#8 Intimidades: Miriam Bittencourt Melo fala sobre herança de mãe para os filhos
“O futuro dos filhos depende muito dos pais. É dentro do lar que você constrói pessoas firmes, fortes e decididas. E também é dentro do lar que você constrói pessoas sem objetivos, fracassadas e sem ambições”, garante a empresária.
André Groh: Sua família sempre foi do segmento têxtil?
Miriam Bittencourt Melo: Não, minha família é do comércio. Meus pais tinham mercado e transportadora em Nova Trento. Já eu sonhava em ser empresária, mas não sabia em que segmento. Eu trabalhava no mercado, e pensava que poderia ser mais legal ir para um escritório do que ficar no caixa. Sempre tiveram muitas confecções em Brusque e isso me influenciou. Eu e uma amiga começamos a brincar de fazer roupa em cima de um posto de gasolina, numa área de 15 m² há 25 anos. Um primo presenteou com uma mesa, e começamos a fazer roupas.
Quando criança tinha essa relação com moda?
É muito engraçado porque meu talento era criativo. Mas nunca me liguei. Pintava quadro, tela, pano de louça, porcelana e fazia minha roupa. Gostava de moda, mas nunca fiquei atenta a isso.
Essa relação com arte nasceu contigo?
Acho que nasceu. Depois passei a observar o Hian, meu filho, que escreve, canta e toca. Comecei a analisar minha família e vi que eles também têm alguns dotes artísticos. Acho que tem influência da genética. Quando você tem um proposito muito claro, dá tudo certo. E descobri que meu talento é criativo depois que comecei a empreender.
Em que momento?
Depois de muitos anos que dei este giro. Eu amo estar no desenvolvimento de produto e marketing. Fugi do meu talento para estudar ciências contábeis, mas não era meu dom.
Como era a Miriam criança?
Eu fui me descobrindo e percebendo que sempre fui muito dominante. A menina sempre foi muito ativa e muito obcecada por seus sonhos. Tudo o que eu queria, dizia que algum dia conseguiria. Desde jovem eu falava que queria ter uma empresa, e ser uma empresária de sucesso. Sou como um trator. Hoje eu planejo, mas no passado só ia no fluxo. Quando comecei a Dimy, eu não tinha nada, só tinha um sonho de ser empresária. Hoje descobri que meu proposito não é só criar roupa.
Como foi a infância em Nova Trento?
‘Como numa cidade com 14 mil habitantes, uma mulher cria uma empresa de moda e é reconhecida nacionalmente?’ – me disse uma pessoa. Nem eu nunca me dei conta. Pra mim cidade nunca foi limite. Se precisar eu contrato equipe de qualquer lugar. Mas prefiro desenvolver quem já está com a gente. Sou filha de italianos, e desde muito cedo tivemos que trabalhar muito, cheios de crenças sobre o trabalho. Com 9 anos de idade estava no mercado dos meus pais empacotando compras. Trabalhar é com a gente, não tem tempo ruim. Tenho cinco irmãos, sou a caçula e tínhamos uma relação legal, mas conturbada, porque na época de mercado, ninguém queria ficar no caixa, e lá ia eu.
Quem era sua mãe?
Minha mãe era costureira, Doralice. Era muito famosa. Quando eu era criança, ela comprou uma overlock e disse: ‘ah, quem sabe a Miriam precise algum dia desta máquina’. Já era um sinal.
Que memória você tem?
O que talvez tenha me despertado pra moda, era porque quando jovem, comprava roupa escondida. Minha mãe não gostava muito. E eu falava que algum dia iria poder ter a roupa que quiser, e as melhores marcas. E hoje tenho uma empresa de moda.
A sua mãe foi uma influência?
Eu a via costurar, mas acho que não. Ela costurava para a família e os filhos. Mas ela foi uma inspiração, muito trabalhadora e dedicada por seus objetivos. Quando ela era jovem foi até Imbuia – SC fazer um curso de corte e costura. A moda ficava em segundo plano, porque na verdade ela é empresária, e estava a frente do supermercado. Já meu pai tinha caminhão e viajava. Enquanto a mãe cuidava da família e do mercado.
Quais desafios você identificou enquanto empresária?
O que me ajuda muito é a conexão. Na empresa temos alguns valores, e um deles é ‘cultivar a essência divina do seu coração’. É importante porque vejo que na minha caminhada, uma das coisas mais importantes foi conectar minha essência comigo mesma, através de um olhar interno. Essa lapidação deste diamante é um processo diário, continuo e eterno. O dia que não consigo me preparar para estar na minha batalha, me sinto mais frágil. Tem alguns momentos que estamos mais vulneráveis, mas não somos vulneráveis. Dentro da gente temos uma fortaleza de coragem e força. Eu sempre fui apaixonada por descobertas e pela evolução do ser humano. Quando estou em casa, tenho minha melhor versão de mãe. Na empresa, tenho a melhor versão como empresária.
E como é essa melhor versão de mãe?
Quando estou na frente dos meus filhos, eu tenho que ser a melhor versão de mãe. Isso é um desafio diário. Tem momentos que você não é a melhor versão, porque não está no ‘eu essência’. Está no ‘eu habitual’. A ‘Miriam habitual’ tem vícios emocionais, trazidos da infância e juventude. Esses vícios que voltam às vezes, sabe. Até domingo estava lembrando de ‘orar e vigiar’. Você precisa buscar isso.
Se eu perguntar para o Hian ou Yasmine, o que eles poderiam responder sobre essa melhor versão de mãe?
Responderiam que mãe é amiga, companheira e a pessoa que podem contar todas as horas. E se perguntar pra mim, eu diria que eles são meus grandes mestres e professores. Eles me ajudam a trabalhar melhor todas as minhas fragilidades que nunca trabalhei antes. Nossos filhos são nossos melhores mestres, aprendo muito todos os dias.
Como a Yasmine chegou até a Dimy?
Desde os 9 anos a Yasmine falava que quando crescesse queria ser igual a mãe. Ela tinha o sonho de ser criadora. Com 11 anos, eu não consegui mais enrolar ela e contratei uma styling de São Paulo para nos assessorar. A gente começou a criar a Dimy Candy. Todo o tema da coleção era o momento que a Yasmine estava vivendo quando criança. No primeiro tema, ela estava estudando o planeta solar na escola. E fizemos uma coleção com a cabeça na lua. Nem íamos lançar, mas nos apaixonamos e seguimos. Toda a coleção era uma história que ela estava vivendo.
Que tom a Yasmine deu pra marca?
Um tom muito importante. Ela não criava roupa, mas criava a narrativa da coleção. Com 14 anos ela ia uma vez por semana na empresa. Hoje, com 15, ela estuda no Colégio São Luiz e não consegue mais ir tanto, porque acorda muito cedo e estuda o dia inteiro. Mas ela participa ainda da narrativa das coleções, mas não com o estilo, agora está focada no colégio. O objetivo dela é ser minha sucessora no futuro.
Se sentiu surpreendida?
A Yasmine me surpreendeu. Senti muito orgulho quando ela me disse, com 9 anos, que se espelha em mim. Todas as amigas queriam ser alguma atriz, e minha filha queria ser eu. Eu inspiro meus filhos também a serem as melhores versões deles.
O Hian também esteve na marca?
O Hian trouxe um frescor jovem pra empresa. Ele nos abriu a mente para muitas inovações. Mas hoje ele se dedica a música, quer seguir carreira e leva o nome artístico de ‘Pithman’.
O que espera dos seus filhos?
Eles precisam viver o propósito deles. As portas sempre estarão abertas. Vamos apoiá-los para ser quem quiserem. Tem os desafios, as dificuldades, mas estamos aqui de braços abertos e torcendo por eles. É muito importante que todos os pais deixem seus filhos serem quem quiser.
Como se sente em relação a tudo isso?
Muito realizada. Amo extremamente o que faço. E quero palestrar para inspirar jovens, que muitas vezes não sabem qual caminho seguir. Estou escrevendo uma autobiografia que já está em fase final, e quero que as pessoas encontrem em si sua melhor versão.
Como se chamará seu livro?
Não tem título, vai ser a última coisa. Já está escrito e corrigido. Mas acho que ele terá o momento certo de ser lançado. Cada dia eu percebo que tem uma nova parte que precisa estar lá. Sou uma pessoa muito constante. Mas daqui a pouco tenho que finalizar, eu mudo muito. Tenho que tomar como meta, porque senão ele nunca vai ter fim.
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