Artista de Brusque é abordado pela polícia enquanto realizava projeto em muro de escola
Situação causou revolta no meio artístico brusquense
Artista de Brusque é abordado pela polícia enquanto realizava projeto em muro de escola
Situação causou revolta no meio artístico brusquense
- 19/02/2021
- 8:40
O artista de Brusque Douglas Leoni foi abordado pela Polícia Militar enquanto pintava o muro da escola Feliciano Pires, no Centro. O caso aconteceu na manhã desta terça-feira, 16.
Leoni colocava em prática mais uma obra do projeto Povo de Dentro quando foi abordado pelos policiais, por volta das 11h.
O projeto foi aprovado em um edital de cultura com recursos da lei Aldir Blanc e prevê a confecção de dez murais do Povo de Dentro pela cidade, em especial nos espaços escolares. O artista fará duas obras no Feliciano Pires, uma em cada lado do colégio.
Leoni relata que os policiais questionaram o que ele estava fazendo e quem deixou ele pintar o muro. “Nós temos medo da pessoa que deveria nos proteger. Eu tive medo de apanhar”.
Ele diz não concordar com a forma como a polícia o tratou. “O policial não precisa entender de arte, mas precisa ter respeito”. O artista ressalta que não é contra a polícia fazer seu trabalho, mas que é preciso ter “zelo e atenção”.
Leoni ainda conta que respondeu aos policiais que a arte faz parte do projeto financiado pelo edital de apoio à cultura, mas não foi ouvido.
Leoni ainda questiona por que a Polícia Militar o abordou. “Foi uma denúncia ou pararam por acaso?”. O artista costuma iniciar o trabalho cedo, por volta das 6h, por conta do sol. “Imagina se estou lá às 6h, sem ninguém no colégio?”. “Eu não concordo com esse modelo como a polícia age. Eu como artista, como professor, não creio na violência, creio no diálogo”, complementa.
O comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar de Brusque, coronel Otávio Manoel Ferreira Filho, diz que os policiais estavam em ronda quando avistaram o artista.
Segundo ele, Leoni foi abordado por policiais do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT). “Com o tático a energia é um pouquinho a mais do que com a radiopatrulha. Pelo que ele relatou, não vi nada que possa chamar abusivo ou exagerado”, avalia Ferreira Filho.
Sobre o porte de armas, o comandante justifica que os policiais sempre andam armados. “Policial nunca vai estar desarmado, ainda mais o PPT. Sempre vão descer da viatura com armamento em mãos porque não se sabe o que pode ocorrer, sempre tem que estar preparado”.
Na visão do oficial, “desenho artístico pode confundir com pichação”. Por isso, justifica que a abordagem aconteceu porque os policiais entenderam que ele poderia estar “pichando” a parede da escola. “Pelo contexto resolveram abordar”. O comandante diz que assim que souberam que a pintura foi permitida, a guarnição deixou o local.
O que é o projeto Povo de Dentro
O projeto Povo de Dentro é viabilizado por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017/2020) no município de Brusque. A autoria é de Douglas Leoni, artista, professor de artes e arteterapeuta.
Leoni conta que o projeto envolve os artistas Márcia Cardeal, Vania Gevaerd, Jô Leoni, Gabriela Ristow Buss, João Knihs Neto, Maria Zucco, Tarcísio Ullrich e mais duas empresas. “Não é um projeto qualquer, não é uma brincadeira, é uma coisa séria”. Há um cronograma a ser seguido e ainda é preciso prestar contas.
O artista diz que ainda existe uma dificuldade da população em entender como os editais de cultura funcionam. “Eu não sou vagabundo, eu tenho uma história de anos na arte brusquense”, enfatiza.
Leoni começou a desenhar em meados de 2013. Conversando com outros artistas, compreendeu que o que fazia era arte. Em 2019 ele conseguiu levar os desenhos do papel para a parede.
O Povo de Dentro “é o povo que habita o Douglas Leoni”, diz o artista. A galeria urbana é formada principalmente por escolas, desde creches até a universidade. “Quero aproximar a arte do ambiente escolar porque acredito que a arte é um caminho para a transformação social. O Povo de Dentro não é só um desenho, é expressão”, finaliza.
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