À Nossa Resistência
Jaison Lorenceti, radialista e escritor
Jaison Lorenceti, radialista e escritor
Não há nada mais reagente do que a nossa espécie em provação. Só perderemos para nós mesmos. A história já deixou isso claro nas duas grandes guerras e, numa infinidade de vezes em que o ego humano, seja em escala internacional ou a na camada mais individual, agiu à frente do valor humano (que é inestimável).
Por conta própria, quase nos autodestruímos várias vezes, mas, inúmeras vezes, pelo esforço de sobreviver, vencemos os tempos mais nefastos. Todos os micros/macros-organismos possuem suas inteligências, defesas e vulnerabilidades.
Nós, entre as deficiências da imunidade, temos o poder da consciência. Esse sentido vital – chamado pela ciência de matéria escura, é expansiva o bastante para criar um mundo novo. Foi por esse instinto cognitivo que o homem ancestral nos trouxe até aqui, pelo modo de perceber que caminhar sozinho (nômade) não faria sentido.
É certo que teremos muitas perdas nesta batalha, mas, vencer a guerra é uma questão de coragem e de honra às nossas vítimas. Ainda que eu seja uma delas (e todos nós um dia tombaremos), procurei combater o bom combate.
A melhor estratégia é agir em fraternidade. O meu semelhante não é meu inimigo. Teremos diferenças e dificuldades no campo de batalha, mas, o próximo é tão soldado como eu – ele é meu irmão.
Minha rua é o meu país, minha casa é o planeta. A contar pelo tamanho do colosso, há muito dever a cumprir. Me apoio no ditado “primeiro o dever, depois o lazer”.
Das mãos que se lavam na bica até os dedos que manipulam os microrganismos para nos salvar do nefasto inimigo invisível, temos um só objetivo: lutar pela vida e manter o nosso lar arejado.
Antes da pandemia, estávamos à beira de tragédias humanas – elas infelizmente nos acompanharão por um bom tempo, mas ficou provado que no atual estágio nós podemos fazer melhor, é possível avançar para uma sociedade mais solidária. A terra continua a girar, porém, paramos para refletir nossas ações. O mundo estava queimando, derretendo, sofrendo com fenômenos naturais, dramas sociais e até existenciais – devido às enfermidades que atacam a mente e o espírito.
Pelo mundo, correntes migratórias cercavam os muros das nossas nações – onde estamos? A fome, a desigualdade, e uma série de intempéries em redemoinho ameaçavam o nosso conforto. O inimigo que hora combatemos, nos tirou da dita “zona de conforto”.
Sim, apesar de tantas mazelas que vimos progredir nas últimas décadas, a humanidade assistia a sua ruína moral e orgânica, enquanto sucumbia inerte.
A vida estava numa platitude e sensaboria tamanha que foi necessário um vírus para atacar nossa vã filosofia. Agora que na linha temporal nos encontramos juntos à distância, temos a oportunidade de olhar no espelho, que o tempo vago coloca diante de nós. Embora de aspecto abatido pelas dificuldades, frente ao oponente agigantado no espectro, juntos (de pensamentos bem dados) somos a maior célula de vida.
A natureza não dá saltos, diz a sabedoria, por isso, nossa caminhada estará sob um jugo pesado, porém, chegou a hora de carregamos unidos essa cruz e crer, tirar esperança de cada esforço empregado.
Surgirão novas palavras, novos significados do que é viver. A saudade do abraço, do singelo aperto de mão, do choro e do consolo, do suor, das lágrimas emparelhadas, dos afetos mais imensuráveis, prova que a nossa carne precisa ser ressuscitada – viveremos uma Páscoa das mais verdadeiras.
O traçado antropológico teoriza que o último homem será um ser consciência harmônica, com o universo e tudo à sua volta; seja dentro dele, até o amago da sua alma ou até os confins do Cosmos. Nossa bússola procura milenarmente o ponto cardeal perfeito do que é a vida.
Em 2015, escrevi que estávamos à época rumando para uma curva existencial. Acho que estamos no pico mais agudo dessa manobra e creio que à frente um Novo Mundo nos espera. Resista!