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Amigos prestam homenagens a Claudia Bia

Hoje o jornal O Município publica a última edição da coluna (ou croniqueta, como ela preferia) intitulada Claudia Bia, após uma década de publicações interrompidas pela morte dela, em 8 de julho. Desta vez, não há lembranças de músicas e filmes clássicos, análise de premiações de cinema ou comentários sobre RuPaul’s Drag Race. São memórias de amigos e admiradores. Assim […]

Hoje o jornal O Município publica a última edição da coluna (ou croniqueta, como ela preferia) intitulada Claudia Bia, após uma década de publicações interrompidas pela morte dela, em 8 de julho. Desta vez, não há lembranças de músicas e filmes clássicos, análise de premiações de cinema ou comentários sobre RuPaul’s Drag Race. São memórias de amigos e admiradores. Assim como tive o prazer de editar as croniquetas dela por cinco anos (que ousadia! os textos beiravam à perfeição gramatical), pude ler em primeira mão as homenagens. E, garanto, vale a pena mergulhar em recordações tão especiais!

Andrei Paloschi – editor-executivo do jornal O Município


 

R.I.P. CLAUDIA BIA

R.I.P.: Requiescat In Pace (latim), Rest In Peace (inglês), Riposi In Pace (italiano), Descanse em Paz (português). Nos últimos anos, a titular desta coluna utilizava costumeiramente parte desse valioso espaço para homenagear personalidades que iam nos deixando. Acredito que muitos dos leitores desta prestigiada coluna não tiveram o privilégio de conhecer sua autora, Claudia Beatriz Iaragnoit Villela (29/12/1960 a 08/07/2019, 58 anos ou exatos 21.375 dias), Claudia Bia ou Claudinha, como eu sempre a chamei carinhosamente em quase 22 anos de convívio engrandecedor.

Claudinha veio residir em Brusque no início dos anos 80, egressa de Santos/SP, tendo feito sua formação profissional como jornalista em São Paulo, na Fundação Cásper Líbero (Grupo Gazeta), à época reconhecida como a melhor faculdade de meios de comunicação social do Brasil.

Chegou justamente em um momento de grande efervescência musical local e, como ativista cultural desde sempre, participou decisivamente na estruturação de bandas como a Bandeira Federal e na criação edição, redação e diagramação de várias revistas e jornais.

Incentivou e ajudou a divulgar uma infinidade de expressões artísticas nas artes plásticas, literatura, dança e música. Nesse meio, construiu uma reputação ilibada de profundo respeito, tendo conquistado diversos amigos que a admiravam pela sua vasta e eclética cultura. Muitos outros, como eu, também a distinguiam pelo seu caráter incorruptível e índole inconspurcável, pelo seu senso de humor ácido, sua criatividade infinita e incrível capacidade de abstração, trazendo para o mundo real as ideias publicitárias mais malucas de seus clientes, que ela conseguia transformar em materiais genialmente primorosos.

Logo que cheguei em Brusque, Claudinha era minha vizinha no Geschäftshaus, quando a Agência de Publicidade C-5 ainda existia. Ali era meu refúgio de final de expediente, onde literalmente trocávamos ideias e nos engrandecíamos mutuamente. Claudinha sempre teve conceitos muito sólidos, convicções embasadas para quase todos os ramos do conhecimento.

No jornal O Município, teve sua página semanal por mais de uma década ininterruptamente, além de ter feito algumas aparições cobrindo férias do Rodrigo Vechi na coluna social e coordenando iniciativas como o espaço Beltranas e o caderno Like, voltado aos adolescentes. Nós, médicos, usufruímos do talento dela no jornal Saúde & Você, do qual ela era a editora-chefe e jornalista responsável.

Claudinha era agridoce. Ninguém com tanta cultura, sabedoria, criatividade, inteligência e genialidade como ela, poderia deixar de ter uma generosa dose de ironia. Claudinha sempre teve convicções claras, posturas lúcidas muito bem embasadas em argumentos ricos, dignos de uma profunda reflexão. Intransigente e flexível ao mesmo tempo, não abdicava em momento algum de expor suas convicções. Como médico, nunca vi ninguém ser tão pragmaticamente otimista para com a evolução da sua doença. Nossa princesa da resiliência, nossa rainha da resistência.

Amo essa minha amiga com todas as forças do meu coração. Se pudesse doar alguma parte do meu corpo para salvá-la, o faria com imensa honra. Se pudesse doar metade da vida que me resta a ela, doaria. Essa mocinha vai fazer muita falta para seus leitores. E vai levar um pedaço do coração de cada um dos seus seletos amigos!

Foi casada com Luiz, grande camarada e, nas últimas décadas, teve no Juliano um incomparável companheiro de todas as horas. Sua irmã, Patrícia, as sobrinhas Letícia e Luiza, além da sogra Ilda e muitos amigos fiéis, estiveram ao seu lado durante o transcurso de um câncer com prognóstico sombrio de 6 meses, mas contra o qual ela lutou por quase 6 anos. Importante também citar os colegas médicos Dr. Rodrigo, oncologista e Dr. Henrique, radiologista, sempre solícitos e voluntariosos, além das maravilhosas equipes da Unimed Brusque, Hospital Azambuja e Hospital Imigrantes.

Parafraseando Drummond: Vai, Claudinha, vai ser gauche na eternidade… Em outro mundo, outra dimensão, outro patamar acima de nós, como sempre estivestes… Vai fazer falta para familiares, amigos, clientes e leitores. Agora o R.I.P., lamentavelmente, é para ela. Meus rabiscos estão bem longe da qualidade técnica dos primorosos textos que ela redigia, mas ambiciono homenagear dignamente quem merecia um reluzente OBRIGADO em cada página desse jornal, que foi uma extensão da sua casa por tantos anos.

Para nossa saudosa amiga, essa frase cabe como uma luva: Herança é algo que se deixa para alguém, Legado é algo que você deixa em alguém.

Jonas Krischke Sebastiany


Ela me lia e me entendia

Claudia Bia me lia. Carinhos assim eu levo pra vida. Há uns tantos 20 e poucos anos, ela morava no trabalho, lugar onde a conheci. Pensando bem, sempre viveu nela o trabalho. Trabalho de Bia, para Bia, era a Bia.

Em 1995, eu aos 15 anos, menina bonitinha, fui digitalizada por ela em uma fotografia tirada pelo querido Luís. C-5: que toca era aquele lugar? Aqui “na city”, os mais malucos, maneiros e incríveis estavam por lá. Revista Satélite, orbitando nas minhas lembranças. Não sei quantos flashes com ela me escapam da memória desde então. Em tudo o que ela alerta nos meus pensamentos, tudo, Bia ria!

Quando “Beltranas” nasceu, eu pari com ela. Inúmeros textos a gente conversou, alinhou. Eu, geralmente imersa em inseguranças e ela, com a cabeça fora da poeira, me estapeava de gentilezas. Queria o para sempre com Claudinha. E deu certo, ela ecoa em mim. Sou “boba” pela pessoa mágica que ela foi.

“– Biaaa??? Diga lá se está bom. Brabo ou bravo? Devo usar o “tá”, né? Please, mexa no que quiseres no texto, help!!! E me avisa qdo puderes receber visitas <3…
– Acho que vale ir no informal quando o formal ficar muito fora de contexto. De repente umas aspas ajudam a mostrar que o erro é proposital. Ou dá um “kissifoda” para quem for procurar erro e pronto! Ficou muito, muito bom! Ê, dona menina!!! Errinhos vc arruma ou eu arrumo ou as pessoas abstraem. Boba.”

Karline Beber Branco


De perto e de longe CLAUDIA, SEMPRE.

De longe te observava e tu me encantavas. Mulher, que mulher é essa? Tão cheia de ideias, sonhos, alegrias, risadas gostosas, um humor inigualável. Um jeito de ser, de fazer e de emocionar. A vida nos deu de presente o encontro e, depois dele, a minha admiração só aumentou. QUE GRANDE MULHER! Uma Claudia, um aconchego, esperança, amor, afeto, ousadia, cumplicidade, fortaleza e a melhor companhia. Eu sou grata por ter tido a honra de estar contigo em momentos únicos e especiais.

Sonhamos juntas, empreendemos, trocamos figurinhas, fizemos listas, filosofamos e rimos demais de tudo isso e de nós mesmas. Que saudade sinto agora, enquanto escrevo as minhas memórias que também são suas. Foram tantas pizzas de tomate seco e rúcula, que só nós duas gostávamos, hahaha… ok, está tudo bem. A gente fez muita coisa offline, um amigo secreto genial e único, como tudo que envolvia você. Meu presente esteve na sua última árvore de Natal, foi lindo! Você deixava tudo especial, mágico.

Claudinha era só amor, quando eu dizia que a amava, ela respondia: você é 100% fofura. Logo ela, que tinha a inocência e espírito de uma criança. Claudinha veio para nos ensinar, disso tenho certeza. Enfrentou um turbilhão e continuou doce.

Amou, foi amada, e sempre será muito amada. O que ela mais fazia era unir/reunir pessoas, mesmo sem programar, acontecia. E hoje ela ainda o faz, e continuará fazendo. Porque seus amigos, para sempre serão. Nós, continuaremos a brindar com doses de Cointreau. Um brinde a você!

Então seguimos, ao som de Heroes do David Bowie, a música preferida.
“We can be heroes just for one day
And you, you will be Queen”
Claudia é texto que não se escreve:se sente. <3

Com amor e gratidão,
Lia Sabino


 

Amor por Claudia Bia

A Claudia Bia me conheceu quando eu era uma criança. Eu corria atrás dela querendo uma aliança. O anel nunca chegou. Mas o amor se aconchegou.

O meio, eu não vou contar, pois há muito para falar.

Dá música ao tarô, ela muito me tocou.

Sem rimas e poesia, quero contar um desses dias que acordei cedo para a tal da quimioterapia. Com pressa coloquei uma camiseta de folia. Estava frio e coloquei um moletom bonito.

Durante o tratamento, a minha querida oscilava entre calafrios e calores, e eu reclamei: Que calor faz aqui! Ela falou: Tira o moletom. Eu mostrei a camisa furada e fiquei envergonhada.

Ela, na tortura do tratamento, levantou o cobertor e o seu casado de inverno e mostrou sua camiseta também puída. E falou: “Uma vez punk, sempre punk”.

Neste dia, firmei todos os meus princípios que aprendi com ela e com meu pai.

Nosso amor é infinito, assim como toda a infantilidade que o mundo tem a graça de nos apresentar. Estamos juntos, minha irmã, mentora e bruxinha, para todo o sempre, Claudia Bia!

Gi Hellmann


 

Uma fã quase anônima

Claudia Bia? Não a conheci pessoalmente. O mais próximo que cheguei dela foi em um fim tarde de sábado na avenida Otto Renaux enquanto ela passeava com Nicki. Eu passei correndo e a reconheci com seu famosos óculos e o lenço na cabeça, a chamei pelo nome e falei de nosso amigo em comum, ela simpaticamente reconheceu o amigo compartilhado e ficou sorrindo olhando eu me afastar.

Mas a identificação e a minha admiração surgiram de primeira e nem eu sei dizer o porquê. Acho que em grande parte pelas histórias contadas por esse nosso amigo, que sempre que podia falava da sua competência e do seu senso de humor, mas ao ler regularmente suas páginas no jornal percebi que nosso gosto musical era muito semelhante e sua narrativa sempre me atraía.

E depois da descoberta da sua doença eu me identificava muito com seu jeito de escrever e postar nas redes sociais, sempre com humor pontual e com o uso preciso das palavras. Fã mesmo. Dizia isso sempre para esse nosso amigo que dizia que seria a ponte para nosso encontro.

Mesmo sem nunca termos conversado, em dezembro de 2018, após ler no jornal a coluna Beltranas, onde todas davam dicas do que fazer antes de morrer (Claudia oferecia sábias 68 dicas), eu não resisti e entrei em contato com ela pelo WhatsApp. Me apresentei e falei desse nosso amigo em comum, agradeci sua clareza e a insistência em não desistir de convencer as pessoas em fazer a vida valer a pena (nestes tempos de lábios preenchidos e cabeças vazias, ler as palavras da Claudia foi com um bálsamo).

Ela agradeceu muito o elogio e num dado momento ela falou de Deus e de seu senso humor, ressaltou que com certeza ele é bem humorado (eu nunca tinha pensado Deus assim). Bom humor… era exatamente isso que eu encontrava na sua escrita, resiliente ao melhor estilo rock and roll de ser. Sabia usar dignamente a ferramenta de comunicação que tinha em suas mãos. Claudia Bia foi uma daquelas pessoas que sabia que o mais inteligente era a sabedoria.

Regina Ribeiro


 

Entre tramas

Às segundas-feiras, pela manhã bem cedinho, era dia de ligar/abrir o computador e nele escrever o texto para as Beltranas, coluna das quartas-feiras que tinha como mentora a nossa Claudia Bia. Desde o meu último texto e a sua despedida, esse hábito foi interrompido abruptamente e o computador desligado. Hoje escrevo novamente, provocada por lembranças, saudades e agradecimentos.

Sobre lembranças, em dezembro de 2018 realizei um bazar, com minhas peças de cerâmica, em casa mesmo. Era um sábado quente, ensolarado, as trepadeiras todas floridas e o bazar ocupando toda a garagem de casa. Ouço risos, e lá vem elas, Lia e Claudia! Não faltaram brincadeiras, boas gargalhadas, conversas soltas e troca de presentes, de uma para outra. Um desses presentes, que Lia lhe deu, foi uma floreira com renda, técnica na qual imprimo na argila ainda úmida toalhas de crochê. Surpresa com o resultado e efeito causados na peça, ela, a Claudia medisse:

– Vou lhe dar umas toalhas que tenho em minha casa.

O tempo passou…

Desde sua partida, um vazio intelectual se fez.

Na noite do dia 31/07, quarta-feira, a mesma Lia, que aqui esteve no bazar, chegou em minha casa, desta vez sem a Claudia fisicamente, mas com as toalhinhas de crochê em suas mãos. Uma olhou para a outra e um silêncio se fez. Senti o coração acelerar, pois logo percebi que a Claudia estava presente novamente e minhas cerâmicas, muitas histórias para contar. Estou aqui, escrevendo com as toalhas ao meu lado…

Lembranças tecidas em rendas, saudades e amizade construída ponto a ponto, e o significado da frase de Christopher McClandess, personagem da história real vivida por Emile Hirsch, do livro e filme Into The Wild (Natureza Selvagem), “A felicidade só é verdadeira quando compartilhada”. E isso a nossa Claudia Bia fez como ninguém!

Claudia Bia, sempre presente!

Vania Gevaerd