Ana Maria, amor à primeira vista
Há pouco tempo trabalhando como promotor público, na então longínqua comarca de Palmitos, fui convidado para os festejos do cinquentenário de fundação de Chapecó, em 25 de agosto de 1967, que já despontava como a “Capital do Oeste Catarinense”. Entre outros eventos, um baile foi realizado para comemorar aquela histórica data, tão importante para o povo chapecoense.
Estava numa mesa com autoridades da justiça estadual, juízes e promotores da região, quando uma morena me chamou a atenção, pela beleza e elegância. Estava dançando em meio aos muitos pares que lotavam o salão do Clube Chapecoense. O dia amanheceu, o baile acabou e não consegui dançar com aquela morena, que havia sacudido o meu jovem coração, ainda à procura da mulher da minha vida.
No mês de outubro, voltei a Chapecó para curtir um final de semana. Na tarde dançante daquele domingo, no mesmo Clube, lá estava ela, novamente dançando. Perguntei aos amigos de mesa quem era aquela morena. Fiquei sabendo que se chamava Ana Maria. Então, me enchi de entusiasmo e, como se dizia àquela época, fui tirá-la para dançar. Mesmo dançando fora do ritmo, a conversa fluiu sobre o meu trabalho de promotor público e professor, em Palmitos e sobre seus estudos no Curso Normal.
Ao final daquela inesquecível tarde dançante, já pelas 8 da noite, a pé porque ainda não tinha automóvel, fui levá-la em casa, sem caminhar de mãos dadas, já que o costume da época era assim mesmo. Sem o consentimento do pai, nada de mãos dadas. Beijos e abraços só depois e às escondidas, na porta ou na sala da casa da namorada. Era assim e era bom. Foi o começo de um namoro aos finais de semana, em Chapecó.
Cada sexta-feira era esperada com aquela ansiedade causada pela paixão juvenil. No começo, as viagens eram de ônibus ou de carona com amigos, até comprar o meu primeiro Fusca, já em fevereiro de 1968. Em outubro, fui estudar na França e nosso namoro passou por uma verdadeira prova de fogo. Cada semana, era aquele olhar angustiante, de manhã e de tarde, na caixa do correio, à espera de uma carta com as notícias de Chapecó. Mas, principalmente, com as juras de amor e da saudade, que não era pouca.
Depois de um ano, voltei à comarca de Palmitos e o namoro se transformou em noivado, que durou apenas cinco meses, até o casamento em janeiro de 1971. Fui trabalhar em Joaçaba e, já no final daquele ano, assumi a Promotoria de Brusque, onde trabalhei até a aposentadoria. Aqui, constituímos nossa família e vivemos nossa relação conjugal, que sempre me fez muito bem e que continua a me proporcionar a felicidade que podemos alcançar, nesta vida de vitórias e derrotas, de tristezas e alegrias.
Hoje, 52 anos depois, Chapecó já centenária, estou convencido de que, naquela noite, quando vi Ana Maria no baile, aconteceu o que se costuma dizer “amor à primeira vista”. Foi um olhar rápido, até fugaz que me levou ao casamento, a melhor coisa que poderia ter acontecido em minha vida.
Escrevo esta crônica como prova do amor que ainda dedico à minha querida Ana Maria, neste dia em que ela completa mais um aniversário.