João Vítor Roberge
Aos 14 anos, brusquense percorre 17 quilômetros a nado e quebra recorde
Luiz Fernando Farias é apaixonado pelas travessias de longas distâncias, sob tutela de uma referência na modalidade
O brusquense Luiz Fernando Farias, de 14 anos, percorreu, no domingo, 13, nada menos que 17 quilômetros nadando em rio e mar, de Cacatu (PR) a Antonina (PR), e se tornou o nadador mais jovem no mundo a completar tamanha distância em travessias de águas abertas. O recorde foi conquistado em 3h47 no Desafio Curves 17k, do Circuito Summit de Maratona Aquática. Quem vê o rapaz com cerca de 1,60 m de altura custa a imaginar que ele é um dos mais habilidosos nadadores de sua idade.
O que começou como tratamento para a bronquite asmática se transformou em paixão e prática de alto rendimento. A natação ajudava Luiz com a doença, e três anos depois de ter iniciado, começou a experimentar as travessias em Bombinhas. As distâncias foram aumentando proporcionalmente à evolução do garoto, e as centenas de metros passaram a ser vários quilômetros.
“Travessias requerem uma estratégia muito bem feita. Tem que chegar antes da prova, estudar o mar, as correntezas, definir tipos de braçada. Sempre é necessário fazer algo diferente. Nadadores mais rápidos não necessariamente vencem, é comum perderem para quem elaborou uma estratégia melhor”, comenta.
Conforme relatam Luiz e sua avó, Vera, há pouca concorrência em sua faixa etária na região, o que faz com que o nadador foque nas classificações gerais das competições. Vencendo em sua categoria com frequência, seu objetivo é bater de frente com nadadores muito mais experientes e conquistar títulos entre os adultos.
As provas preferidas são as de longas distâncias, porque Luiz tem como característica a estratégia bem elaborada para superar a velocidade dos adversários. É o chamado “fundista”, largando sempre atrás. Mas quando os velocistas começam a diminuir o ritmo, nas partes finais da prova, é quando o brusquense aproveita para tomar a vantagem. Por isso, acaba desfavorecido nas distâncias curtas.
O desafio
O evento com o qual Luiz conquistou o recorde não era uma corrida, mas o garoto lembra que foi o segundo a concluir o percurso. Dos 12 nadadores, quatro foram resgatados por não conseguirem terminar a prova. Eram realizadas paradas pontuais para a hidratação, como costuma ocorrer em trajetos mais longos.
O nadador relata que costuma chegar pouco cansado das travessias, geralmente irritado ou aborrecido com alguma questão. Na ocasião mais recente, seu pai, Aladin Farias, um de seus grandes apoiadores, jogou uma bandeira de Brusque na água para que ele pudesse terminar a prova com o símbolo do município. “Eu voltei, subi nas pedras, peguei a bandeira e pulei na água de novo. Perdi uns 50 metros”, comenta, desta vez vendo graça na desventura.
A presença de Luiz no Desafio Curves 17k foi viável por causa dos apoios que vem recebendo pelos grandes desempenhos, provenientes de Yasmin Modas, Paddock Pneus, Viacredi, K-16 e Fischer Pinturas.
Em setembro, Luiz Fernando Farias passou a ser treinado por sua maior referência nas travessias: o paranaense Alexandre Kirilos, um dos nadadores que conseguiram atravessar o canal da Mancha, braço de mar que separa a França da Grã-Bretanha.
“Conheci o Luiz há uns três anos, disputando provas regionais, e desde então mantemos contato. Um ano depois, os laços com ele e sua família ficaram mais estreitos”, comenta Kirilos, que é graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Os treinos são realizados no Caça e Tiro, em Brusque, nas piscinas, com sequências elaboradas pelo técnico e enviadas por e-mail. Costumam durar 1h30 e 2h30, e são realizados à tarde, no contra-turno das aulas, com vários quilômetros nas piscinas. Treinos no mar também são realizados, mas em menor quantidade, geralmente com alguns quilômetros de percurso.
Além dos treinos de Kirilos, o garoto tem o apoio de fisioterapia e nutricionista, com uma dieta específica, que inclui a ingestão de carboidratos antes de cada evento e disputa. O paranaense destaca o crescimento da modalidade.
“A maratona aquática tem crescido muito no mundo nos últimos anos. Houve esse ‘bum’. Desde 2008 é um esporte que está nas olimpíadas. Há muitos meninos muito bons, e claro que o Luiz é um deles. Ele ainda está em desenvolvimento, então são necessários cuidados.”
O nadador de 50 anos deixa claro que tudo precisa estar claro para que a relação fã-ídolo não atrapalhe a relação técnico-nadador. “É um orgulho inspirar outras pessoas, mas é preciso separar bem os momentos, e ter o trabalho de controlar expectativas. Ele já percebeu isto.”
Kirilos é o responsável pelos treinos de diversos nadadores, tanto de maratona aquática quanto à natação voltada ao triatlo, e tem vários elogios ao fã recordista: “Ele tem potencial, é muito educado e disciplinado. Devemos colher mais frutos ainda. Tenho sim este sonho de levá-lo ao Canal da Mancha”, comenta.
Futuro
Luiz Fernando pretende disputar as competições internacionais de maratonas aquáticas, mas seu foco está em seguir as braçadas de Alexandre Kirilos e cruzar o Canal da Mancha, em tempo melhor que o ídolo. “O Canal de Bonifácio, o da Ilha do Arvoredo, entre outros, são objetivos que pretendo realizar.”