Após pandemia, Brusque registra aumento na procura por antidepressivo e ansiolítico; confira números

Até julho deste ano, número de pessoas que retiraram Clonazepam e Sertralina já representa 80% do total de 2021

Após pandemia, Brusque registra aumento na procura por antidepressivo e ansiolítico; confira números

Até julho deste ano, número de pessoas que retiraram Clonazepam e Sertralina já representa 80% do total de 2021

A Secretaria de Saúde de Brusque registrou que 2.837 pessoas retiraram Clonazepam, o medicamento ansiolítico mais dispensado na Farmácia Básica do município, em 2022. O número, atualizado em 19 de julho, representa 80,3% do total registrado em 2021, quando 3.532 pessoas retiraram o remédio.

Já o Sertralina, o antidepressivo mais dispensado, foi retirado por 2.556 pessoas. O número representa 80,8% do total de 2021, quando 3.163 pessoas retiraram o medicamento durante o ano.

Em comparação com o ano passado, 2.772 pessoas retiraram o Clonazepam e 2.218 retiraram o Sertalina de 1º de janeiro a 19 de julho.

Segundo a coordenadora de saúde mental da Prefeitura de Brusque, Inajá Gonçalves de Araújo, os dados mostram um agravamento significativo dos problemas mentais após a pandemia da Covid-19. Ela salienta que o cenário não é apenas registrado no município, mas sim no mundo todo.

“Os dados demonstram que, infelizmente, Brusque também entra para a estatística mundial pós-pandemia: o do aumento dos transtornos e doenças mentais. São a depressão, o transtorno obsessivo compulsivo, transtornos de adaptação, os transtornos de estresse de todos os tipos, de ansiedade, burnout e vários outros, além de diagnósticos advindos da própria Covid, como declínio da memória após a infecção e transtorno de estresse pós-traumático”, avalia.

Inajá alerta que, com a diminuição dos números da Covid-19, especialistas observam uma nova pandemia. Desta vez, segundo ela, relacionada à saúde mental das pessoas. São aquelas afetadas pelo luto, por problemas financeiros, pelo afastamento da vida que levavam anteriormente, pelo distanciamento das pessoas, do lazer, do convívio em sociedade e, também, as pessoas que estiveram em sobrecarga de atividades relacionadas ao trabalho nesse período.

“Principalmente as que envolvem muita responsabilidade e pressão, como no caso de médicos, enfermeiros, policiais e profissionais que atuaram na linha de frente do combate à Covid-19”, continua.

Em outros casos, conforme Inajá, é observada a sobrecarga de trabalho provocada pelo home office. “O trabalho invade a rotina da pessoa e ela acaba trabalhando muito mais do que se estivesse na empresa, misturando o trabalho com a vida pessoal”, detalha.

Com tudo isso, Inajá aponta que os sinais e sintomas, como a insônia, perda ou aumento do apetite, dor de cabeça, irritabilidade, agitação, uso de substância psicoativas como álcool e outras drogas, levam as pessoas a buscarem tratamento e, consequentemente, a necessidade de medicações psiquiátricas.

“Os dados sugerem que o brusquense tem enfrentado problemas com depressão, insônia e ansiedade. Nesse sentido, o acompanhamento médico é de vital importância para que as pessoas tenham uma recuperação segura e eficaz. Todos esses medicamentos só podem ser adquiridos com prescrição médica e sempre com o acompanhamento de profissionais da saúde”, completa.

Internações psiquiátricas

A Secretaria de Saúde de Brusque registrou 264 internações por transtornos mentais e comportamentais em 2021. Até maio deste ano, foram 128 internações. Os dados são do Datasus.

No último ano, 138 pessoas foram internadas por conta de transtornos de humor afetivo em Brusque. Os principais tipos destes transtornos são depressão, transtorno bipolar e transtorno de ansiedade. Até maio deste ano, 74 pessoas foram internadas com esse quadro, o que já representa 53,6% do total do ano passado.

Para Inajá, as internações psiquiátricas são reflexos do cenário da saúde mental global. Ela explica, por exemplo, que muitas pessoas que realizavam tratamento na base ambulatorial tiveram que readequá-lo ou parar o tratamento devido à pandemia.

“Muitos que não realizavam atendimento psicológico e que não buscaram orientação para iniciar o tratamento chegaram às portas dos hospitais de emergência, levando a internações para estabilidade do quadro apresentado. Friso que essas internações são, na sua grande maioria, de curto período e em decorrência de casos agudos”, salienta.

Inajá destaca que todas as internações devem ser precedidas de avaliação e indicação médica. Todavia, podem ocorrer mais de uma internação pelo mesmo indivíduo por conta de transtornos diversos.

“Por exemplo, uma pessoa pode ter sofrido de uma crise de pânico em um período e buscado a internação. E, um período após a internação, não ter aderido ao tratamento proposto no pós-alta e vir a sofrer uma nova crise ou problemas, como por exemplo a insônia, e novamente buscar a porta da emergência”, conta.

Pessoas internadas por transtornos mentais e comportamentais em Brusque:

 

Em busca de uma melhora

Inajá reforça a necessidade da população buscar formas de cuidar da saúde mental. Ou seja, além dos medicamentos, é preciso procurar ter uma rotina saudável com exercícios, alimentação saudável e acompanhamento médico e psicológico quando necessário.

“Vale frisar que é essencial orientar o paciente para que sejam mantidas as medicações nas doses corretas. Também, que não seja interrompido o acompanhamento médico”, pontua.

Àqueles que procuram por atendimento em Brusque, a secretaria de Saúde orienta buscar pela Unidade de Saúde do bairro onde residem. Outra forma é pelos Centros de Atenção Psicossocial, onde ocorrem a regulação da vaga via Sistema Nacional de Regulação (Sisreg). A pasta adianta que existe fila de espera, mas cada caso é avaliado por um psicólogo e um médico regulador. Portanto, é dado prioridade em casos mais graves.

Por fim, Inajá aponta que outra forma de buscar uma melhora na saúde mental é a convivência em grupos, sejam de autoajuda, de amizades positivas, espaços de cultura ou religiosidade.

“A doença mental pode se tornar endêmica e isso faz com que o trabalho com grupos seja fundamental. O ser humano pode ajudar e amenizar a dor pela fala. Pode retirar a dor de si pela divisão dos problemas, com ajuda das pessoas. Profissionais devem fazer com que o cuidado ao sofrimento psíquico seja disseminado na sociedade. Afinal, se é para ter alguma contaminação que seja esta, a contaminação do cuidado a si a ao próximo”, finaliza.

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