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Agrupamentos catarinenses: o praiano, o serrano e o colono

Nos dois primeiros séculos do descobrimento, Santa Catarina permaneceu a salvo dos favores e olhares da metrópole portuguesa. E quando se passou à colonização oficial, ela foi orientada a partir de gabinetes imperiais, sem qualquer preocupação ou exigência em relação aos colonizadores. Como consequência, o agrupamento catarinense se diferencia, tanto na história quanto no tipo, […]

Nos dois primeiros séculos do descobrimento, Santa Catarina permaneceu a salvo dos favores e olhares da metrópole portuguesa. E quando se passou à colonização oficial, ela foi orientada a partir de gabinetes imperiais, sem qualquer preocupação ou exigência em relação aos colonizadores. Como consequência, o agrupamento catarinense se diferencia, tanto na história quanto no tipo, da sociedade brasileira em geral que produziu o sertanejo (no Norte), o matuto (no centro-Sul) e o gaúcho (no extremo-Sul). Assim, salvo raras exceções, na sua diferença em relação ao resto do país Santa Catarina se classifica em três zonas: a da beira oceânica, a dos campos e a da colonização dos vales.

O praiano
Nas palavras do Prof. Lourival Câmara (em: Estrangeiros em Santa Catarina, separata da Revista de Imigração e Colonização.1940), o praiano revive a sua ancestralidade açoriana, é a reprodução degenerada do açoriano que fracassou no litoral catarinense à época do povoamento. Osvaldo Cabral, por sua vez, dizia que a população praiana vive como outrora viveram as póvoas paternas: sem estímulo, abandonadas, aguardando a mesma primitiva organização, mantendo-se precariamente da pesca diária, da pequena lavoura e da indústria de farinha, esperando do céu favores e desgraças, num fatalismo maometano. A alimentação do praiano era considerada monótona, geralmente à base da farinha de mandioca, deixando consequências sobre a vida orgânica e psíquica do praiano, dando-lhe esse tipo de homem fraco, com peso abaixo do normal, com uma incapacidade crônica para o trabalho e pouca longevidade.

O serrano
Outro tipo da sociedade catarinense é o serrano, revivescência somática do bandeirante, do mameluco, cuja antropogênese é resultante de cruzamentos e recruzamentos do complexo português com o indígena tupi. O fundamento econômico da sociedade serrana foi a pecuária, consequência do latifúndio e do bandeirismo. O meio imprimiu na fisionomia psicológica do serrano o senso da extensão, da liberdade, da grandeza, da riqueza e do sentimento do infinito. A ascendência tupi lhe transfundiu a profundeza dos sentimentos, tanto no ódio como no amor, o cunho hospitaleiro e a característica da mobilidade. A hereditariedade portuguesa lhe agravou, forte, a ambição e o autoritarismo.

O colono
Por fim, para  Câmara, o terceiro tipo da sociedade catarinense é o colono, o descendente do elemento germano, ou eslavo, ou atlanto-mediterrâneo, que demandou o Estado em emigração permanente, localizando-se preferencialmente nas proximidades dos rios Itajaí e Tubarão, disseminando-se, mais tarde, planalto acima. O colono constitui a nota mais dissonante, exótica, do todo populacional catarinense, tanto sob a ótica étnica, quanto psicológica e social. Economicamente, o colono é um tipo padrão. Antropologicamente, porém, não tem nada de típico: na zona de colonização há um conjunto de etnias variadas e com características específicas. Sob a denominação de colono – aquele que emigra para povoar e/ou explorar uma terra estranha -, penetraram em massa o território catarinense diversos europeus. Alguns se fixaram e outros regressaram, mas os alemães, os italianos, os poloneses, os austríacos e os russos revelaram maior capacidade de fixação e imprimiram o cunho de consistência ao nosso organismo econômico. Como consequência, das antigas colônias emergiram municípios que estão entre os mais ricos de Santa Catarina, como Joinville, Blumenau e Brusque.
E assim são os agrupamentos das nossa Bela e Santa Catarina: o praiano, o serrano e o colono, um a um a viver vida divergente, com diferenças físicas e psicológicas, mas todos abençoados por Deus.