Apesar de mais barato, uso do etanol é pouco vantajoso
Biocombustível custa, em média, 90% do preço da gasolina em Brusque
Abastecer com etanol não é vantajoso em Brusque. O Município Dia a Dia fez um levantamento que mostra que o preço médio da gasolina é R$ 3,62, enquanto o álcool etílico custa, em média, R$ 3,27. Ao considerar rendimento e manutenção, a gasolina leva vantagem.
A pesquisa mostra que o preço do etanol no município equivale a 90% do valor da gasolina, na comparação entre os preços médios de cada um. De acordo com especialistas, para valer a pena o álcool deve custar, no máximo, 70% da gasolina.
A proprietária do Auto Posto Gaivota, Josiane Isleb, afirma que o etanol quase não é procurado. Segundo ela, praticamente só os motoristas com carros mais antigos, movidos apenas a álcool, é que abastecem com o combustível.
O cenário de estagnação repete-se no Posto Bissoni. O sócio-proprietário Adilson Merizio afirma que a venda do biocombustível está bem abaixo do esperado. Há dias em que sai apenas 100 litros, volume considerado baixo. De acordo com ele, a quantidade não faz valer a pena manter o estoque. “Com esse preço, não dá”, avalia.
Os donos de postos de combustíveis ouvidos pela reportagem reclamaram dos constantes aumentos no preço do etanol repassados pelo governo federal. Merizio diz que semanalmente há acréscimos de alguns centavos. Isto faz com que o biocombustível fique inviável, e o problema é ainda maior porque os fornecedores não vendem combustíveis em pequenas quantidade, ou seja, o investimento é alto, e o retorno, baixo.
Na semana passada, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) anunciou um novo aumento no preço do etanol em 21 estados e no Distrito Federal. Estes reajustes tem um efeito cascata. A gasolina possui, em sua mistura, álcool, e na medida em que o etanol sobe, aumenta também o combustível derivado de petróleo.
Merizio afirma que o aumento constante do preço etanol é o motivo de a gasolina em Brusque estar mais alta do que o normal.
“Não se pode afirmar que o álcool é mais econômico”
O coordenador do cursos de Engenharia Mecânica e de Produção da Unifebe, Denis Boing, afirma que do ponto de vista exclusivamente técnico, a queima do etanol é considerada mais limpa que a queima da gasolina, com isso, o biocombustível deixa menor número de resíduos no motor. Em contrapartida, no estado líquido, o etanol possui maior número de impurezas microscópicas, as quais são oriundas do bagaço da cana de açúcar, por isso, os carros flex ou movidos a álcool adotam prazos de troca de filtro de combustíveis menores em comparação aos carros movidos a gasolina.
“Torna-se claro que cada combustível possui uma vantagem e cada modelo de carro possui as configurações recomendadas de injeção e de manutenção, deste modo, de forma geral, para as manutenções recomendadas, não se pode afirmar que o álcool é mais econômico”, diz.
Segundo ele, a gasolina e o álcool possuem relações de proporção de ar/combustível diferentes e a maioria dos carros flexíveis do mercado conseguem identificar e se autorregular. “Para a maior parte dos carros flexíveis com configurações de injeção padrão o ponto de equilíbrio do preço do álcool é em torno de 70-80% do preço da gasolina. No entanto, esta informação não deve ser generalizada, pois, cada fabricante possui configurações diferentes”, explica. “Deste modo, o questionamento direto para a marca/modelo é sempre a melhor escolha. Torna-se pertinente ressaltar que as proporções teóricas funcionam com carros com a manutenção em dia, ou seja, que são submetidos a revisões periódica (anuais ou por quilometragem)”, completa.
Sobre o temor que muitos proprietários de carro flex têm de mudar para o etanol após um bom tempo usando gasolina, o professor destaca que existe uma sonda nos carros que identifica qual combustível foi inserido no tanque. Esta sonda envia informações para a central de controle que por sua vez identifica qual a proporção de mistura ar/combustível o carro deve utilizar (gasolina, álcool ou ambos).