Arte e medo do desconhecido
Sempre refletindo sobre a questão de formação de plateias seja para o teatro, música, artes visuais, cinema, principalmente os produzidos por artistas locais, me vem a ideia que um dos motivos da não-aproximação se dá por receio.
O hábito de frequentar espaços culturais forma-se a partir de um primeiro momento, um click, um contato com o êxtase. Isso pode não acontecer na primeira peça assistida. É preciso entrar no buffet, colocar diversos sabores, texturas e cores no prato, degustar, para enfim poder dizer “gostei disso, quero mais”. Por isso, oportunizar a criança, é tão fundamental. É a etapa da experimentação, da seleção sem preconceitos.
Já na adolescência, o primeiro contato tende a ser desconfiado – característica comum em humanos nesta faixa etária. Adolescente experimenta com o objetivo de não gostar, de repelir, apenas pelo prazer da rebeldia.
Muitos adultos nunca foram ao teatro. Se essa experiência não foi proporcionada na infância ou adolescência, a atitude de ir acaba sendo mais dificultosa ainda. Às vezes o convite de um amigo ou uma divulgação pontual são a botão de partida.
Muita gente ao tomar conhecimento sobre uma apresentação acessível (por data, local ou valor de ingresso) quer saber, antes de tomar a decisão de ir, do que se trata ou de quem se trata: se a peça for de um autor popular, ou já tiver sido apresentada em versão na tv, ou ainda (e preferencialmente!) se tiver no elenco algum ator global. No caso da música, se for cover tudo fica mais fácil, se for banda nacional ou dupla que aparece no Faustão, melhor ainda. Isso porque há um fenômeno contemporâneo na relação entre espectadores e obras de arte: medo do desconhecido. As pessoas querem ter a sensação antecipada de que vão gostar.
Vai, se joga
Na época das grandes óperas ou das peças de Shakespeare e Molière, por mais que houvesse credibilidade em algumas autorias e companhias, as pessoas iam assistir seus trabalhos simplesmente porque iam, era o que se fazia. E iam com o objetivo de conhecer, ver algo inédito, ter surpresas. Hoje, além da competição com outras mídias (que dispendem muito menos movimento – outro fenômeno atual, a preguicite aguda) há o receio pelo que não se sabe o que vai assistir. Queremos ter certeza das emoções que sentiremos. Não rompemos com essa linha de segurança. E assim, perdemos, deixamos de ver e ouvir obras feitas de formas únicas, com uma linguagem menos comercial, diferente, menos “mastigada”.
Vamos começar?
Nesta semana teremos vários eventos culturais em Brusque, promovidos pelo Sesc e pelo projeto BQ (en)cena, da Prisma Cultural. Quem sabe é a oportunidade para conhecer o desconhecido, hein, leitor?
De hoje a sexta-feira acontece o Circuito Sesc de Música, com apresentações no Auditório do IFC – Instituto Federal Catarinense (Jardim Maluche), sempre às 19:30h. A primeira apresentação (16/05) é com Bryan Behr, talento brusquense, com melodias leves e letras inspiradas. Nos dias 17 e 18 os shows são com músicos da capital: Dona Quimera e Felipe Coelho Trio. Entrada franca, tá?
Já no sábado, dia 19, quem sobe ao palco do Teatro do Cescb é a Setra Companhia, do Paraná, com o espetáculo “Contos de Nanook”. A apresentação ocorre às 19:30h e os ingressos estão à venda na bilheteria do teatro e na Livraria Graf, por R$ 20,00 (ou R$ 10,00 para meia entrada). A classificação da peça é a partir de 6 anos.
Pra quem achou a provocação leve e quer mais informações pode procurar no Facebook os respectivos eventos. Pra quem prefere desafiar o desconhecido, a sorte está lançada!
Lieza Neves – atriz, escritora, produtora cultural