Após resultado das eleições, listas nas redes sociais incentivam boicote a empresas de Brusque

Nomes de estabelecimentos supostamente petistas estão sendo divulgados no WhatsApp

Após resultado das eleições, listas nas redes sociais incentivam boicote a empresas de Brusque

Nomes de estabelecimentos supostamente petistas estão sendo divulgados no WhatsApp

Após a vitória de Lula, eleitores inconformados com o resultado das eleições no domingo, 30, começaram a divulgar nas redes sociais listas de estabelecimentos supostamente ‘petistas’, incentivando o boicote a essas empresas.

Estabelecimentos de várias cidades constam nas listas, inclusive alguns de Brusque. A mensagem que circula no WhatsApp é de uma imagem com a estrela símbolo do PT, com a frase: “Petista coloque essa imagem na porta do seu negócio. Mostre que és um petista feliz”.

Logo abaixo da imagem, vem a mensagem: “segue uma lista dos comerciantes que apoiam o PT em Brusque”, e algumas empresas da cidade são citadas. 

Além do incentivo ao boicote a empresas, também têm circulado lista neste mesmo viés com nomes de advogados de Brusque.

Reprodução

A advogada Ildete Regina Vale da Silva destaca que essas listas ferem as prerrogativas da advocacia, quando envolvem nomes de advogados, e trazem prejuízos às empresas e comércios citados.

“Estão tentando forçar um filão de freguesia por posicionamento político-partidário. Isso fere a democracia, o estado democrático de direito e as consequências maiores são para a própria sociedade. Nós, como cidadãos livres, estamos sendo prejudicados, cerceados no nosso direito de ter um negócio, se tivermos um posicionamento político diferente das pessoas que se encontram no mundo da internet, divulgando esse tipo de mensagem”, afirma a advogada, que também é vice-presidente da subseção de Brusque da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A advogada também observa a distorção do direito à liberdade de expressão. “As pessoas fazem uso de institutos jurídicos, como a liberdade de expressão, tão evocada neste momento, mas isso não significa que possam mentir, criar fatos inexistentes, divulgar medidas discriminatórias como essa lista. Vivemos em um momento muito complicado, em que as pessoas se aproveitam do anonimato da internet para criar situações como esta”.

Ildete lembra que os donos dos negócios que se sentirem prejudicados podem buscar orientação jurídica para obter a responsabilização e reparação dos danos que vierem a sofrer.

O delegado regional da Polícia Civil de Brusque, Fernando de Faveri, explica que as pessoas têm a liberdade de expressão em se manifestar pela compra ou não em determinado local. Por outro lado, não podem constar ofensas, sob pena de incidência, em tese, do crime de injúria eleitoral, previsto no artigo 326 do Código Eleitoral.

“De qualquer modo, se houver registro de ocorrência, caberá ao delegado de polícia analisar as circunstâncias da conduta em concreto, cujo desfecho, como dito, poderá variar a depender do caso”.

Mestre em Sociologia Política e professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Eduardo Guerini afirma que a negativa de comprar produtos e não usar serviços de determinadas empresas é uma liberdade do consumidor, no entanto, a partir do momento em que o boicote a esses estabelecimentos é incentivado, pode ser considerado crime.

“Este tipo de situação cria uma aversão a determinada coisa. É a política de cancelamento. Essas pessoas que criam e divulgam essas listas têm uma visão distorcida da realidade por conta da vida paralela que levam nas redes sociais, reproduzindo fake news, dados equivocados de patriotismo, civismo. Todo esse enredo elevou o acirramento para uma polarização que foi sepultada na urna. Vivemos um estado democrático de direito em que o eleitor tem que escolher pelo voto seus representantes e assim foi feito”.

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