Apaixonado por astronomia, brusquense faz fotografias de astros em observatório particular

Fabricio Luçolli construiu estrutura anexa à sua residência no bairro Cedrinho e desde 2014 pratica a astrofotografia

Apaixonado por astronomia, brusquense faz fotografias de astros em observatório particular

Fabricio Luçolli construiu estrutura anexa à sua residência no bairro Cedrinho e desde 2014 pratica a astrofotografia

Em uma torre no bairro Cedrinho, o administrador de empresas Fabricio Luçolli se dedica ao hobby pelo qual é apaixonado desde a infância: a astronomia. Autodidata, aprendeu muito sobre o céu, as estrelas e os astros pesquisando sozinho, em livros que guarda nas prateleiras do observatório, e também na internet. Com equipamento importado, o investimento foi alto, e esse é o único local em Brusque com a possibilidade da prática da astrofotografia.

“Todos os dias, eu precisava montar e desmontar meu telescópio. Construí essa torre para poder ter uma visão mais ampla”, conta Fabricio. Do alto da construção, é possível ter uma boa visão da cidade ao lado norte. Porém, não é a vista diurna que interessa: Fabricio está mais interessado no que ele pode observar à noite, apontando o telescópio para o céu.

Ainda em 2014, logo que a estrutura ficou pronta e apta para o uso, Fabricio fez suas primeiras fotografias celestes. Ele registrou a Eta Carinae, uma estrela da constelação Quilha, 7,5 mil anos-luz da Terra. A estrela é visível apenas do Hemisfério Sul.

“A magia desse equipamento é a fotografia”, explica. Pela simples observação, Fabricio diz que é possível ver a lua, estrelas, planetas e até mesmo o sol, com a segurança necessária para não perder a visão com a luminosidade e o calor intensos. Porém, as galáxias, nebulosas e as imagens mais fantásticas do sistema solar não são visíveis pelo equipamento, e sim pelas fotografias produzidas digitalmente.

Aos 12 anos, ele conta que ganhou seu primeiro telescópio. “Meu padrinho achou que eu era louco, afinal, para que eu precisava disso?”, brinca. Ele lembra que, com o telescópio e os binóculos, passava horas deitado na grama, observando o céu. “Mas eu não conhecia as estrelas, não tinha um mapa estelar nem livros e materiais para estudar o céu. Quando veio a internet, isso mudou, tive acesso a muita informação.”

Autodidata, aprendeu sozinho a identificar os astros e operar equipamentos. | Foto: Natália Huf

Embora tenha aprendido muito sozinho, em livros e pesquisas que fez por conta própria, Fabricio concluiu também dois semestres do curso de Astronomia do professor João Steiner, com aulas online do ministrante do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).

“Hoje, olho para o céu e sei identificar as constelações, as estrelas. Mas isso por que estudei as cartas estelares, aprendi como é feita a medição de distância entre as estrelas. Precisei começar a estudar para entender.”

Fabricio começou a se interessar por astronomia ainda na infância e ganhou primeiro telescópio aos 12 anos. | Foto: Natália Huf

Astrofotografia
Conectado a softwares no computador, o telescópio captura imagens do céu de acordo com as coordenadas fornecidas pelo operador. O equipamento é chamado telescópio operacional e, além de fotos, também pode ser utilizado para observação. O funcionamento é semelhante ao de uma câmera fotográfica: na parte interna, existem dois espelhos, um principal e um refletor.

O equipamento de Fabricio é composto, basicamente, pelo telescópio refletor de 254 milímetros, as câmeras para a astrofotografia e os programas que utiliza para fazer a integração das imagens. O telescópio é movido por um motor que acompanha o movimento de rotação da terra, impedindo que as capturas fiquem tremidas ou que a luz dos corpos celestes se tornem um “rastro”.

“Quando a câmera fica parada e com a lente aberta por muito tempo, ao invés de fotografar uma imagem estática, o brilho dos astros vira uma linha, um rastro”, explica. Esse rastro é conhecido como “star trail”, e acontece por conta do movimento do planeta, que gira constantemente. Essa movimentação não é perceptível a olho nu, porém, pode ser captada pelas máquinas fotográficas.

Aglomerado estelar Omega Centauri, fotografado por Fabricio em julho de 2014. | Foto: Fabricio Luçolli

Os apetrechos para a astrofotografia são específicos para essa atividade e, diferente das câmeras normais – antes, Fabricio usava uma Canon T5 -, captam as frequências luminosas infravermelhas, que não são visíveis para os seres humanos. Após, as luzes avermelhadas captadas pela câmera são transformadas pelos softwares em cores visíveis.

Além da captação do infravermelho, Fabricio faz uso de filtros que bloqueiam a luz da cidade. A iluminação dos postes de luz, segundo ele, reflete nas nuvens e atrapalha a observação e fotografia do céu, interferindo na luminosidade que é captada pelo telescópio. Esse fenômeno é chamado “poluição luminosa”, e ocorre devido à luz que é emanada pela urbanização. De acordo com Fabricio, olhando em direção norte, apontando para Brusque, já não se vê mais muita coisa.

Todo o equipamento é armazenado em locais levemente aquecidos, para evitar a contaminação por fungos. Em relação à manutenção, Fabricio conta que só precisa fazer a limpeza regular do telescópio, que demanda que o espelho seja lavado de forma neutra, para não estragar.

Para fazer a calibragem do telescópio, ele precisa estar virado ao polo sul celeste, que é um pouco diferente do sul cartográfico. Na astronomia, os pontos cardeais são determinados pela projeção dos polos geográficos da Terra: portanto, dependem da declinação magnética – visto de Brusque, o pólo sul celeste fica a cerca de 27 graus mais à direita do polo sul geográfico.

Equipamento tem funcionamento automatizado e é conectado a softwares no computador. | Foto: Natália Huf

Passando pelas fotografias que mais gosta, ele mostra uma da lua, em alta resolução e bastante aproximada. “Posso chegar perto da lua”. Uma das fotos favoritas também é da nebulosa Laguna, uma nuvem interestelar na constelação de Sagitário. “Olhando, ela é só um pontinho no céu. Com o telescópio e as fotos, dá pra ver de pertinho.”

Porém, as fotos não são feitas de uma hora para a outra; o processo é demorado e realizado em etapas. Primeiro, são feitas as fotos “secas”, os light frames, que capturam a luz dos corpos celestes. Depois, os dark frames, com a lente fechada, que são utilizados para a limpeza da imagem, eliminando pixels “quentes” que possam ser confundidos com luminosidade. E, por último, os flat frames, fotos feitas com um pano branco tapando a lente da câmera.

São feitas cerca de 20 a 30 imagens de cada tipo, que depois são agrupadas em um programa chamado DeepSkyStacker, que faz a incorporação das camadas de fotos, para criar a imagem real do céu. “Na astrofotografia, a maior demanda é o processamento das imagens, que pode levar até uma semana. Aprendi tudo pelo YouTube e com amigos que compartilham o hobby”, conta.

Primeira fotografia de Fabricio, registro da estrela Eta Carinae. | Foto: Fabricio Luçolli

Muita coisa pode interferir na qualidade das imagens. Enquanto o telescópio fotografa, Fabricio costuma ficar do lado de fora, para evitar qualquer movimentação no local. Embora ele tenha substituído o tripé por uma base de ferro, que deixa a lente bem mais firme, ainda é possível que as imagens fiquem tremidas. “Aqui dentro, só posso andar de meia, e bem devagarinho. Até quando passa um caminhão lá embaixo atrapalha.”

“Para capturar bem a luminosidade, precisa de mais exposição”, afirma. Na fotografia, o conceito de exposição tem relação com o tempo em que a lente ficará aberta, recebendo luz externa. Ao fotografar os astros, ele indica exposição de 5 segundos – “Mais do que isso, sem acompanhar a rotação da Terra, fica um rastro” – e ISO 800.

Para uso pessoal
Fabricio é diretor financeiro do Clube de Astronomia de Brusque, grupo que se reúne mensalmente. Por possuir um observatório particular, já tentou articular iniciativas junto ao Observatório Astronômico de Brusque, instituições de ensino e políticos. Porém, os projetos não costumam se alongar: “Não tem recurso. O governo cortou verbas para ciência e tecnologia, não tem incentivo nenhum. Dá uma desanimada”, diz.

O observatório é o único local privado com estrutura padrão – cúpula redonda, teto giratório que abre – do estado, mas de uso pessoal, devido à paixão de Fabricio pela astronomia. “Quando tenho visita, se o céu está limpo, eu mostro, todo mundo adora. Mas não deixo mais aberto à visitação.”

Radioamadorismo e meteorologia
O espaço que construiu para o observatório é cenário para outros hobbys de Fabricio, como o radioamadorismo e, futuramente, uma estação meteorológica. Licenciado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ele possui antena própria e autorização para utilizar algumas frequências. “Daqui, converso com gente do mundo todo, do Paquistão, da Ucrânia, da Rússia. Basta ter alguém do outro lado que responda.”

“Estou até mais focado no rádio amador do que na astronomia, ultimamente”, conta ele, que tem todos os equipamentos necessários. Assim como a astrofotografia, tudo é automatizado e, de sua estação, consegue acompanhar até mesmo satélites que passam pelas proximidades de Brusque.

Com equipamento de radioamadorismo, Fabricio consegue captar frequências das proximidades de Brusque. | Foto: Natália Huf
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