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Após 35 anos de dedicação, servidor mais antigo da Câmara de Brusque se aposenta

Conheça a história e trajetória profissional de Reinaldo dos Santos Cordeiro

Após 35 anos de dedicação na Câmara de Brusque, o assessor legislativo Reinaldo dos Santos Cordeiro se aposentou. O último dia de trabalho do servidor de 63 anos de idade foi na segunda-feira, 2 de maio.

Reinaldo começou a trabalhar na casa legislativa em 28 de janeiro de 1987, após prestar um concurso público. Com ele, foram contratados o diretor da casa, outro assessor legislativo e um contador.

Antes de entrar na Câmara, Reinaldo passou pelo seminário, onde se formou em Filosofia. Morou em Brasília, para trabalhar no primeiro emprego na Secretaria de Planejamento da Presidência da República, de 1980 a 1981, quando precisou sair para continuar o seminário.

Entre 1982 e 1986, trabalhou na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), em Florianópolis, quando assessorou o deputado de Brusque Gentil Battisti Archer. Quando terminou o mandato, ele fez o concurso público da Câmara.

Nos anos seguintes também passou pelo governo municipal. Foi secretário de Indústria e Comércio em uma fase do governo Ciro Roza e chefe de gabinete no governo do Hylário Zen. Para essas funções, pediu licença sem vencimento. Portanto, ao todo, são 42 anos de serviço público.

Além de Filosofia, ele também se formou em História, áreas pelas quais atuou como professor. Com habilidade de escrita, publicou 27 livros que se referem à historiografia ítalo-teuto-eslavo-brasileiro.

Morador do bairro Limeira, Reinaldo agora aproveita os primeiros dias da aposentadoria. Nas memórias, carrega a bagagem e o carinho pelos colegas de trabalho com quem dividiu os dias na casa legislativa.

“Lá dentro só tem gente do meu coração. Eu entrei primeiro que todos os que estão lá. Tem alguns que a gente se aproxima mais por causa da rotina profissional. São talentosos, com intelectuais e com pessoas sábias. Gente versadíssima na área do Direito Constitucional, Direito Administrativo ou da contabilidade pública”, diz.

Reinaldo era o servidor mais antigo em atividade na Câmara desde que Rogério Gamba, que entrou em 1983, e aposentou-se em 2016. “Eu começo a olhar para trás e percebo uma trilha com jocosidade, com a responsabilidade, com a crise, com o atrito, com temas complexos. Se você trabalha numa Câmara, numa prefeitura, os temas são complexos. É o papel da Câmara, ela é o sacrário da democracia de uma cidade”, continua.

Infância no Amapá

Reinaldo nasceu em 18 de junho de 1959 em Calçoene, no interior do Amapá. O município fica a 400 quilômetros de Macapá, no coração da floresta amazônica.

Com a vontade de ser padre, em 1978 saiu do estado e veio até Brusque pelo Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras (PIME) para estudar filosofia. “Não me dei bem no seminário, me encrenquei e saí”, conta.

Sobre a encrenca, Reinaldo admite que foi por causa do coração. No município, ele se apaixonou por Maria Lindaura Zen Cordeiro, com quem casou e teve dois filhos.

Com tantos anos e vivências, Reinaldo se considera um brusquense. “A 7 mil quilômetros longe de casa, eu contei aqui com amigos e com a solidariedade. Minha vida foi construída em Brusque”, conta, emocionado.

“Eu vim de uma aldeia e sair de lá para chegar até aqui onde cheguei é muito difícil. É muito difícil para uma pessoa que está na base subir para o meio da pirâmide. Sou grato à igreja Católica pela minha ascensão como pessoa. Se eles não me tirarem de lá, hoje eu seria um pescador, um extrativista ou garimpeiro aposentado”, aponta.

Os primeiros anos

Foto com José Germano Schaefer, o Pilolo, registrada em dezembro de 1993, durante homenagem aos vereadores de 1989-1992; Reinaldo escreveu um biografia de Pilolo / Foto: Acervo da Câmara de Brusque/Divulgação

Em 1987, os funcionários contratados pela Câmara tinham uma grande missão: reorganizar e recuperar documentos do poder Legislativo danificados pela marcante cheia do rio Itajaí-Mirim, que assolou o município quase três anos antes.

“A Câmara tinha saído da enchente de 1984, quando o prédio ficou submerso. Ficava na frente do terminal urbano, com a biblioteca em cima. Na minha safra, éramos cinco servidores e a água destruiu tudo, todos os anais. Toda uma história de 100 anos foi levada pelas águas”, relembra.

Reinaldo reforça que essa recuperação aconteceu pela atividade voluntária de várias pessoas na cidade, principalmente de escritores. “Foi um resgate só dos nomes. Não deu para você entrar dentro da produção do desempenho parlamentar de cada legislatura. Não tinha um requerimento, uma moção, uma indicação, um discurso”, detalha.

Outra memória é sobre a forma de trabalho, que era bem diferente do que é atualmente. Tudo era registrado em papel e não tinha as facilidades da era da informática.

“Eu sou da época da máquina pica-pau, do papel carbono, daquele monte de carimbo em cima da mesa, dos protocolos, dos livros de ata. Era tudo feito manualmente. Os expedientes a gente fazia na máquina pica pau, com papel carbono, do mimeógrafo, dos estêncil, do telex. Era bem artesanal”, comenta.

A Câmara dentro de um Fusca

Até os anos 2000, a Câmara de Brusque contava com poucos servidores. Na década de 1990, Reinaldo recorda que a equipe participava da associação dos servidores de Câmaras no estado.

“Quando tinha congresso ou convenção, nós íamos em quatro para Florianópolis, Joinville, com o fusca do diretor, que era o doutor Carlos Wehmut”, lembra.

Nos eventos, encontravam colegas de Florianópolis, Joinville, Blumenau, Balneário, Chapecó e outros municípios maiores. “E eles diziam que a Câmara de Brusque cabia dentro de um Fusca. Na época, a Câmara de Blumenau já tinha 50, a de Joinville tinha 80 e a de Florianópolis cento e poucos servidores”, conta.

Após isso, com o avanço da legislação, com a modernidade e as exigências, a casa legislativa brusquense precisou aumentar o efetivo.

“Nós tivemos que fazer um concurso. Foi bem transparente, porque nós pedimos para os presidentes que a gente queria que fosse respeitada a concorrência leal e a dignidade na realização desses concursos. E eles também respeitam isso”, afirma.

Colegas de primeira

Ao longo dos processos seletivos, Reinaldo afirma que cada profissional selecionado para trabalhar na casa legislativa em Brusque é de excelente qualidade.

“Isso é raro. No tempo da minha atividade pública tive muito contato com outras Câmaras, com outros colegas veteranos que nem eu, onde os concursos eram burlados, onde tinha o vício do serviço público, que é aquele servidor que entra e depois nunca mais recebe uma reciclagem. Nunca mais se investe no material humano”, avalia.

Para ele, o serviço público pode ser organizado desde que seja respeitado o rigor no mérito do recrutamento. Outro ponto, segundo ele, é que quando não há investimento no funcionário, ele tende a se acomodar. Contudo, conforme Reinaldo, a defasagem profissional não acontece na Câmara de Brusque.

“Ali, os funcionários têm idade para serem meus filhos. Eles são todos graduados, pós-graduados e mestres. Por isso que eu estou elogiando. Me orgulho da Câmara. Isso não tem pai. Isso é uma história. É um processo de bons presidentes, de boas mesas, que, com o apoio dos assessores mais experientes, mais graduados, foram melhorando e aprimorando as condições deste órgão público”, completa.

Memórias

Luiz Antonello/O Município

Em relação às memórias, Reinaldo destaca o apoio da família Eccel, com o Ivo e a Marli Madalena Eccel, nos primeiros anos em Brusque.

Outro nome citado por Reinaldo é Gentil Battisti Archer. A amizade entre os dois resultou no convite para que Reinaldo o acompanhasse em Florianópolis após ser eleito deputado estadual.

Neste momento, o aposentado recorda de ter comentado a Gentil sobre não ter a roupa adequada para acompanhá-lo.

“Eu disse ‘olha, eu agradeço, mas terminei o semestre da faculdade agora indo com chinelo de dedo’. Fui com duas calças U.S. Top da época. Ele disse que se isso era um problema, estava resolvido. Mandou a secretária dele me buscar e me levar numa das confecções mais nobres da cidade, aí cheguei lá e me deram um banho de loja. Fui todo bonito para lá, cheio de sacola”, relembra.

Próximos passos

O gosto pela política movimenta Reinaldo a escrever mais livros. O interesse o mantém atento aos conflitos políticos locais e nacionais. “Agora aposentado, eu vou desenvolver os projetos que eu tinha deixado para trás. Eu já comecei a escrever sobre o impeachment, a história das eleições de 2018, dou uma passada pelas oligarquias e entro no fenômeno Moisés”, adianta.

Uma das vontades é homenagear o desembargador Carlos Civinski. Outro projeto é o Aluno Supletivo, que também é sobre política.

O interesse, segundo ele, é local. “Eu espero gozar de saúde para escrever outras coisas. Eu gostaria muito também de escrever sobre a Rua Azambuja”, pontua.

Sobre os livros, Reinaldo destaca o apoio de amigos que acreditam no trabalho dele. “Eu sempre tive essa sorte. Eu só construí amigos em Brusque”, diz, e se emociona.

“Eu, para o Amapá, acho que não volto mais. Ficou a lembrança de uma vida pobre, carente no mundo amazônico. Despida de possibilidades e de recursos. Este foi o meu mundo. Então, o mundo que eu vivo hoje nem se compara, é incomparável em tão pouco tempo, historicamente falando”, finaliza.


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