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Alemães: a epopeia de uma imigração – A indústria doméstica

Dando sequência à série sobre a imigração alemã, o tema de hoje é a indústria doméstica dos imigrantes nos primeiros anos na Colônia Itajahy-Brusque. As condições impostas pelo isolamento da área colonial do vale do Itajaí-Mirim levaram o camponês a produzir o máximo na sua propriedade e adquirir o mínimo para sua subsistência. Visava, antes […]

Dando sequência à série sobre a imigração alemã, o tema de hoje é a indústria doméstica dos imigrantes nos primeiros anos na Colônia Itajahy-Brusque. As condições impostas pelo isolamento da área colonial do vale do Itajaí-Mirim levaram o camponês a produzir o máximo na sua propriedade e adquirir o mínimo para sua subsistência. Visava, antes de tudo, à poupança que possibilitaria a aquisição de mais terras. As características peculiares das atividades econômicas do regime de pequena propriedade incluíam não apenas a agricultura e criação de animais, mas também uma atividade associada a essas duas: uma pequena indústria doméstica, destinada à transformação da produção agrícola para consumo próprio e para venda.


“Hausindustrie”: A indústria doméstica
O trabalho nos engenhos de açúcar e cachaça, a produção de fubá e farinha de mandioca nas atafonas, a manufatura de charutos, a produção de vinhos, banha, derivados do leite, e de um doce de frutas, pastoso, chamado “Muss” constituíam as principais atividades que rotulamos como “indústria doméstica”. Os colonos denominavam essa atividade como “Landwirtschaftlicheindustrie” – indústria derivada da lavoura – que designa a atividade realizada nos engenhos e atafonas. Sob o rótulo de “Technischeindustrie” designavam as outras ocupações que nada tinham a ver com a produção agrícola ou pecuária: o trabalho nas serrarias, cervejarias e olarias.


“Landwirtschaftlicheindustrie”: engenhos e atafonas
Nem todas as propriedades possuíam engenhos e atafonas. No entanto, a subsistência das famílias dependia da transformação do milho e da mandioca em farinha, e da cana de açúcar em rapadura, açúcar e cachaça. Os engenhos eram movidos por força hidráulica, através do aproveitamento de pequenos cursos d’água represados e de um roda d’água. As atafonas eram movidas por força animal (burros, bois ou cavalos). Embora o colono, em geral, tivesse condições de construir sua casa e os ranchos da propriedade, a construção dos engenhos era feita por um especialista – o carpinteiro – um dos serviços mais bem remunerados da colônia, e nem todos os colonos tinham o dinheiro necessário para contratá-lo. As atafonas e engenhos de fubá e farinha de mandioca eram em maior número, mas ainda assim, uma grande parte das propriedades não os possuíam – e tinham de recorrer a seus vizinhos mais afortunados ou aos vendeiros.


“Technischeindustrie”: indústria técnica
As serrarias, olarias e cervejarias eram as indústrias que os colonos rotulavam de “técnicas”. Estas não faziam parte da atividade doméstica dos colonos, principalmente as serrarias, que pertenciam a comerciantes ou pessoas apenas ligadas ao comércio da madeira. As olarias atendiam às necessidades locais produzindo telhas e tijolos. A produção de cerveja era muito pequena, insuficiente até para o consumo local e dependia de matéria-prima importada da Europa. Até o final do século XIX, havia apenas duas cervejarias, que mais tarde desapareceram. O número de pessoas que se ocupavam desse trabalho e não se dedicavam ao trabalho agrícola era pequeno.

Ou seja, durante os primeiros anos da Colônia Itajahy-Brusque a agricultura era o recurso principal e essencial dos colonos alemães. A produção da propriedade fornecia os meios básicos de consumo dando a família uma relativa independência e, ao grupo, uma relativa estabilidade. Em crise, estariam aptos para manter sua existência a partir do aumento dos seus esforços e diminuição do seu próprio consumo se necessário, algo extremamente importante em virtude do isolamento a que estava submetido o colono. (Fonte: Giralda Seyferth, 1974).