dia de 23 de novembro, Fabrísio pilotava uma motocicleta BMW 800 na rua Florianópolis, na região conhecida como Boa Parada, no bairro Primeiro de Maio. No caminho, um carro HB20 branco, conduzido por um jovem de 20 anos, invadiu a pista contrária e, na curva, bateu de frente com a moto.
O empresário foi levado em estado grave ao Hospital Azambuja, onde ficou por durante 49 dias internado – destes, 16 foram na Unidade de Terapia Intensiva. Já o motorista do carro não sofreu ferimentos.
Nos primeiros dias, Fabrísio ficou em coma induzido. Em outros momentos, a família relata que ele apenas balançava a cabeça para se comunicar. Quando acordou, o empresário percebeu que o membro havia sido amputado, superou o choque e procurou se acalmar.
“Eu falei para a psicóloga que estava tudo certo. Que conheci um cara sem as duas pernas e que andava. Eu disse que iria andar também, e ando até hoje”, relembra, referindo-se a um amigo de Gaspar.
A esposa Elisângela de Lemos Comandoli, 49, relata que ela e os dois filhos estavam preocupados em como iriam contar sobre as sequelas do acidente.
“Não sabíamos como seria a reação dele. Ele resmungou, não falava direito, mas disse ‘antes perder a perna do que ter um câncer’, só isso o que ele disse”, relembra. “Eu aceitei”, completa Fabrísio.
Antes da alta médica
No hospital, Fabrísio passou por hemodiálise em parte dos dias. “Ele fazia um dia sim e um dia não. No acidente, perdeu mais de 4 litros de sangue, era grave, os médicos não sabiam se ele ia escapar. Nisso, o rim parou”, conta Elisângela.
Uma dificuldade foi lidar com a sede, pois não podia beber líquidos durante a internação. “Eu podia tomar só 50ml por dia, eu me lembrei do suco de abacaxi com hortelã que tinha no outro lado. Mas não podia beber”, relembra Fabrísio.
Outro desafio foi lidar com a superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), uma infecção hospitalar. Levou entre cinco e seis dias até a família ter o diagnóstico da bactéria, quando começou a fazer o tratamento com o antibiótico.
Mesmo com as dificuldades, Fabrísio relata ter recebido um bom atendimento no Hospital Azambuja. “Milagre não dá para fazer e eles fazem o máximo. Fui muito bem atendido”, completa.
Fabrísio passou o Natal de 2017 e o Ano Novo no hospital, sem poder se mexer. Após dois meses foi transferido para a casa, quando recebeu alta da hemodiálise. Em uma cama hospitalar, o empresário continuou a recuperação. “Uma perna estava quebrada, a outra não fechava o ponto. No braço esquerdo perdeu os movimentos”, diz Elisângela.
Recuperação
Durante 2018, Fabrísio começou a mexer o corpo, fez fisioterapia e começou a adaptação com a perna mecânica. A família chegou a ir até quatro vezes por semana a Blumenau. “Depois de um ano, quando coloquei a perna mecânica e comecei a andar, só conseguia ficar um minuto em pé. Eu não aguentava, cansava, não tem explicação. Quem faz a nossa preparação são muito calmos”, comenta.
Apenas em 2020 que ele se sentiu recuperado e ressalta que a dificuldade foi fazer o cérebro aceitar o novo membro. “O cara tem que ser bom, ter muita força de vontade, se o cara desistir não vai mais andar. Muita gente não quer colocar a perna porque falam que ‘a perna me pisa’, mas não pisa nada a perna não pisa em ninguém. Tem que ter paciência”, relata.
Atualmente, Fabrísio faz acompanhamento para verificar se está tudo bem com o corpo, com raio x na perna, por exemplo. Durante a noite, Fabrísio até hoje sente a perna que foi amputada, chamado de membro fantasma. “Sinto uma coceira no pé”, exemplifica, com bom humor.
No total, a recuperação aconteceu por dois anos, com muito empenho da família. Apesar dos esforços exaustivos, o empresário relata que enfrentou tudo com positividade e com a certeza que ficaria bem. “Eu continuo igual. Trabalho, passeio e viajo. Sempre aproveitei a minha vida, sempre viajei. É preciso enfrentar”, relata.
Perda da memória
No dia do acidente, o empresário no setor de automóveis e imóveis apenas se lembra do percurso antes de passar a Sociedade Beneficente. Depois disso, não lembra de mais nada.
O empresário havia voltado do litoral, passando por Nova Trento um pouco antes da tragédia. Ele esteve em uma loja no Águas Claras para pegar uma latinha de tinta, que deveria ter colocado no bolso.
No entanto, ao chegar no seu estabelecimento percebeu que estava sem a tinta e decidiu retornar para buscá-la. Foi neste momento que o acidente aconteceu. Comandoli retornava pela avenida Primeiro de Maio, devagar e atrás dos carros, quando o veículo invadiu a pista.
Até hoje, o casal não viu o vídeo do acidente. Segundo Elisângela, em um primeiro laudo mostrou que o motorista desviou de um buraco. Já em um segundo laudo demonstrou que ele pegou o celular antes de invadir a pista contrária.
Em duas rodas
Esse foi o segundo acidente grave sofrido por Fabrísio. O primeiro aconteceu em 2006, quando colidiu de moto com um caminhão em uma rodovia próxima de Maceió (AL). “Eu tinha feito uma promessa e fui até o Nordeste para ajudar. Tinha um valor de um negócio que tinha dado certo e fui doar parte para as famílias”, recorda.
Na época, quebrou as duas pernas, os dois braços, a bacia e o joelho e feriu a cabeça na colisão. Ficou 26 dias internado, sendo 14 na UTI. Ele também perdeu a memória do momento da colisão.
O empresário sempre gostou de pilotar moto. O veículo era usado com frequência, pois ele era piloto de velocross. “Andei e corri a vida inteira de moto, eu e meu filho, nunca tive medo. Sempre tive moto, mas era piloto de pista, motovelocidade. Aí, infelizmente, o acidente aconteceu e foi no trânsito”, aponta
Em 2017, ele voltou a pilotar na cidade, comprou a moto em outubro, um mês antes do acidente. Depois disso, não pôde mais pilotar moto, mas hoje é habilitado para dirigir carros.
Imprudência
Hoje, a família avalia que para lidar com o trânsito é preciso ter consciência e tomar cuidados. “Cada vez vai ser pior. A Terra é a mesma, você viu ela num tamanho, seu pai viu, seu avô viu, ela é igual. Não cresce. Crescemos só nós que estamos aqui, é mais carro, não tem como fazer mais rua. A população cresce, fica cada vez pior o trânsito, não adianta ter pressa”, diz ele.
Elisângela ressalta que Fabrísio é calmo no trânsito. “Sempre fui um bom motorista, nunca me estressei. Mas é muita imprudência. Não pode ter pressa, a imprudência causa o acidente”, continua ele.
Sobre a motocicleta, o empresário comenta que por ser um veículo prático, muitos motociclistas são imprudentes. ”A pessoa já tem uma moto porque ela é mais rápida, aí chega em um local que tá com trânsito horrível, parado, e ela vai costurando. Agoniados, querem chegar rápido”, conta. Sem saber o que vai acontecer lá na frente”, finaliza.
Maio amarelo
O Maio Amarelo é um movimento internacional de conscientização para redução de acidentes de trânsito. O objetivo é uma ação coordenada entre o Poder Público e a sociedade civil com a intenção de se colocar em pauta o tema segurança viária e de mobilizar em torno dessa luta toda a sociedade, envolvendo os mais diversos segmentos: órgãos de governos, empresas, entidades de classe, associações, federações e sociedade civil organizada. É um importante momento para se discutir o tema, engajar-se em ações e propagar o conhecimento, abordando toda a amplitude que a questão do trânsito exige, nas mais diferentes esferas.
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