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Amor à casa comum

Do dia 26 a 29 de setembro do corrente ano, o Papa Francisco fez sua viagem apostólica ao Principado de Luxemburgo e à Bélgica. Um dos motivos foi a celebração dos 600 anos da fundação da Universidade Católica de Louvaina, Bélgica. Lá, encontrou-se com os estudantes da Universidade. E, fez um discurso para os estudantes. […]

Do dia 26 a 29 de setembro do corrente ano, o Papa Francisco fez sua viagem apostólica ao Principado de Luxemburgo e à Bélgica. Um dos motivos foi a celebração dos 600 anos da fundação da Universidade Católica de Louvaina, Bélgica. Lá, encontrou-se com os estudantes da Universidade. E, fez um discurso para os estudantes. Nele, abordou, sobretudo o tema da ecologia integral. Para sua abordagem, serviu-se de três palavras chaves: gratidão, missão e fidelidade. Reputei a reflexão bastante oportuna, na situação brasileira no momento, e vou compartilhá-la com os leitores.

Com este estilo simples e direto, próprio da Papa Francisco, assim reflete a respeito do relacionamento de cada um com a Criação, nossa Casa Comum. “A primeira atitude é a gratidão, porque esta casa foi-nos dada: não somos donos, somos hóspedes e peregrinos sobre a terra. O primeiro a tratar dela é Deus. Nós, antes de mais, somos alvo dos cuidados de Deus, que criou a terra – diz Isaías – ‘não como uma região caótica, mas pronta para ser habitada’ (cf. Is 45, 18). O salmo oitavo está repleto de gratidão maravilhada: ‘Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos, / a Lua e as estrelas que Tu criaste: / que é o homem para te lembrares dele, / o filho do homem para com ele te preocupares? ’ (Sl 8, 4-5). A oração que me brota do coração é: Obrigado, ó Pai, pelo céu estrelado e pela vida no Universo!

A segunda atitude é a missão. Estamos no mundo para preservar a sua beleza e cultivá-la a bem de todos, especialmente da posteridade, dos vindouros. Este é o “programa ecológico” da Igreja. Porém, nenhum projeto de desenvolvimento será bem-sucedido se a arrogância, a violência e a rivalidade permanecerem nas nossas consciências e também na nossa sociedade. Temos de ir à fonte do problema, que é o coração humano. É também do coração do homem que vem a urgência dramática da questão ecológica: da indiferença arrogante dos poderosos, que colocam sempre os interesses económicos acima de tudo, ou seja, o dinheiro. Lembro-me de algo que a minha avó sempre me dizia: ‘Sê vigilante na vida, pois o diabo entra pelos bolsos’. O interesse econômico. Enquanto assim for, todos os apelos serão silenciados ou serão acolhidos apenas na medida em que forem convenientes para o funcionamento do mercado. Esta “espiritualidade”, digamo-lo assim, de mercado. E enquanto o mercado estiver em primeiro lugar, a nossa casa comum sofrerá injustiças. A beleza da dádiva reclama a nossa responsabilidade: somos hóspedes, não tiranos. A este respeito, queridos estudantes, encarai a cultura como o cultivo do mundo e não apenas como cultivo de ideias.

Eis aqui o desafio do desenvolvimento integral, que exige a terceira atitude: a fidelidade. Fidelidade a Deus e fidelidade ao homem. Na verdade, este desenvolvimento diz respeito a todas as pessoas em todos os aspectos da sua vida: físico, moral, cultural, sociopolítico; e opõe-se a qualquer forma de opressão e de descarte. A Igreja denuncia estes abusos, empenhando-se, antes de mais, na conversão de cada um dos seus membros, de nós próprios, à justiça e à verdade. Neste sentido, o desenvolvimento integral apela à nossa santidade: é vocação para uma vida justa e feliz, para todos.

Agora, a opção a fazer está, pois, entre manipular a natureza ou cultivá-la. Assim é a opção: manipulo a natureza ou a cultivo. A começar pela nossa natureza humana – pensemos na eugenia, nos organismos cibernéticos, na inteligência artificial. A opção entre manipular ou cultivar diz também respeito ao nosso mundo interior. ”
(CFr. ACIdigital, 29 de setembro de 2024).