Ambulâncias do Samu estão fora de circulação
Brusque está sem serviço há três semanas; veículo "oficial" parou de funcionar há oito meses
Há três semanas, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Brusque não presta serviços à comunidade em razão da falta de ambulâncias. O veículo Ranger 4×4 utilizado pelos socorristas foi levado à oficina mecânica devido a problemas na suspensão. Com isto, os atendimentos que seriam de responsabilidade do Samu são repassados ao Corpo de Bombeiros ou aos Samus de outros municípios.
A coordenadora do Samu de Brusque, Joce Moraes Romancini, explica que a demora no conserto do automóvel está vinculada a questões burocráticas: a Secretaria de Saúde precisa aprovar o orçamento enviado pela oficina e precisa também liberar a compra das peças utilizadas. Depois, é necessário aguardar a chegada do material para a instalação.
Joce prevê que até o fim desta semana o veículo retorne aos trabalhos. Enquanto isto, os cerca de 200 atendimentos mensais do Samu são repassados ao Corpo de Bombeiros do município ou aos Samus de Itajaí e de Gaspar. Segundo a coordenadora, a maioria dos atendimentos são realizados pelas duas ambulâncias dos bombeiros. Itajaí e Gaspar apenas são acionados nos casos em que os dois veículos já estão em atendimento.
Os funcionários da central do Samu de Blumenau, responsáveis por atender as ligações feitas por moradores de Brusque, Guabiruba e Botuverá, são quem solicitam os veículos. De acordo com Joce, quando o morador ligar para o 192 – número do Samu – a ligação é direcionada à central. Através dela, o médico de plantão verifica a gravidade da solicitação e orienta o encaminhamento do veículo.
“A nossa equipe [cinco socorristas e cinco técnicos em enfermagem] está comparecendo ao trabalho normalmente. Eles cumprem o horário e fazem o serviço na base. Nós não estamos atuando junto com os bombeiros porque nós não temos respaldo para isso. São serviços diferentes. Não temos seguro de vida, por exemplo, para atuar na ambulância deles”, afirma Joce.
Mesmo que o Samu não atenda há três semanas, o chefe do socorro do Corpo de Bombeiros de Brusque, sargento Wanderley de Souza, afirma que as solicitações no local não aumentaram “tanto”. Porém, na última sexta-feira, 10, os números dobraram. Em um plantão de 24 horas, a média é de 15 atendimentos. Naquele dia, saltou para 28 solicitações.
“O pessoal está com dinheiro no bolso e acaba extrapolando. Aquele dia foi anormal. Se o Samu estivesse atendendo, eles teriam nos ajudado na demanda. É um auxílio a mais para a comunidade” diz.
Desinformação
A secretária de Saúde de Brusque, Ivonir Zanatta Webster, a Crespa, afirmou que não sabia que o veículo estava no conserto há três semanas – apenas sabia da manutenção da outra ambulância [conforme informações ao lado]. Segundo ela, como a prefeitura conta com muitos veículos, os servidores estão apurando o total dos que ainda estão nas oficinas mecânicas. Crespa disse também que a administração municipal enviou um ofício ao estado solicitando um novo veículo do Samu.
Ambulância “oficial” está em manutenção há oito meses
O Ranger 4×4 que está na oficina há três semanas não é a única ambulância em manutenção. De acordo com a coordenadora do Samu, o veículo “oficial” – um Transit – está fora de uso há cerca de oito meses.
Joce explica que o motor fundiu e o veículo foi encaminhado a uma oficina que, posteriormente, foi indiciada na Operação Revisão Total – que investiga supostas fraudes nos contratos de oficinas mecânicas com o poder público.
Com o indiciamento, a oficina rebocou a ambulância até o pátio da sede do Corpo de Bombeiros do bairro Águas Claras, onde o Samu atua em anexo. Após isto, o veículo foi encaminhado à outra oficina apenas para aguardar a licitação da prefeitura que escolheria os novos prestadores de serviço. Porém, mesmo com a seleção das três novas oficinas, o veículo foi levado à autorizada da Ford em Itajaí há cerca de um mês.
“A ex-secretária de Saúde [Ana Ludvig] estava tentando conseguir uma ambulância nova já que essa estava com problemas. Mas com esses contratempos, acabaram decidindo enviar a ambulância para a autorizada para arrumar em vez de esperar a nova. Mas ainda não há previsão de quando ficará pronta”, diz Joce.
De acordo com a secretária de Saúde, a prefeitura está esperando o orçamento da autorizada para definir “se vale ou não vale a pena” consertar o veículo. Caso o valor seja alto, a administração não investirá. Ou seja, aguardará o resultado do ofício que solicita um novo veículo.
O veículo oficial
Mesmo com outra ambulância disponível após os problemas mecânicos no Transit, os socorristas e os pacientes enfrentavam outra dificuldade durante os atendimentos: o Ranger 4×4 não apresenta a mesma infraestrutura do Transit. O veículo chegou ao município em 2013 apenas para ser utilizado em catástrofes ambientais.
“O Ministério da Saúde fez um estudo nas cidades do Brasil e verificou que algumas delas precisariam de um veículo potente para se locomover em lugares de difícil acesso. Como Brusque tem muitos morros e quando chove ocorrem desmoronamentos, o Ranger foi enviado para cá. Era para ser apenas para isso, mas com os problemas do Transit, acabamos tendo que nos acostumar com o Ranger”, explica Joce.
Ainda segundo a coordenadora do Samu, a parte interna do Ranger é “muito menor” do que a do Transit, o que acaba dificultando alguns atendimentos, principalmente de pacientes mais altos. “Temos os mesmos materiais nas duas, mas prejudica tanto o paciente quanto a equipe por ser muito pequena. Não é um veículo para ser utilizado no dia a dia” afirma.