Antiguidade sobre rodas: Brusque e região contém mais de 100 veículos de coleção
Carros de placa preta conservam características originais dos veículos
Carros de placa preta conservam características originais dos veículos
Os municípios de Brusque, Guabiruba e São João Batista somam 114 veículos de coleção, conhecidos por terem a placa preta. Esses carros conservam boa parte das características originais dos veículos.
Membro da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), o Brusque Car Club (BCC) é responsável por fazer a vistoria dos carros, para que recebam ou não o certificado de originalidade e deem entrada no processo para conseguir o licenciamento de veículo de coleção. A vistoria também pode ser feita em despachantes.
O presidente do BCC, Charles Baumgartner, diz que o ideal é que os colecionadores busquem o clube para uma vistoria mais rigorosa, que segue os padrões da FBVA.
Para conseguir o certificado, o carro precisa ter 30 anos ou mais de fabricação e alcançar pelo menos 80 pontos na avaliação. Baumgartner explica que a vistoria segue uma planilha que analisa todos os itens do carro, desde vidros até pneus. Depois, essa avaliação é enviada para a federação, que emite o documento comprovando a originalidade. A cada cinco anos uma nova vistoria deve ser feita.
Em seguida, o proprietário do veículo pode ir até Departamento de Trânsito para ser registrado como de coleção. O custo aproximado é de R$ 1 mil.
Conforme explica Baumgartner, a placa preta surgiu em 1998, por conta de uma vistoria de poluentes. Como os carros antigos não tinham injeção eletrônica, sairiam de circulação por não passar nessa avaliação. Então foi criada essa resolução, para caracterizar estes veículos como de coleção.
Com o passar do tempo, a placa preta virou um estimo entre os colecionadores e tornou-se uma característica que valoriza o veículo.
Na garagem de Sérgio Novais, 54, e do filho, Guilherme Booz Novaes, 22, está um VW Fusca 1500, do ano de 1971. Além da beleza, com seu bom estado de conservação, o que chama a atenção é a placa preta, confirmando a originalidade do veículo.
O carro foi comprado pelo avô de Sérgio. Depois, passou para ele, há cerca de 12 anos, e agora é do filho, Guilherme, que tem a intenção de manter o carro na família.
Eles fazem parte do Brusque Car Club e sempre participam dos encontros, seja em Brusque ou em outros municípios. Desde criança andando de fusca, a paixão cresceu quando Sérgio recebeu o carro de herança. Guilherme cresceu vendo o interesse do pai, também pegou gosto pela temática.
O amor pelos carros antigos é nítido não só no cuidado com o Fusca, mas também no ambiente que eles vivem. Na garagem, outros dois veículos, uma Kombi e um Corcel, deixam claro que ali moram colecionadores. Na parede, várias fotos de carros antigos também demonstram o interesse.
Quando Sérgio ganhou o Fusca, o veículo ainda não tinha placa preta. Com a ajuda do clube, eles iniciaram o processo, que foi bastante tranquilo. Para manter a originalidade, o cuidado é minucioso e o carro até fica tampado na garagem para garantir mais proteção. Além disso, de vez em quando dão uma volta, para mantê-lo na ativa.
Cuidadosamente guardado no porta-luvas, ainda estão o manual de instrução original do veículo, a nota fiscal e até a chave reserva.
Para eles, o Fusca é um xodó. “Esse não tem preço”, diz Sérgio.
O guabirubense Ricardo Bosio, 39 anos, exibe com orgulho as suas duas Brasílias amarelas. Uma delas, do ano de 1975, está com ele há 15 anos, depois que comprou da avó.
Ricardo conta que um dia a mãe dele disse que a avó queria vender a Brasília. Ele então resolveu comprar, na época com a intenção de transformar em uma gaiola. Conforme foi descobrindo sobre o carro, percebeu a importância dele e começou a se interessar por veículos antigos.
O primeiro dono do carro era de Guabiruba e Ricardo até chegou a conversar com os parentes dele, que contaram que quando chovia e o carro molhava, o homem chegava em casa e secava todo o veículo.
Para Ricardo, o que o faz gostar de veículos antigos é justamente a história que eles carregam em meio as suas quilometragens. “É uma lembrança do passado. Dá uma emoção muito grande”, diz.
A Brasília também já foi utilizada pelo empresário Luciano Hang no início do ano, para a produção de um vídeo.
Em 2014, Ricardo comprou a segunda Brasília amarela, desta vez um modelo 1980, de quatro portas. Esse veículo foi limitado no Brasil, já que não teve tanta adesão, o que o torna raro.
Depois que adquiriu, já iniciou o processo para garantir o certificado de originalidade. As duas são praticamente originais. A de duas portas só não está com a pintura original, mas mantém a cor, e a de quatro portas não tem a sinaleira traseira original. Mas as demais características são todas de fábrica.
A Brasilia de 1975 tem pouco mais que 33 mil quilômetros e a de 1980 tem quase 85 mil km rodados e alguns desses renderam boas histórias.
Ricardo conta aos risos a história de quando ele, o irmão e um amigo foram passear em Penha. O amigo foi com um Chevette, que deu problema durante a viagem. “Chegou na metade do caminho, começou a esquentar a bobina do Chevette”.
Por isso, pararam diversas vezes no caminho, para resfriar o carro. “Foi uma situação bem engraçada porque todo mundo que passava ficava olhando porque três carros antigos, né”, comenta. Ele diz que algumas pessoas até pararam pra perguntar o que aconteceu e se precisavam de ajuda.
Também integrante do Brusque Car Club, os passeios que Ricardo faz com as Brasílias são durante os encontros em Brusque e em outras cidades. Ele vai com a esposa e os filhos. “É uma alegria, não tem preço”, finaliza.