Após 99 anos, Panificadora Ristow fechará as portas

Irmãs que administram o negócio resolveram encerrar as atividades no dia 22

Após 99 anos, Panificadora Ristow fechará as portas

Irmãs que administram o negócio resolveram encerrar as atividades no dia 22

A Panificadora Ristow fechará permanentemente as portas no próximo sábado, 22. O fim das atividades da tradicional padaria colocará um ponto final numa história quase centenária e deixará muitos moradores de toda a região órfãos das delícias caseiras encontradas somente no estabelecimento da rua Hercílio Luz, no Centro.

A panificadora é um daqueles exemplos de uma Brusque que hoje resiste apenas na memória dos brusquenses mais antigos. Em 1919, Germano Ristow comprou aquele ponto comercial de seu concunhado, Eugênio Petrusky.

Naquela mesma construção, Petrusky já tinha uma padaria. Germano comprou o ponto e ali começou a construir a história do estabelecimento que se fundiu com o sobrenome da família Ristow.

Germano trabalhou na panificadora até a década de 1950. Erica Ristow, 75 anos, uma das proprietárias atualmente, lembra-se com muito carinho desse tempo, de quando, ainda criança, andava pela padaria do avô.

Em 1953, Germano faleceu. O filho Ewaldo Ristow assumiu o negócio dali em diante. Ewaldo era um homem que possuía o legítimo espírito empreendedor do brusquense.

Antes de ter a panificadora, Ewaldo foi “caixeiro viajante”, ou seja, representante comercial que viajava por vários municípios. Era uma profissão muito comum nos tempos em que as novidades demoravam a chegar nos pequenos municípios do interior.

Depois que assumiu panificadora do pai, Ewaldo ainda era, ao mesmo tempo, distribuidor da Antarctica. Ele também foi pioneiro ao abrir o primeiro supermercado de varejo da cidade: o Supermercado Ristow, que depois foi comprado pelo Archer. Ficava onde hoje é o Spazio Sassi.

A Panificadora Ristow passou por maus momentos também. Um incêndio destruiu quase totalmente o prédio em 1977.

Depois do fogo, Ewaldo ficou desanimado e deixou a padaria fechada. Ele morreu em 1985, com o negócio desativado.

Coube aos filhos Ewaldo Ristow Filho e Rubens Ristow retomar a panificadora familiar em 1987, ou seja, exatamente dez anos depois do fechamento devido ao incêndio.

A panificadora trocou de mãos de novo em 1998. Em junho daquele ano, Erica Ristow e a irmã Christiane Ristow assumiram a direção do negócio.

Panificadora é tradicional na rua Hercílio Luz, a antiga rua das Carreiras | Fotos: Marcos Borges

Laços criados
Foram 20 anos em que Erica e Christiane estiveram no balcão para atender os moradores e clientes. Duas décadas depois, elas lembram com muito carinho do relacionamento que criaram com as pessoas.

“Vou sentir muito a falta de contato com o público. Ainda não caiu a ficha”, confidencia Christiane. “Fizemos muitas amizades, muitos conhecidos”, acrescenta Erica.

A clientela da Panificadora Ristow não se restringia somente aos arredores da rua Hercílio Luz. Erica comenta que, por exemplo, uma mulher de Nova Trento é cliente há 11 anos e seu filho só aceita comer o bolo de chocolate da panificadora. Já aconteceu de ela levar um bolo desses para viagens, pois o rapaz não abria mão do sabor inconfundível.

A freguesia também era formada por cidadãos ilustres. As irmãs contam que o ex-governador Luiz Henrique da Silveira era apreciador da tradicional cuca de banana da panificadora.

Luiz Henrique era casado com a brusquense Ivete Appel da Silveira e mantinha forte ligação com o município. Quando era governador, sempre que possível, algum funcionário dele passava na panificadora para comprar uma cuca para a viagem.

Ele não abandonou o hábito nem quando foi para Brasília (DF), como senador. De vez em quando, uma funcionária passava na Panificadora Ristow e comprava alguma cuca para levar à capital federal.

Despedida
Uma série de fatores contribuíram para o fechamento da panificadora. Mas o principal deles é que, para modernizá-la, seria necessário um investimento muito alto.

Erica diz que tudo tem o seu momento e é hora de parar. Ela afirma que dói no coração fechar a panificadora, onde construiu tantas boas memórias.

Christiane vai na mesma linha. Mas ela pensa ainda em continuar com alguma atividade no mesmo ramo de atuação.

“Temos que agradecer à toda a comunidade brusquense, por todos esses anos. Sentiremos falta de qualquer maneira”, comenta Christiane. “Aqui é minha família, passei mais tempo aqui do que em casa”, completa Erica.

No início desta semana, a panificadora anunciou publicamente o fechamento do negócio no Facebook. Desde então, houve uma enxurrada de comentários elogiosos, nostálgicos e gratos de clientes e amigos.

No balcão, muitos fregueses também foram pegos de surpresa pelo fechamento e manifestaram carinho com as irmãs e tristeza pelo fim da panificadora. Os relatos provam que a panificadora, mesmo que fechada, marcou a vida de muitos brusquenses.

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