Após casos de dengue dispararem, prefeitura faz apelo à população para cuidados em Brusque
Número de casos confirmados no ano foi de dois para 380 em pouco mais de um mês
Os números de casos de dengue disparam no último mês. Em boletim divulgado em 24 de fevereiro, a cidade contava apenas dois casos confirmados da doença, ambos autóctones, ou seja, contraídos no município. Já no último boletim, divulgado nesta sexta-feira, 1º, a soma de casos registrados desde o início do ano subiu para 380.
Os dados foram divulgados pela Secretaria de Saúde, por meio do Programa de Endemias, em coletiva de imprensa nesta sexta. No encontro, estavam presentes o vice-prefeito, Gilmar Doerner, a diretora da Vigilância em Saúde, Ariane Fischer, o secretário de Saúde, Osvaldo Quirino de Souza, e o médico infectologista Ricardo Alexandre Freitas.
Dentre os principais pontos destacados pelo Executivo está a barreira que agentes de endemias sofrem ao visitar residências nas comunidades. Muitos profissionais são impedidos de entrar nas casas, principalmente nos bairros que somam o maior número de casos da doença: Souza Cruz, com 93 casos confirmados; Jardim Maluche, com 76, seguido do Santa Terezinha, com 45.
“São os bairros que temos mais dificuldade de entrarmos nas casas. Nos cobram que precisamos passar o veneno, mas o estado cobra que entremos nos locais para passar os relatórios se achamos um vaso, uma geladeira com acúmulo de água. Nossos agentes de endemias têm treinamento e capacitação para identificar onde tem o criadouro das larvas”, conta Ariane.
Em alguns casos, os agentes relataram que moradores responderam não precisar do profissional no local e justificaram que não utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS).
“Mas todos nós usamos o SUS. Nós precisamos que as pessoas nos atendam. Entendemos a população, a gente não quer receber um estranho na nossa casa, são residências de muros altos que tocamos interfone e campainha, mas não querem nos atender e são até grosseiros. São casas com muitos vasos, com cômodos parados, banheiros com ralos que podem ter larvas”, comenta.
Ariane ressalta que, se em um primeiro momento a equipe não conseguir entrar, a situação é registrada no sistema do estado e o próximo passo é acionar a Vigilância Sanitária, que pode contar até com o apoio da Polícia Militar.
Focos do mosquito
Um levantamento de 24 de fevereiro apontava a soma de 447 focos do mosquito Aedes aegypt, transmissor da dengue, chikungunya e zika, entre outras doenças desde janeiro. Contudo, nesta sexta, o número de focos já somava 728.
“São locais onde encontramos uma água parada e lá tem a presença de larvas. Elas são levadas ao laboratório e avaliadas. Caso tenham características anatômicas que vão evoluir para o Aedes aegypti, consideramos como um foco”, explica Ariane.
Nesta sexta, o bairro com o maior número de focos é o Águas Claras, com 55; em seguida, São Luiz, com 54; Rio Branco, com 49; e Jardim Maluche, com 48. “Não quer dizer que neste local tem o mosquito voando, mas tem a larva que pode eclodir para o mosquito em um ciclo de sete dias. Mas orientamos os cuidados da população para eliminar esses criadouros”, conta.
A Diretoria de Vigilância em Saúde de Brusque, por meio do Programa de Combate a Endemias, disponibiliza um número de telefone para denúncias, tanto pelo WhatsApp ou através de ligações, no (47) 9 8813-0095.
Ações realizadas
Em março, a prefeitura intensificou o trabalho na contenção da proliferação dos focos do mosquito Aedes aegypti. Neste mês foi criada a Sala de Situação e está sendo organizado um mutirão de limpeza em 9 de abril para o recolhimento de entulhos. “São possíveis locais que armazenam água, garrafas, bombonas”, diz Ariane.
A prefeitura também se reuniu com representantes do Programa Estadual de Vigilância e Controle do Aedes Aegypti nesta quarta, 30. Brusque solicitou um carro de fumacê do estado, que conta apenas com dois veículos para região do Litoral até o limite do Oeste.
“O estado nos atendeu. Essa picape tem poder maior de pulverização e, no dia 6 de abril, vamos pulverizar durante o dia todo o Jardim Maluche e o Souza Cruz. Estava verificando qual será o terceiro bairro a ser pulverizado no dia 7 na parte da tarde”, continua Ariane.
O secretário ressalta que a cidade usa o inseticida Cielo, pulverizado de forma costal, na qual o técnico espalha o veneno numa motocicleta na velocidade 5 quilômetros por hora (km/h), e o fumacê, que atinge o raio de até 150 metros.
“O grande problema é que há uma demanda muito grande pelo veneno e o estado fornece quantidades limitadas, deixando os municípios encarregados pela aquisição. Só que também às vezes não temos disponibilidade na hora. Então, já solicitamos para a Procuradoria um parecer de outras possibilidades de outros tipos de venenos, com toxicidades”, explica.
“Lembrando que, claro, pode haver problemas colaterais, contaminar um animal doméstico, e pode dar problema. Então, as pessoas não precisam esperar a ação do poder público, mas tenham um repelente em casa e fiscalize o seu entorno. A falta do fumacê talvez nem seja tão sentida assim”, completa.
Sintomas
Entre os casos confirmados no ano, estão os da família da professora Gracielle Boing Lyra, de 52 anos. Ela relata que os sogros residem no bairro Souza Cruz e, vizinho a eles, a família tem um comércio.
“Minha sogra foi a primeira da família a contrair dengue, seguida da funcionária da casa, depois meu esposo, meu filho e funcionários da nossa loja. Ficamos muito apreensivos”, conta.
Os sintomas foram febre alta, dores pelo corpo, muita dor de cabeça, dor no olho, náusea, diarreia e fraqueza. Segundo ela, o receio foi intensificado com a experiência recente da pandemia, o que deixou os familiares alarmados.
Os casos começaram a aparecer há duas semanas e a sogra de Gracielle, que tem 81 anos, já está restabelecida. Porém, o restante da família continua doente. “Minha sogra é idosa, a ajudante da casa ficou 15 dias afastada. Então, meu esposo e filho revezavam, quando um se sentia melhor ia trabalhar, e o outro ficava, E assim está acontecendo ainda. Na localidade da nossa loja, a maioria dos vizinhos contraiu dengue”, completa.
Perigo da reinfecção
O secretário de Saúde ressalta que o município já registra casos mais graves e alerta para o perigo da reinfecção. Ele explica que numa primeira infecção, os sintomas podem parecer mais brandos. Numa segunda infecção, porém, Osvaldo aponta que a doença pode vir de uma forma mais grave.
“Baixando bastante os glóbulos brancos e reduzindo o número das plaquetas, que fazem a coagulação do sangue, o que pode favorecer o sangramento. Não há tratamento específico e, se um paciente de uma forma grave perder esses fatores de coagulação, ele pode ter sangramentos graves, inclusive no cérebro, e vir a óbito”, explica.
Para fins epidemiológicos, o Executivo segue orientação do Ministério da Saúde de considerar alguns casos sintomáticos como dengue, mesmo sem o exame de confirmação; Trata-se de quando o paciente tem um caso confirmado em casa e também apresenta sintomas, mas não faz o exame. O caso é somado e, se o paciente for ao hospital, será tratado como dengue.
“Chamamos a atenção que as pessoas não subestimem essa doença, tratem-na como se fosse grave e que pode evoluir para uma epidemia”, continua. “Fazemos o apelo para que mantenham seus terrenos limpos, suas bocas de lobo limpas. São mais de 20 mil bocas de lobo na cidade. Pedimos para que a população fiscalize e, caso haja suspeita, acione os fiscais”, completa.
Morte investigada em Brusque
A morte de um homem em Brusque é investigada por suspeita de dengue. De acordo com o secretário de Saúde, trata-se de um idoso de 81 anos, que positivou para a doença antes de falecer no último sábado, 26. Segundo o Osvaldo, ele tinha comorbidades, com histórico de AVC e problemas cardiológicos.
“Tinha plaquetas baixas, mas ainda não temos a confirmação de que teve hemorragia em um órgão vital. Ele tinha bastante hematomas, esquimoses pelo corpo, não sabemos se foi dengue hemorrágica. Está faltando saber qual subtipo que o contaminou. O exame é feito no Lacen-SC [Laboratório Central de Saúde Pública]”, explica.
O paciente foi internado na sexta anterior, 25. Portanto, a velocidade para o óbito também é um fator que justifica a investigação. Segundo a pasta, a cidade aguarda os resultados do estado. Portanto, ainda não dá para afirmar se é morte por dengue ou não.
Caso for, pode ser ou dengue hemorrágica ou dengue clássica. A diretora da Vigilância em Saúde, Ariane Fischer, acredita que, se for positivar para dengue, poderá ser para a clássica, pela velocidade do óbito.
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