Após causar amputação de perna, motorista some com dinheiro de rifa beneficente, diz vítima
Patricia Smanioti conseguiu comprar prótese com empréstimos de familiares
Patricia Smanioti conseguiu comprar prótese com empréstimos de familiares
Um ano após sofrer um acidente que resultou na amputação da perna esquerda, Patricia Smanioti, 20 anos, ainda foi vítima de um golpe quando buscava recursos para os gastos médicos. Segundo a jovem, o responsável tanto pelo acidente quanto pelo golpe foi o mesmo homem: Marcelino Braz Barth, 22, que também era vizinho dela.
Tudo aconteceu no dia 1º de março de 2018, quando Patricia Smanioti pilotava uma motocicleta em direção ao trabalho. Ela foi surpreendida por um carro que vinha na contramão. Na época, com 19 anos, ela acreditou que o carro desviaria de um buraco, situação comum na rua Guabiruba Sul, em Guabiruba, mas ele não retornou para a via correta e colidiu de frente com a jovem.
Ela não recorda dos momentos após o acidente, mas lembra de acordar em uma cama no hospital. Patrícia teve uma perna amputada, ficou internada por sete dias na UTI e apenas cinco dias depois de ser direcionada para o quarto, Barth foi visitá-la.
“Ele pediu desculpa e chorava. Eu pensei que foi sem querer, porque ele disse que o carro começou a puxar para o lado. Depois ele falou que iria me ajudar”, conta a vítima.
Tanto Patricia quanto Barth não tinham dinheiro para comprar a prótese para a perna. Alguns amigos e familiares aconselharam a jovem a realizar uma rifa para arrecadar o valor necessário. Ela comentou sobre a ideia com Barth, que lhe garantiu que faria a rifa.
O golpe
Nos próximos contatos que Patricia teve com Barth, ela sempre perguntava como estava a situação da rifa, e a resposta era a mesma: “vai vir nesta semana”. Mas esse dia nunca chegava.
Em outubro, quando ela cansou de perguntar sobre a rifa, uma pessoa contatou os pais de Patricia e informou que havia comprado um bilhete para ajudar a jovem. O pai dela, Raimundo Smanioti, foi atrás de Barth e decidiu pegar algumas rifas para vender.
Foram feitos 500 blocos, cada um com cinco bilhetes, que eram vendidos a R$ 20 o número. O total arrecadado com as vendas das rifas seria de R$ 50 mil, dos quais R$ 7 mil eram reservados para a premiação em dinheiro e o restante seria destinado para a compra da perna mecânica e os gastos médicos de Patricia.
A rifa seria sorteada no dia 22 de dezembro, mas Patricia só foi descobrir o resultado no dia 4 de janeiro, quando uma pessoa ligada a Marcelino postou o resultado no Facebook.
“Eu não tenho ‘face’ para ver, então ele deveria ter mostrado isso para mim. Quando fui ver uma prima dele postou”. Patricia sabe que uma pessoa recebeu o prêmio, mas quanto aos outros três sorteados, não tem certeza.
Como os pais de Patricia pegaram 249 rifas para vender, os R$ 24,9 mil arrecadados foram utilizados para dar entrada na prótese, que custava R$ 35,9 mil. Patricia esperou que Barth entregasse para ela os outros R$ 18,1 mil para pagar o restante da perna mecânica.
Ela usou a rifa como garantia para pagar a perna mecânica depois que recebesse o valor, mas o rapaz não repassou o dinheiro. “Eu tive que fazer um empréstimo com os meus familiares para pagar o restante da prótese para não ficar com o nome sujo”, revela.
Patricia entrou em contato com os pais de Barth algumas vezes, mas eles não sabem dizer onde o rapaz está morando atualmente. No dia 27 de dezembro ela fez um boletim de ocorrência por estelionato alegando que Barth desapareceu com o dinheiro que foi arrecadado em prol da perna mecânica.
O que diz o advogado
O advogado responsável pelo caso, Luiz Antônio Vogel Junior, descobriu que além de vender as rifas, Barth entrava em contato com empresas da região pedindo ajuda em dinheiro para comprar a prótese. Agora o advogado entrará em contato com essas empresas para verificar quanto foi solicitado e se esse valor foi entregue ao rapaz.
“Ele sempre fugiu da responsabilidade de prestar contas e entregar os valores referentes à ação filantrópica a que a rifa se destinava, obtendo para si vantagem ilícita, resultando em prejuízo da vítima”, afirmou o advogado por meio de nota. “Tal conduta é inconcebível, desumana e criminosa”, complementa.
Na ação ajuizada, a defesa requer indenização por danos morais, danos estéticos, lucros cessantes, pensão mensal vitalícia, despesas materiais com consultas, exames, tratamento médico e transporte. O valor da indenização ainda está sendo calculado.
Marcelino Braz Barth não foi localizado pela reportagem para dar a sua versão.