Arcebispo brusquense participou de canonização de duas santas; conheça as histórias
Dom Murilo Krieger teve papel nos processos de Irmã Dulce e Santa Paulina
Dom Murilo Krieger teve papel nos processos de Irmã Dulce e Santa Paulina
“Penso que será preciso um longo tempo para eu me convencer que estou vivendo tudo isso. O que melhor traduz meus sentimentos é a palavra “graça” – isto é, estou diante de um presente de Deus, imenso e belo, totalmente imerecido da minha parte.” É dessa maneira que o brusquense, hoje Bispo de Salvador (BA), Dom Murilo Krieger, define a experiência vivenciada no último final de semana, em Roma, durante a canonização da primeira santa nascida no Brasil, a Santa Dulce dos Pobres.
Não é a primeira vez que Dom Murilo acompanha este processo. Enquanto bispo auxiliar de Florianópolis, ele participou da beatificação de Irmã Paulina, em 1991. Depois, ao retornar como arcebispo, veio a canonização, em 2002. Quando chegou em Salvador, em 2011, Irmã Dulce foi beatificada e, agora, meses antes de deixar a Arquidiocese, pode acompanhar mais esta canonização.
“Ao longo desses meus oito anos à frente da Arquidiocese Primacial do Brasil, participei de perto de tudo o que dizia respeito à devoção da bem-aventurada Dulce dos Pobres. Em função disso, fui penetrando sempre mais na vida de uma pessoa que se destaca pela simplicidade e pela radicalidade: ela foi totalmente de Cristo e, por causa dele, totalmente dos pequenos, pobres e enfermos.”, afirma Dom Murilo.
Segundo ele, durante séculos, os brasileiros se acostumaram a conhecer e admirar a vida de santos europeus. “De repente, descobrimos que há muitos santos ao nosso lado, vivendo em profundidade o Evangelho de Jesus. Em outras palavras: é preciso ser santo hoje, nas circunstâncias atuais de nossa vida. Santo é quem faz a vontade de Deus; santo é quem segue Jesus Cristo; santo é quem ama a Deus de todo o coração e o próximo como a si mesmo”, observa.
Dom Murilo conta que, certa vez, um jovem de 15 anos se aproximou de Irmã Dulce e fez um pedido: que ela não o deixasse morrer na rua. O garoto foi acolhido e passou a receber cuidados.
No dia seguinte, um novo pedido, desta vez de uma senhora doente. E assim foram surgindo outros, muitos outros… “A cada “sim” que ela dava, o Senhor lhe fazia novos pedidos. Se ela não tivesse acolhido, em um dado momento, alguém que foi colocado em seu caminho, Deus não deixaria de convidá-la a ser generosa. Mas, a partir daí, ela é que não conseguiria distinguir a voz de Deus em meio a outras vozes”, afirma Dom Murilo.
Segundo ele, uma lição preciosa deixada por Santa Dulce é a capacidade de envolver outras pessoas em projetos. “Sozinha, teria ido mais rápido para frente; mas envolvendo outros em seus trabalhos, motivando-os a se unirem a suas preocupações e ideais, ela fez mais, atingiu um maior número de pessoas e sua grande obra social continua servindo os pobres, mesmo depois de sua morte”, avalia.
Santa Dulce dos Pobres entra para a história do Vaticano como o terceiro processo de canonização mais ágil, 27 anos após a sua morte, atrás apenas de João Paulo II e Madre Teresa de Calcutá. Para Dom Murilo, isso se deve ao grau heróico de virtudes da Santa.
“Tanto isso é verdade que o povo já a “canonizou” em vida, chamando-a de “O Anjo Bom da Bahia”. Ninguém, aqui, tinha dúvidas da santidade de Irmã Dulce. Depois, os milagres foram muito evidentes, especialmente o segundo, necessário para a sua canonização: um cego, depois de 14 anos, recuperou a visão. Aliás, os problemas físicos e as deficiências do globo ocular de José Maurício, o miraculado, continuam com os mesmos problemas. Tanto é assim que se hoje ele for a qualquer oftalmologista fazer um exame, o diagnóstico será o mesmo: ´Infelizmente, você não poderá mais ver!’”, esclarece Dom Murilo.
O fato é que o maestro José Maurício Bragança Moreira, de 51 anos, consegue ver e, inclusive, acompanhou ao lado da esposa, a canonização de Santa Dulce em Roma. Médicos brasileiros que o examinaram preliminarmente e mais outros sete médicos consultados pela Santa Sé não tiveram dúvidas ao afirmar o que a ciência não explica, pois, fisiologicamente, ele ainda não é capaz de ver.
De acordo com Dom Murilo, este momento é propício para glorificar a Deus. “Podemos, também, nos perguntar: O que estou fazendo pelos necessitados? Irmã Dulce, pequena, frágil, com graves problemas de saúde, tinha mil razões para ficar quieta num canto. Mas não aceitou isso: foi à luta, desdobrou-se, multiplicou-se, pois não conseguia ficar indiferente diante de tanto sofrimento humano que via à sua frente”, enfatiza o bispo.
Para Dom Murilo, não basta se alegrar com a canonização de Santa Dulce dos Pobres ou, tampouco, se vangloriar por ela ser brasileira, já que ninguém ganha méritos pela santidade de outros.
“Temos, sim, uma razão a mais para transformar nossa vida num dom a Deus e, por causa dele, aos irmãos. Se cada um de nós, como Santa Dulce dos Pobres, fizer a sua parte, o mundo se tornará melhor, mais justo e santo”, finaliza Dom Murilo, que espera a visita dos catarinenses à região Nordeste do país, onde há também um sinal muito forte do amor de Deus.