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Ampliação do canal de acesso aos portos de Itajaí e Navegantes é obra prioritária para garantir competitividade

Portonave aumenta cais para receber navios maiores enquanto depende da Autoridade Portuária de Itajaí para ampliação do canal

O complexo portuário de Itajaí-Navegantes é um dos mais relevantes eixos de ligação entre as indústrias catarinenses e o mundo. A necessidade de eficiência da gestão portuária é uma demanda recorrente do setor industrial, que pede menos burocracia nas operações e mais capacidade para gerir a demanda econômica. A ampliação do canal de acesso aos portos é considerada uma obra prioritária.

Itajaí e Navegantes dividem o mesmo complexo portuário, mas as operações dos portos das duas cidades não têm relação direta. Em Itajaí, a empresa detentora da concessão para operar no porto é a JBS. Em Navegantes, a administração é da Portonave.

No primeiro semestre de 2023, ocorreu a paralisação das atividades do porto de Itajaí, após a APM Terminals anunciar o fim das operações. Passado um ano e meio sem movimentação, novo edital para concessão temporária foi elaborado. A Mada Araújo venceu o processo e transferiu as operações para a JBS.

Em meio à paralisação, o escoamento da produção se concentrou em outros portos, como Navegantes. O economista Egídio Martorano, presidente da Câmara de Transporte e Logística da Fiesc, afirma que os prejuízos são difíceis de calcular.

“Tivemos impactos muito relevantes com a paralisação do porto de Itajaí. Em razão da paralisação e de outros fatores, houve um direcionamento das cargas para outros portos. Isso gerou custos de armazenagem para as empresas, além do custo do frete adicional. Afetou toda a cadeia”, explica.

Proximidade estratégica

A proximidade entre empresas que estão em Brusque e os portos de Navegantes e Itajaí é uma vantagem estratégica. Rafael Potrich, gerente de produtos do segmento de cloro e derivados para América Latina da multinacional Brenntag, destaca que, no caso deles, a operação fica mais eficiente.

A Brenntag importa produtos químicos, incluindo matérias-primas para produção. A empresa exporta os materiais acabados de produção própria, destinados principalmente à indústria têxtil. Segundo Rafael, a Brenntag exporta para vários países, mas destaca Argentina e Uruguai como principais destinos dos produtos.

Contêineres no porto de Navegantes. Foto: Bruno da Silva/O Município

A ausência de operações do porto de Itajaí durante um ano e meio afetou a multinacional em termos logísticos. Com a paralisação, as produções foram concentradas em Navegantes e Itapoá, no Norte do estado.

O porto de Itapoá está localizado a 160 quilômetros do porto de Itajaí, levando em consideração o trajeto pela BR-101. Entretanto, para a Brenntag, a eficiência do porto do Norte, que fica perto de Joinville, compensou a distância.

O gerente de produtos da multinacional afirma que a retomada do porto de Itajaí gera boa expectativa por, novamente, se tornar mais uma opção para escoamento da produção. Além disso, Rafael considera que há entusiasmo pela modernização das operações portuárias, o que, segundo ele, é uma necessidade.

“Com uma operação portuária eficiente, seremos competitivos em termos de custos dos nossos produtos. Várias coisas poderiam melhorar, como burocracia, tempo de operação dos portos e frequência de navios com rotas internacionais, em que há limitação”.

Conforme o economista Egídio Martorano, a ausência das atividades do porto itajaiense gerou impactos na arrecadação de tributos federais. O contrato da JBS é referente a um arrendamento transitório de dois anos. Um novo edital para concessão plena deve ser lançado em 2025, referente aos 35 anos seguintes.

Porto de Itajaí após retomada das atividades. Foto: Altamiro Rosa/Alta Vídeos

Egídio afirma que a expectativa com a retomada das atividades são boas já que a JBS é “grande movimentadora de cargas”. Para o economista, a abertura do canal de acesso ao complexo portuário de Itajaí-Navegantes é uma obra emergencial.

A abertura do canal vai permitir que os portos recebam navios de até 400 metros. Atualmente, o complexo tem capacidade para navios de até 350 metros. A obra depende da Autoridade Portuária de Itajaí, autarquia municipal sob domínio do Ministério de Portos e Aeroportos.

“Temos grandes preocupações quanto ao futuro do complexo portuário, em razão da necessidade de adequação do canal de acesso aos navios de até 400 metros. Esse investimento tem que ser realizado urgentemente”, comenta.

Comércio exterior

Enquanto depende de fatores externos para ampliar o canal de acesso, a Portonave adapta o espaço que administra. Em janeiro de 2024, foi dado início à obra do cais do porto de Navegantes. Trata-se de um investimento privado de R$ 1 bilhão, que vai garantir o recebimento dos navios de 400 metros.

Com a conclusão da obra, prevista para dezembro de 2025, está no planejamento da administradora a instalação de portêineres maiores, que são os guindastes para movimentação de contêineres. A ampliação acontece por etapas, enquanto as operações no cais são mantidas.

Conforme dados da Portonave, referentes a janeiro a abril de 2024, plásticos e derivados lideram o ranking de importações, que são as cargas recebidas, sendo 18%, no porto de Navegantes. Em seguida, aparece setor têxtil e maquinário, que representam 11% cada.

Quanto às exportações, há uma significativa quantidade de cargas de madeiras e derivados que saem do porto. Os números são equivalentes a 41% do total de cargas exportadas. Carnes congeladas são 35%, e derivados de papel, 8%.

China e Estados Unidos, respectivamente, são os principais destinos e origens das exportações e importações do porto de Navegantes. O México vem em terceiro no ranking das exportações, enquanto a Índia ocupa a mesma posição no ranking das importações.

Área em que está localizada Portonave, às margens do rio Itajaí-Açu. Foto: Portonave/Divulgação

Ricardo Freire, gerente de Compras da Zen, que exporta para mais de 60 países, afirma que a eficiência dos portos da região é boa e está reduzindo o tempo de entrega. No entanto, reforça a necessidade de mais investimentos.

Ele avalia que a procura do setor industrial é maior do que a capacidade dos portos em atender as demandas. A empresa enfrenta problemas relacionados ao porto de Navegantes, em razão das reformas. Além disso, no ano passado, por causa das chuvas intensas, várias mercadorias foram enviadas para Imbituba, o que prejudicou a empresa.

“Desde então, melhorou, mas novamente isso aconteceu durante o mês de agosto. Já estamos atentos, porque o frete é mais longe, as alíquotas dos portos são diferentes. Ficamos à mercê dos armadores dos navios e trabalhamos para mitigar impactos”.

“Engrenagem” de portos e rodovias

Para indústrias que dependem do comércio internacional, a proximidade com portos pode facilitar a logística. Nas margens da BR-101 em Navegantes, Itajaí e outros municípios do Litoral, há várias indústrias. Rodovias e portos funcionam como uma engrenagem, pois as indústrias dependem de ambos.

O gerente comercial da Portonave, Alesandro Zen, relata que, no início das operações, a empresa investiu R$ 15 milhões para construção de uma estrada para facilitar o acesso das cargas ao porto. No final de 2010, foi inaugurada a avenida portuária Vicente Coelho.

“A grande movimentação das mercadorias das indústrias passa pelos portos”, afirma. “A logística do comércio internacional é algo muito forte na região. É um movimento positivo, um ciclo virtuoso. A proximidade de estruturas é um grande diferencial”, completa.

A avenida construída com investimento da Portonave tem o papel de ligar o porto de Navegantes à BR-470, rodovia que também tem ligação com a BR-101, esta que está a 9 quilômetros de distância do porto de Navegantes.

Antes da construção da avenida portuária, o transporte das cargas passava pelas ruas Itajaí e Anibal Gaya, ambas de pista simples. Já a avenida conta com três pistas sentido ao porto.

“Quando iniciou as atividades, a Portonave construiu uma avenida privada e doou ao governo sabendo do impacto da relação entre porto e cidade”, explica. “Hoje, já temos uma grande dificuldade com BR-470 e BR-101. Isso torna mais difícil o acesso da nossa indústria ao mercado internacional”, pontua.

Alesandro comenta ainda que, em média, 2 mil veículos acessam o porto de Navegantes diariamente, com picos de 3 mil. Detalha que as melhorias nas estruturas de portos precisam ser acompanhadas por investimentos nos acessos terrestres para que o eixo do comércio exterior funcione.

Acesso de caminhões ao porto de Navegantes é pela avenida portuária. Foto: Bruno da Silva/O Município

A reportagem de O Município contatou o Ministério de Portos e Aeroportos, na tentativa de buscar manifestação referente à retomada das operações do porto de Itajaí. Inicialmente, a assessoria informou que responderia aos questionamentos, mas não retornou até o fechamento desta reportagem.

A Autoridade Portuária de Itajaí também foi procurada, via assessoria, para se manifestar. Entretanto, em razão do período eleitoral, o superintendente do porto de Itajaí, Fabio da Veiga, não pôde conceder entrevista. A JBS, concessionária do porto itajaiense, não respondeu ao pedido de O Município por entrevista.


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