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Açougueiro: faca na mão, carne na balança

Quando cheguei a Brusque, a cidade ainda tinha as suas vendas e armazéns, que vendiam fiado; padarias, que levavam pães nas casas; sapatarias para conserto de calçados e, também, os açougues. Então, vieram os supermercados que foram engolindo essas casas de comércio de produtos de primeira necessidade. Poucos açougues sobreviveram para atender a uma clientela […]

Quando cheguei a Brusque, a cidade ainda tinha as suas vendas e armazéns, que vendiam fiado; padarias, que levavam pães nas casas; sapatarias para conserto de calçados e, também, os açougues. Então, vieram os supermercados que foram engolindo essas casas de comércio de produtos de primeira necessidade. Poucos açougues sobreviveram para atender a uma clientela mais exigente.

Mas, aquele açougue dos anos 1970 estabelecido na parte da frente da própria residência do dono, já não mais existe. Estou me referindo àquela casa de carnes que, na fachada, tinha uma placa com o desenho de um boi zebu e a inscrição, “Açougue do Pedrão”. Na Tijucas da minha infância, o mais conhecido era o “Açogue Auvorada”, dono da maior freguesia. Os fregueses não se preocupavam com a ortografia. Para eles, quem era bom no manuseio da faca e vendia boa carne podia ser dispensado das regras da melhor gramática.

Aquele açougue tradicional, com uma ou duas portas na frente da casa; um balcão a separar o dono do freguês ou quase sempre freguesa porque o marido precisava trabalhar para pagar a carne de cada dia; um quarto dianteiro e outro traseiro e alguns nacos de carne pendurados num gancho de ferro, que me fazia lembrar dos terríveis instrumentos de tortura da Inquisição; para pesar a carne, uma balança, as mais antigas com duas conchas ensebadas e um conjunto de pesos de ferro, as mais modernas, com uma concha de inox e um visor indicando o peso; esse açougue, o progresso engoliu.

O profissional a que me refiro, que tocava a sua própria casa de carnes sempre de faca na mão; que usava um avental trocado uma vez por semana e sempre manchado de sangue; que cortava e pesava a carne, recebia o dinheiro e devolvia o troco e que, se era um freguês de caderno, pegava o lápis ou a caneta para anotar o valor da compra; que quando tinha telefone, sempre cheio de graxa, ainda atendia às chamadas; esse açougueiro já não existe mais em nossa cidade.

Hoje, se queremos comprar carne vamos ao supermercado. Lá no fundo, rodeado de carnes congeladas, processadas e de embutidos de todos os tipos, ainda está um açougueiro, atrás do balcão envidraçado, guarda-pó e gorro brancos, luvas nas mãos. Neste tempo internetiano, também sabe manejar a faca para o corte preciso da carne a ser pesada numa balança eletrônica que marca décimos de grama. Esse profissional, já não é o dono do açougue. Mas um dos muitos funcionários da moderna e sofisticada máquina de vendas a varejo.

Esta crônica é uma homenagem ao açougueiro, que hoje comemora o seu Dia. Com certeza, de faca mão!