Após pedido de recuperação extrajudicial, RenauxView projeta continuidade
Sócios garantem futuro promissor e afastam temor de falência da empresa
O pedido de recuperação extrajudicial não afeta as perspectivas da Têxtil RenauxView. Os sócios Armando Hess de Souza e Márcio Bertoldi, experientes na recuperação de fábricas, garantem que a recuperação faz parte de um planejamento que prevê a continuidade da indústria brusquense.
Na semana passada, a informação de que a RenauxView busca a recuperação extrajudicial foi divulgada ao público. Embora a extrajudicial seja menos intervencionista e complexa que a judicial, os boatos se espalharam pelas redes sociais.
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O passado de Brusque, com muitas falências, como a Fábrica de Tecidos Renaux, fez com que a informação tivesse impacto ainda maior. E nas redes sociais pipocaram mensagens apocalípticas sobre o futuro da RenauxView – antiga Iresa.
Os sócios dizem que não passa de boataria instigada por alarmismo. As dívidas renegociadas são de antes de 2006 e as contas atuais estão em dia.
Bertoldi afirma que a principal preocupação é responder esses boatos para acabar com a preocupação das famílias, já que são cerca de 600 funcionários atualmente.
“Não é correto fazer um paralelo com as histórias de quebra que aconteceram em Brusque, o trauma de outras empresas não pode ser colado na RenauxView. Temos um histórico de reestruturações já feitas”, afirma Bertoldi, diretor de relações com investidores.
Bertoldi e Souza também são sócios na Karsten, de Blumenau. Por lá, promoveram a reestruturação de uma fábrica centenária que estava “quase quebrada”.
O presidente Souza diz que a recuperação extrajudicial é, em resumo, um acordo. “Tem objetivo de acertar um passado que herdamos para dar condição de a empresa ter o futuro, que estamos construindo. Não é futuro esperado, não esperamos, estamos agindo para confirmar o futuro e perpetuar”.
Na segunda-feira, 11, o jornal O Município percorreu a indústria. A fábrica está em funcionamento normal, há pedidos e fluxo de trabalho.
Nas áreas produtivas, há locais já demarcados onde ficarão as novas máquinas importadas que chegarão em breve. Esse é um fato destacado pelos sócios: a empresa continua a investir e a contratar, o que é apontado como prova de que não vai falir.
Recuperação extrajudicial
A RenauxView apresentou à Justiça um Plano de Recuperação Extrajudicial (PRE) no dia 28 de fevereiro. O objetivo é renegociar R$ 173 milhões em dívidas, que, segundo os sócios, foram herdadas da antiga gestão.
A recuperação extrajudicial é mais simples que a judicial. Em vez de várias fases de habilitação de credores, a RenauxView elaborou o PRE e o apresentou diretamente aos credores.
Mais de 60% dos credores aceitaram a proposta, mas poucos não a aprovaram. Por isso em vez de negociar diretamente foi protocolado o pedido na Justiça.
Se o judiciário homologar o PRE, a renegociação valerá para todos os credores, inclusive os que negaram de início.
Nova gestão mudou estratégia da RenauxView
Antigamente, a RenauxView chamava-se Indústrias Renaux SA, conhecida como Iresa. Mas em 2006, já em dificuldades financeiras, ela foi vendida pelos Renaux para a Breda Participações, cujos sócios principais são Souza e Bertoldi.
Souza foi presidente da Dudalina, de Blumenau, fundada por seus pais, Adelina Hess de Souza e Rodolfo Francisco de Souza Filho, o Duda. Assumiu-a em graves dificuldades e a reergueu, na década de 1990.
No tempo em que ficou no negócio da família, ele conheceu Bertoldi, que era advogado da Dudalina. O conhecimento dos dois rendeu a parceria que perdura até hoje.
Movidos pelo desafio de reerguer a histórica RenauxView, os dois a adquiriram e colocaram em prática todo o seu conhecimento têxtil e de negócios. Desde o início, a divisão é: Souza cuida de projetos, pessoas e de criação, enquanto que Bertoldi fica com a parte de negociação da dívida e de finanças.
Assim que assumiu a empresa, Souza identificou a necessidade de redirecionamento da empresa. Antigamente, a RenauxView focava em grandes pedidos de tecido e tinha muito estoque.
O têxtil é um ramo extremamente acirrado. É muito difícil uma fábrica brasileira conseguir ser mais competitiva que uma asiática em termos de quantidade. Mas a qualidade faz a diferença.
“Já vislumbrando as transformações que viriam ao mercado brasileiro, considerando que os tecidos importados estavam tomando conta, reorientamos para produtos diferenciados e qualidade superior”, explica Souza.
Ele viu que a oportunidade para manter a indústria viva era focar em tecidos de moda e mais no segmento feminino. Ele também percebeu potencial de mercado para encomendas de menor volume e com exclusividade.
Além disso, foi preciso reduzir o estoque, que drenava importantes recursos. Mas para realizar tudo isso era preciso dinheiro, e a RenauxView não tinha crédito no Brasil devido às dívidas passadas.
Bertoldi foi à Europa e apresentou a agências de crédito o planejamento que a nova gestão tinha para a indústria brusquense. Os europeus acreditaram no projeto e concederam crédito.
Com esses financiamentos, Souza e Bertoldi investiram na renovação do maquinário da RenauxView. Diversos equipamentos foram adquiridos, todos importados e alguns muito caros e modernos, como as máquinas de estampar digitalmente.
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A tinturaria, que antes produzia só em grandes quantidades, passou a ter máquinas para poder tingir menos tecido. Com isso, passou a sobrar menos tecido, portanto o estoque intermediário foi praticamente eliminado.
“Hoje, é a empresa de tecido plano mais moderna do brasil. Tem melhor tecnologia, melhores equipamentos do mundo e faz os melhores tecidos”, afirma o presidente da tradicional indústria.
Reconhecimento
No ano passado, três italianos passaram alguns dias na RenauxView para conhecer a fundo o trabalho, o maquinário e as práticas da empresa. Eles eram da Canclini – a melhor fabricante de tecidos para camisas do planeta, que produz para marcas do quilate de Hugo Boss.
A Canclini aprovou a qualidade da RenauxView e autorizou a produzir com a marca. Os tecidos produzidos em Brusque não vão para a Europa. O principal destino é o mercado interno e países sul-americanos, como Argentina e Colômbia, mas há perspectivas de expansão.