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As drogas e o caminhão: presidente do sindicato pede mais fiscalização na categoria

Segundo José Vilmar, é preciso também mais profissionalização

Durante o fim de semana, o acidente envolvendo um caminhoneiro e um casal em uma moto, em Penha, gerou diversas discussões. A Polícia Rodoviária Federal (PRF), que atendeu ocorrência, citou que o condutor que causou o acidente estava sob efeito de drogas e mais de 28 horas sem dormir.

Por conta disso, diversas críticas sobre a cultura do uso de entorpecentes por essa categoria voltaram a ser destacadas, assim como a carga horária e obrigações dos caminhoneiros. O assunto é antigo, mas ainda recorrente na vida desses profissionais.

José Vilmar é presidente do Sindicato dos Condutores de Veículos e Trabalhadores nas Empresas de Transporte de Cargas de Blumenau (Sintroblu). Segundo ele, o uso de drogas por caminhoneiros, por mais que seja algo “famoso”, não é da maioria, mas existe e é problemático. Mas a falta de profissionalização e de fiscalização são os maiores causadores desta situação.

O sindicalista destaca que os profissionais que são registrados possuem uma legislação que os dá o máximo de horas que podem trabalhar por dia (12 se somados 8 mais 4 extras) e outras regras para evitar a exaustão. Porém, normas que tiveram afrouxamentos nos últimos anos.

“Antes um caminhoneiro que ficava na fila de espera para descarregar tinha esse período contado na hora de trabalho e recebia um terço da hora, mas com a alteração, isso não conta mais na jornada de trabalho. Ou seja, ele pode ficar a noite inteira acordado na fila, porém, depois de descarregar pela manhã, já tem que iniciar outra viagem”, argumentou.

O uso das drogas na profissão é algo cultural e não é novo. Vilmar conta que no início, muitos caminhoneiros tomavam café com Coca-cola, depois começaram a usar o rebite, até que chegaram às drogas mais pesadas, como a cocaína.

Rebite ficou conhecida como a droga do caminhoneiro. Foto: PRF/Divulgação

Na legislação, o caminhoneiro, precisa passar por teste toxicológico sempre que for renovar a CNH. Além disso, o profissional que está com carteira assinada também precisa, a cada dois anos e meio, passar pelo teste, que detecta o uso de drogas nos últimos seis meses.

Mas para Vilmar, tanto a legislação envolvendo a carga horária, quanto a toxicológica falham quando não há fiscalização e falta de profissionalismo.

Enquanto os motoristas que são representados pelos sindicatos e regidos pela CLT contam com bastante controle, o autônomo muitas vezes precisa quitar o veículo, precisa pagar as contas e levar o dinheiro pra casa. Quando atua por comissão é cobrado por agilidade e quer fazer mais serviços para conseguir receber melhor.

“Não tenho dúvida que se existisse mais fiscalização trabalhista pela jornada de trabalho do motorista, e mais fiscalização nas rodovias para o uso de drogas, muito menos problemas aconteceriam”, relatou.

Divulgação/Senado Federal

O psicólogo Antônio Gomes da Rosa, comentou sobre a “cultura da droga” no ramo de caminhoneiro. Segundo ele, como a pressão no trabalho é uma característica forte na profissão, o uso dos entorpecentes e formas de se manter acordado se tornou “normal”.

“Isso os leva a um comportamento danoso, ele sofre esses danos e é cumulativo. Teremos uma pessoa que cada vez mais vai demonstrar ansiedade e abstinência. Ele vai ter que usar sempre, porque ele está se acostumando ao comportamento que só se estimula com essa droga. Começa psicológico, vai pro físico, e se torna fisiológico”, relata.

Para o psicólogo, essa situação não é tão diferente do as discussões que existem durante a pandemia de Covid-19. Ele cita o exemplo dos primeiros pedidos de lockdown, quando muitos pediam que fosse feito para a proteção da saúde, outros destacavam a necessidade de se trabalhar pra colocar comida na mesa e pagar as contas. Para Antônio Gomes da Rosa, o mesmo acontece com o caminhoneiro, que em algumas oportunidades usa a droga para conseguir finalizar o trabalho.

“O problema começa no social, quando o caminhoneiro se vê precisando trabalhar até morrer pra levar comida pra casa, passa a ser psicológico, quando ele usa as drogas pra se manter acordado e vira refém delas, e muitas vezes termina em criminal, jurídico, quando ele se torna um usuário ao volante e acontecem esses acidentes”, destaca.

Tanto o presidente do sindicato, José Vilmar, quanto o psicólogo Antônio Gomes da Rosa reforçaram que não estão em defesa do uso das drogas, pelo contrário. Porém, acreditam que se deva ter mais atenção aos temas citados para evitar que os profissionais recorram a esta situação.


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