ARTIGO DE OPINIÃO – Intermitente que causa acidente

Artigo de opinião por Thiago Facchini Visconti
Estudante de Jornalismo

Desde maio de 2015, Brusque possui semáforos com luz amarela intermitente no fim da noite até o início da madrugada. O objetivo da antiga Setram (Secretaria de Trânsito), na época, era evitar assaltos em semáforos. A medida se tornou uma facilidade aos motoristas, que não precisam mais esperar por um longo período em sinaleiras em horários sem movimento.

Em alguns lugares, porém, o intermitente, que é uma facilidade, pode se tornar perigoso. É o intermitente que causa acidente. Recentemente, passei de carro no cruzamento da sorveteria Eskimó, no Centro, onde o amarelo da sinaleira pisca na madrugada, e é difícil enxergar com antecedência os carros que vêm no sentido ponte do terminal ao Bandeirante. Para passar com segurança no local, é necessário parar o carro por completo.

Pois é, se todos parassem o carro em semáforos intermitentes na madrugada, acidentes não seriam registrados. Mas será que confiar na boa vontade dos motoristas é o caminho? Não gosto de analogias, mas, digamos: se o poder público acreditasse na boa vontade da população, seria necessário discutir a instalação de guard-rails na Beira Rio toda vez que um carro cai no rio Itajaí-Mirim?

O argumento de que os semáforos intermitentes impedem assaltos, na verdade, não faz muito sentido na prática. Brusque não é São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou qualquer outra grande metrópole para o poder público se preocupar com assaltos em sinaleiras. Acidentes de trânsito, sim, devem ser uma preocupação, pois não precisa ser cidade grande para que colisões entre veículos ocorram.

Quem trabalhou na implementação da medida justificou, na época, que houve um caso de assalto em um semáforo no bairro Águas Claras. Porém, é necessário colocar na balança o que é mais fácil de evitar: acidentes ou assaltos. Importante lembrar que não são todas as sinaleiras que precisam ser reativadas na madrugada, mas, sim, somente as que ficam em trechos de maior risco de colisão caso não estejam em funcionamento.

Se o argumento fosse somente de evitar que os motoristas esperem por um longo tempo no semáforo com poucos carros nas ruas, faria mais sentido. Mas, por que não encontrar alguma medida para reduzir o tempo de espera em sinaleiras de trechos propícios a acidentes, como cruzamentos, ao invés de colocá-las no intermitente? O motorista teria que esperar 20 ou 30 segundos, somente. Seria uma solução: fluxo e segurança garantidos.

O cruzamento da rua João Bauer, no Centro, é um dos pontos que preocupa durante a madrugada. Me recordo quando fui cobrir uma colisão com capotamento no local em junho de 2021, por volta de 1h. A luz intermitente foi praticamente ignorada pelos motoristas. A batida foi feia. Um jovem de 18 anos foi levado ao hospital com ferimentos.

A proposta de 2015 foi positiva, mas é necessário que a Diretoria de Trânsito de Brusque, antiga Setram, reveja a medida. Se a sociedade não se comporta como deveria em prol do bem coletivo, a forma de ação do poder público devem ser as sanções.