As surpreendentes músicas de 1967

O melhor de dois mundos: olhar o passado a partir das ferramentas que temos hoje à nossa disposição. No momento, isso quer dizer montar uma playlist no Spotify reunindo muitos dos principais hits que fazem 50 anos em 2017. Com muita ênfase, é claro, no rock. Mas com espaço para a impressionante quantidade de estilos que conviveram naquele período, entre estabelecidos e recém-criados.

Já falamos aqui sobre como o Spotify mudou, mais uma vez, o nosso jeito de ouvir música (e –  spoiler!!! – vamos voltar a falar nisso em breve). E já demos a largada na longa conversa sobre os “aniversários redondos” deste ano, destacando Beatles (com Sgt. Peppers e Magical Mistery Tour), Stones com Between the Buttons e Their Satanic Majesties Request, a estreia de The Doors e do Velvet Underground.

Mas o 1967 tem muito mais. É praticamente inesgotável e talvez só seja comparável, em termos de diversidade histórica, com 1977. Dois marcos fascinantes. Dá para confirmar o quanto 67 foi marcante por esta playlist de “apenas” quase 5 horas de música excepcional, uma atrás da outra. Volte no tempo agora mesmo!

Os anos 60 mantinham firme a tradição dos singles, das músicas lançadas no que, aqui, conhecemos como compactos. Músicas lançadas para consumo imediato, para tocar muito e, depois, fazer parte (ou não) de álbuns completos. Se pensarmos bem, nossa tendência atual de não ouvir discos inteiros não é nenhuma novidade. O público que faz questão de ouvir tudo, faixa por faixa, sempre foi uma minoria.

Ter a noção da cultura dos singles é importante para começar a falar das músicas que estão na playlist de fundamentais de 67. Temos dois singles do Pink Floyd, Arnold Layne e See Emily Play. Nenhuma das duas músicas está no disco de estreia da banda, The Piper at the Gates of Dawn, lançado no mesmo ano. Mas talvez sejam mais lembradas do que as músicas que entraram no disco.

O mais impressionante é pensar que temos o nascer do rock progressivo no mesmo ano em que foram lançados hinos definitivos do movimento hippie: San Francisco (Be Sure to Wear Floers in Your Hair), de Scott McKenzie e os primeiros sucessos de Hendrix, Purple Haze e Foxy Lady.

É como se várias faixas temporais dividissem o mesmo trecho da estrada: o flower power, o rock progressivo, o amadurecimento dos Beatles, dos Stones e de Bob Dylan – é o ano de All Along the Watchtower (que ganhou, seis meses depois, a cover de Hendrix que se tornou versão definitiva da música).

Tem ainda muita música negra americana, daquele tipo que serviu de base para praticamente tudo o que veio nas décadas seguintes: Marvin Gaye com Ain’t No Mountain High Enough, Otis Redding com Knock on Wood, Dione Warwick com I Say a Little Prayer, Aretha Franklin com Chain of Fools e Respect, Sam & Dave com Soul Man. Um “melhores de todos os tempos” lançado nos mesmos 12 meses.

Ah, sim: também foi o ano da grande parceria de Frank Sinatra com… Tom Jobin. O ano da “versão gringa” de Garota de Ipanema. O que nos lembra que, na próxima semana, vamos falar de 1967 no Brasil. Que tal?