Argentino que se passava por brasileiro há 13 anos é descoberto
Javier Ignácio de Campos registrou três filhos com nome de Pedro de Oliveira
O argentino Javier Ignacio de Campos, 33 anos, que chegou ao Brasil em 2001, “adotou” o nome de Pedro de Oliveira e, com documentos falsos, viveu até agora como brasileiro, tendo registrado três filhos com essa identidade. A descoberta do crime deu-se por acaso, a partir de um acidente de trânsito ocorrido em Brusque. Ao chegar ao país, Campos morou no alto vale do Itajaí. Em Imbuia conheceu a mulher com quem vive até hoje e que é mãe dos filhos que ele, como argentino, não podia registrar. Esse é o motivo que ele alega para ter se passado por brasileiro: registrar os filhos.
Só que, há mais de uma década, Campos passa-se por Pedro de Oliveira. O pai das crianças, segundo o registro, é Pedro de Oliveira. E o envolvido no acidente de trânsito em Brusque, em 2013, foi Pedro de Oliveira. O verdadeiro Pedro de Oliveira, que mora em São José do Cedro, no oeste catarinense, registrou um B.O., agora em abril, reclamando de seu nome estar citado no acidente de trânsito em Brusque.
Junto com o B.O., a polícia do município do oeste enviou para a polícia de Brusque cópia da carteira de identidade do Pedro de Oliveira. O Setor de Investigações Criminais (SIC) iniciou as investigações e localizou o Pedro de Oliveira “argentino”, no bairro Thomas Coelho, em Brusque. Ele se apresentou na delegacia de forma espontânea e mostrou a carteira de identidade, certidão de nascimento e CPF originais. Para a polícia, disse desconhecer o Pedro de Oliveira do extremo oeste e que não sabia o que estava acontecendo. Ao analisar as versões, o delegado Juscelino Carlos Boss percebeu que não haveria motivos para o Oliveira de São José do Cedro registrar um boletim de ocorrência, se estivesse com documentos falsos. O Oliveira de Brusque foi então intimado para colher a digital no Instituto Geral de Perícias (IGP) e realizar uma perícia na carteira de identidade dele. “Ao perceber que a coisa estava mudando de rumo, ele confessou para os policiais que o nome dele não era esse e que ele é argentino”, conta o delegado. Javier Ignácio de Campos foi preso na tarde de quinta-feira, 22.
A história que Campos conta, para justificar a mudança de identidade: quando nasceu seu primeiro filho, ele tentou registrar a criança como Javier Ignácio de Campos, mas o cartório não aceitou. A criança ficou registrada apenas com o nome da mãe. Algum tempo depois, conseguiu a identidade de Pedro de Oliveira e o juiz de Ituporanga mandou registrar o filho nesse nome. A polícia não acredita nessa história, porque “jamais um juiz autorizaria alguém a fazer algo com nome falso”, diz Boss.
Segundo o delegado, a mulher disse que o marido comprou o documento de um homem, já Campos disse que o irmão conseguiu para ele. “Qual das duas versões é a verdadeira, ainda não sabemos, mas o importante é que a certidão de nascimento que ele tinha, aparentemente é original”, afirma o delegado.
Pena pode chegar a cinco anos
Campos era o brasileiro Pedro de Oliveira para todos os seus conhecidos. O delegado conta que patrão de “Oliveira” disse que ele era uma pessoa boa e trabalhadora. O argentino exercia a função de pedreiro e até o momento não há informação de que tenha utilizado os documentos para praticar outros crimes. Enquanto se passava por Pedro de Oliveira, o homem tinha sotaque. Assim que confessou, passou a conversar com um pouco de ‘portunhol’. Ele foi preso em flagrante pelos crimes de uso de documento falso, com pena que pode chegar à cinco anos, e também por apresentar nome falso para permanecer em território nacional, com pena de até três anos. Campos foi encaminhado à Unidade Prisional Avançada (UPA) de Brusque.