André Groh – Como a Pandemia mudou a forma das pessoas enxergarem a necessidade de fazer atividade física?
Toninho Fantini – A Pandemia está sendo um desafio para todo mundo, mas ela está ensinando muitas coisas. Muita gente que se exercitava e achava que aquilo era uma obrigação, um sacrifício, está vendo que é uma necessidade de o corpo estar em movimento e se habituar a todos os dias se movimentar um pouco. Quando falo em se movimentar, me refiro a exercício físico, porque uma dona de casa que lava, passa, varre, faz uma atividade física, mas na academia, é um processo diferente, há uma orientação e supervisão dos exercícios físicos. E muitas pessoas que frequentam a academia, perceberam com a pandemia, que estar parado não lhes fazia bem e passaram a enxergar o exercício físico de outra forma. O que é excelente, porque hoje não faltam lugares para as pessoas se exercitarem, o que é muito bom.
AG – De onde vêm tuas referências para criar o método de trabalhar com grupos?
TF – Desde criança eu sempre pratiquei atividades coletivas como futebol, vôlei, basquete e o futebol era minha grande paixão. Gostava muito de treinar em grupo e da parceria e cooperação nos treinamentos. Com o passar dos anos, o exercício físico sempre fez parte da minha vida e quando me formei e comecei a trabalhar como profissional de educação física, eu quis trazer essa ideia de equipe, do treinamento coletivo para pessoas comuns, não atletas. Tem um centro de treinamento americano que trabalha com atletas de alto rendimento, que serviu de inspiração para tentar trazer esse trabalho que se aplica aos atletas, um trabalho mais metabólico, de condicionamento global, para pessoas comuns, para que elas possam obter uma performance melhor no seu dia a dia, na sua qualidade de vida.
AG – A partir dessa referência, como foi o processo criativo para criar esse método?
TF – Entendendo que trabalhamos com uma diversidade grande de níveis de condicionamento, tentei sempre adaptar para que não precisássemos excluir ou isolar, por exemplo, deixar um grupo avançado de um lado, iniciantes de outro e intermediário em outro. Dá um pouco mais de trabalho sim, mas como o foco é motivar a todos e fazer com que cresçam juntos, o iniciante, o intermediário e o avançado treinando juntos, se ajudam e esse é o objetivo. Então, no início, eu fui praticando primeiro, testando e sentido como seria para depois aplicar nos alunos, indo adaptando conforme a necessidade. Cada pessoa que chega passa por um processo de adaptação. Vou acompanhando, orientando e adaptando o treino, de forma que seja metabólico, trabalhando parte aeróbica, resistência muscular localizada, mobilidade e tudo o que a gente preza como importante para a saúde, mas de acordo com as necessidades e capacidades de cada pessoa.
AG – Qual o foco desses treinos?
TF – O treino em grupo é focado basicamente em um treino metabólico com pouco descanso. Monta-se um circuito com oito exercícios, por exemplo, um tempo para execução de cada exercício e a metade desse tempo para descanso. Não se trabalha com intensidade altíssima e sempre há uma variação dos treinos. A ideia é variar estímulos e intensidade onde o gasto calórico é alto, porque a frequência cardíaca trabalha sempre alta, e que faça uso do corpo inteiro. Se compararmos o nosso corpo a uma máquina, quanto mais essa máquina se movimentar, maior será o consumo de energia dela. São alguns fatores que vamos desenvolvendo através desse método para que o corpo aprenda a estar mais condicionado, mais ativo.
AG – Quais os maiores benefícios desse método?
TF – O maior benefício é esse envolvimento e o gosto pela atividade física. A gente sempre preza isso: tentar colocar uma sementinha em cada pessoa para que ela comece a entender que o exercício físico pode ser prazeroso e se torne um hábito na vida dela. Não precisa ser algo muito intenso e exatamente todos os dias. Quanto mais, melhor, mas cada um adapta a atividade física conforme a sua rotina. Essa mudança de conceito é o principal objetivo, que o exercício físico se torne um estilo de vida. E depois, o desenvolvimento global, do corpo inteiro, trabalhar as capacidades físicas, mobilidade, articulações, flexibilidade, alongamento, o coração que é o músculo principal, por isso, o aeróbico é peça chave da metodologia e não pode faltar. E na sequência vem o gasto calórico, a perda de gordura e a qualidade de vida.
AG – Observo que tu estimulas a corrida e grupos de corrida. Como é a tua relação com atividades cardiológicas e de resistência?
TF – Como pratiquei futebol por muitos anos, o cardio era peça chave, pois não adianta ter boa técnica e não ter um condicionamento cardio, porque não vai conseguir correr um jogo inteiro. Então, sempre pratiquei muita corrida e atividades aeróbicas por causa disso, para aumentar minha capacidade de absorver oxigênio e transformar em energia. Trazendo para os grupos é algo que priorizo, porque o coração precisa estar em ordem e quanto melhor eu estiver com esse motor principal, menos esforço ele vai ter que fazer nas minhas atividades e consequentemente ele terá uma vida mais longa. Considero a caminhada e a corrida como preciosos ansiolíticos. São atividades muito poderosas. E principalmente agora, neste momento pelo qual estamos passando, fazer uma corrida ou caminhada é relaxante, proporciona uma liberação de hormônios na corrente sanguínea que faz muito bem para o organismo. E é claro que é preciso ter cuidado, aprender a fazer a atividade de forma correta. Tem a questão do impacto, por exemplo, que pode ser evitado se a pisada, a postura e a coordenação dos membros estiveram corretas. Seja na esteira ou na rua, é preciso ter técnica e isso depende de evolução, de aprendizado, assim como em outras atividades. Eu gosto de correr na rua por causa dos estímulos externos. A corrida na rua se torna mais intensa por isso. Muitas vezes tem calçadas, tem irregularidades, tem o processo emocional também, de ver a natureza, de sentir o ar fresco, de cruzar com outras pessoas, na praia ou em uma trilha no meio do mato, então, tem vários fatores envolvidos. Mas para quem tem esteira em casa e gosta de correr na esteira, também é importante que aprenda a técnica para correr certo.
AG – A metodologia Toni Trainer é consolidada e acredito que sofreu alterações durante a pandemia. Quais foram as mudanças para se adaptar a esse “novo normal”?
TF – Além de reduzir o número de pessoas por horário, nós tentamos também diminuir o uso dos acessórios. Passamos a fazer mais treinos livres com o peso corporal e depois voltamos a utilizar aos poucos os equipamentos que requer menos contato, sempre utilizando álcool para higienizar entre um uso e outro. Foram adaptações nesse sentido para buscar minimizar o risco de contaminação.
AG – Qual impacto a atividade física pode causar na vida de uma pessoa que consegue inseri-la em sua rotina diária?
TF – Sou suspeito a falar porque sempre gostei muito e se preciso parar de me exercitar por um período, me faz muita falta, não só na questão de disposição, mas no emocional também. A falta de atividade física me deixa mais ansioso e com uma certa irritabilidade, então é visível que a atividade contribui para a redução do estresse e ativação do corpo. Vale observar que num corpo que fica muito parado começa a enfraquecer musculatura, encurtar músculos, e as articulações começam a sofrer maior desgaste. Vejo que segunda-feira é o dia mundial da reclamação: ‘dói aqui’, ‘dói ali’, ‘tô com preguiça’, e isso acontece porque no final de semana as pessoas ficam mais em casa, as vezes comem mais, e dão uma ‘chutada no balde’, saem da rotina. Em contrapartida, pessoas que se exercitam bastante e passam um final de semana ativo, chegam na segunda-feira, inteiros e bem dispostos. A atividade física faz toda a diferença. Quando a pessoa entende isso, ela não precisa ficar esperando o médico ou o nutricionista dizer pra ela que ela precisa se exercitar. O próprio corpo pede.