As mulheres têm o poder de criar e mudar seus próprios destinos e não precisam de um homem para isso. “As Sufragistas” é o filme que dá fortes tapas na cara do telespectador, que reflete nos olhos de cada mulher a angústia de ser do sexo feminino em uma sociedade patriarcal e que revolta toda massa populacional dotada de amor ao próximo. Para quem não tem empatia, ou finge ter, o longa é “só mais um filme, nada demais”, mas acredite, ele é muito, muito mais que isso.
A história se passa no início do século XX e retrata a trajetória de uma empregada de uma lavanderia, Maud Watts, a princípio pouco engajada na luta feminina, mas que aos poucos se envolve na causa e se torna uma das líderes do movimento sufragista. Uma luta travada por milhares de mulheres inglesas pelo direito de votar. Tal luta não se limitou a passeatas pacíficas com bandeiras erguidas: elas foram maltratadas, perseguidas, julgadas pela população, despejadas de casa, perderam seus filhos, foram presas, espancadas, torturadas, deram as suas vidas pela causa. Elas tiveram que afrontar cada homem que as consideravam putas, cada mulher conservadora que as tachavam de desocupadas, a mídia que as tinham como baderneiras, a polícia que as tratavam com irresponsável força bruta e o governo que as viam com descaço. Elas tiveram, por tempo demais, que “dar o seu jeito” para conciliar a vida difícil de ser mãe, esposa, dona de casa, semiescrava industrial e, ainda, não ter nenhuma representatividade política. Se as mulheres são tantas em número, tão fortes, e tão decisivas para a economia, a sociabilidade e a vida, por que então elas não poderiam votar e, assim, eleger alguém que as representasse dignamente? Porque segundo a sociedade inglesa do século XX – e muitas outras sociedades, até hoje – as mulheres possuem um equilíbrio mental menor que o masculino e, deste modo, não podem decidir sobre questões políticas ou sociais. Fala sério né! Hoje, para alguns de nós, essa visão discriminatória pode parecer absurda, mas era (é) comum em sociedades que tratam com notável barbárie as mulheres, negando-as direitos básicos, como o sufrágio.
“As sufragistas” além de nos trazer uma temática muito relevante, nos entrega de bandeja a ótima interpretação de Brendan Gleeson, que merece elogios por seu trabalho como o chefe da inteligência, até por ser o único personagem mais complexo. Meryl Streep pareceu forçada na sua minúscula participação como a líder maior das sufragistas. Cena lamentável. Helena Bonham Carter, como Edith Ellyn, também aparece no filme, mas nada demais. Apesar das falhas interpretativas e a sobra de personagens rasos, temos a fotografia monocromática do filme, que cumpre seu papel nos contextualizando num cenário social ainda mais sujo e deturbado da Inglaterra pós-revolução industrial e uma produção incrível dos figurinos. Todos esses fatores dão ao filme a notória qualidade de ser extremamente revelador e importante, socialmente falando.
“Ouço o som de pés. Mil vezes, dez mil, milhares e milhares estão vindo para cá. São os pés daqueles que seguirão você. Lidere-os” . Assim, o filme encerra nos dando a tão almejada notícia: em 1918 o voto foi dado a algumas mulheres acima dos 30 e 10 anos depois, todas as mulheres obtiveram direitos iguais aos homens, em relação ao sufrágio. Mais de mil mulheres foram aprisionadas durante a luta e centenas foram mortas em confrontos ou nas prisões. Elas deram tudo o que tinham para que as outras tivessem o que não tinham, assim, serão lembradas como heroínas, guerreiras e salvadoras. Uma salva de palmas para cada uma delas, e para todos, ao redor do mundo, que até hoje lutam para adquirir algum direito social.
Pedro Rabelo de Araújo Neto – 17 anos – calouro no curso de Relações internacionais na UFSC