X
X

Buscar

Assassinato da grávida de Canelinha completa um ano; relembre o caso

Processo judicial do crime ainda está em andamento

Colaborou Eliz Haacke

Neste sábado, 28, completa um ano que Flavia Godinho Mafra, de 24 anos, foi encontrada morta em uma cerâmica abandonada em Canelinha. Ela estava grávida de 36 semanas quando desapareceu um dia antes. A polícia encontrou o corpo sem a bebê, que tinha sido retirada do útero com um estilete.

A acusada do crime é Rozalba Maria Grime, 27, que confessou ter matado Flavia com golpes de tijolo na cabeça. Agora, após um ano, o processo judicial ainda está em andamento e Rozalba deve ir a júri popular.

De acordo com sentença do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), dada em julho, o julgamento dela será por homicídio quintuplamente qualificado com agravante, tentativa de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, de parto suposto, de subtração de incapaz e de fraude processual.

Flavia desapareceu no dia 27de agosto após ir a um suposto chá de bebê | Foto: Arquivo pessoal

Ainda, a decisão aponta que o ex-companheiro da acusada, Zulmar Schiestl, foi absolvido do crime. Em maio, o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) solicitou que a Justiça o absolvesse, com a alegação de que ele foi enganado.

Segundo a sentença, foram achadas diversas conversas sobre a falsa gravidez no celular de Zulmar, que comprovam que fora manipulado por Rozalba. Sobre o julgamento de Rozalba, ainda não há data para o júri popular acontecer.

Desaparecimento de Flavia

Na tarde de quinta-feira, 27 de agosto de 2020, a família de Flavia, que era moradora do bairro Cobre, em Canelinha, percebeu o desaparecimento dela.

De acordo com a amiga da família, Josiane Benevenute, naquele dia seria realizado um chá de bebê surpresa para Flavia. A princípio, o encontro aconteceria em São João Batista.

Ela estava grávida da pequena Cecilia | Foto: Arquivo pessoal

Rozalba, que era amiga de Flavia, ofereceu carona e a mulher não foi mais vista. Segundo informações iniciais daquele dia, Rozalba tinha levado fraldas para a vítima e deu carona até a ponte que fica na avenida Joaquim José Santana. A estrutura liga os bairros da Galera e Papagaios.

De lá, Flavia pegaria carona com outra mulher para levá-la ao chá de bebê surpresa. Entretanto, Rozalba contou que teve o bebê no meio do caminho e precisou ir ao hospital.

Ainda, naquela ocasião, Josiane informou que a última visualização da amiga no WhatsApp tinha sido às 15h48 daquele dia. No entanto, ela não atendia mais as ligações da família e não respondia as mensagens no aplicativo de mensagens.

“A Flavia é uma menina extremamente responsável, é ligadíssima aos pais, namorou por anos e agora está casada. A Flavia não fugiu. Ela está radiante e extremamente feliz. Aconteceu algum problema”, contou Josiane ao noticiar o desaparecimento da amiga.

Assassinato

Na manhã seguinte, na sexta-feira, 28 de agosto, Flavia foi encontrada morta e Polícia Civil prendeu duas pessoas suspeitas. Foi o casal Rozalba e Zulmar Schiestl, que neste ano foi absolvido.

Flavia foi atingida com tijoladas, teve o bebê arrancado do ventre e foi abandonada em uma olaria’ | Foto: Miriany Farias/Arquivo O Município

Mais tarde naquele dia, a polícia descobriu que o chá de bebê era falso e fora criado pela Rozalba. Em depoimento ao delegado Paulo Alexandre Freyesleben e Silva, a acusada afirmou que enganou Flavia, deu carona e a levou até o bairro Galera, onde a matou.

No depoimento, Rozalba confessou que deu um golpe com um tijolo na cabeça da vítima, que caiu no chão. Na sequência, ele teria dado novos golpes. Depois, foi utilizado um estilete para cortar a barriga de Flavia e retirar a bebê.

Detalhes do crime

Ainda naquela sexta-feira, 28 de agosto, o delegado Paulo contou em coletiva detalhes do depoimento. Segundo ele, Rozalba contou que o assassinato de Flavia foi planejado com pelo menos dois meses de antecedência.

No relato, a acusada informou que teria engravidado em outubro, mas perdeu o bebê em janeiro de 2020. Porém, ela não informou aos familiares, inclusive ao marido Zulmar. Em meados de junho de 2020, identificou a amiga grávida e desde então premeditou o crime.

A investigação da polícia apontou que Rozalba abordou outras mulheres questionando detalhes sobre gravidez. Prints de conversas foram divulgados e neles é possível ver que a mulher se aproxima perguntando quando nascerá a criança. Depois de perguntar a data de nascimento, ela ainda questiona onde a mulher morava.

Rozalba foi presa após confessar o assassinato de Flavia | Foto: Arquivo pessoal

Ela relatou que os familiares não tinham conhecimento do plano e fingiu que estava grávida durante aqueles últimos meses. Na época, a polícia trabalhava com a hipótese de que o marido de Rozalba sabia que ela tinha perdido o bebê e teria ajudado no crime. Contudo, após investigação, foi constatado que Zulmar também foi enganado pela esposa.

A acusada informou aos policiais que armou o chá de bebê, dando carona para a vítima até o suposto local do evento. Apesar disso, parou na cerâmica abandonada e disse para a vítima que as pessoas estavam chegando no local.

Flavia teria dado as costas para Rozalba, que deu uma tijolada na cabeça da vítima. Em seguida, ela desferiu outros golpes, que deixaram grávida inconsciente. Neste momento, ela pegou o estilete, fez um corte na barriga da vítima e tirou a criança do ventre da mãe. Ela alegou que estava sozinha no momento do crime.

Corpo de Flavia foi localizado pela mãe dela | Foto: Miriany Farias/Arquivo O Município

O corpo da Flavia foi encontrado pela mãe. A Polícia Militar descobriu a localização do corpo através da comunidade. Na cerâmica, o corpo e a arma branca utilizada no crime se encontravam próximo a uma fornalha.

A investigação da Polícia Civil apontou que a causa da morte de Flavia foi uma hemorragia decorrente do profundo corte sofrido na barriga.

Parto falso

Antes de ser presa e dar depoimento para a polícia, Rozalba fingiu um parto para tentar oficializar o nascimento falso da filha dela. De acordo com a investigação, ela foi até o hospital de Canelinha.

Lá, ela relatou aos profissionais de saúde que teria tido o parto na rua e que foi auxiliada por moradores. Estes a levaram até a entrada do condomínio em que reside. A partir daí, ela foi levada ao hospital.

Rozalba escondeu a falsa gravidez do marido Zulmar | Foto: Arquivo pessoal

A criança recebeu atendimento médico no hospital e a suposta mãe foi atendida por um médico especialista. O profissional percebeu que Rozalba não apresentava indícios de parto recente, o que causou desconfiança da equipe médica.

Por volta das 21h daquela quinta-feira, 27 de agosto, a Polícia Militar foi acionada por suspeita de lesão corporal a uma criança recém nascida no hospital. No local, foi constatado que a bebê tinha cortes profundos nas costas e uma lesão em um dos braços. A PM lavrou boletim de ocorrência e seguiu com as atividades normais.

Na sexta, os policiais receberam a informação de que havia uma grávida desaparecida, e o último contato dela teria sido com a suposta gestante que foi ao hospital. Então, foi feito contato com a suspeita. Após o corpo ser encontrado na cerâmica abandonada, a polícia voltou a falar com a suspeita no hospital, que confessou o crime.

Flavia tinha casado há pouco tempo com o primeiro namorado Valdeli Mafra | Foto: Arquivo pessoal

A bebê de Flavia chegou a ficar internada por dez dias em setembro de 2020, no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis. Felizmente, ela sobreviveu aos ferimentos causados pelo estilete e por ter nascido prematura. Após a alta, no dia 6 de setembro daquele ano, ela ficou bem e aos cuidados do pai, Valdeli Mafra.

Júri popular

No juri popular, o homicídio de Flavia será julgado como qualificado por “motivo torpe”, “emprego de meio insidioso ou cruel”, “emboscada, dissimulação ou recurso que dificulte a defesa da vítima“, “para assegurar vantagem de outro crime”, “contra mulher por razões da condição de sexo feminino” e com aumento da pena por ter sido praticado contra gestante.

Já a tentativa de homicídio trata-se do bebê, qualificado por ter sido contra pessoa indefesa. A sentença aponta que Rozalba estava ciente da possibilidade de ferir o bebê, apesar de não querer matá-lo. Contudo, caberá aos jurados avaliarem a presença ou não do propósito homicida neste caso.

Rozalba se aproximou de Flavia após descobrir a gravidez dela | Foto: Arquivo pessoal

Para o júri, serão intimados o Ministério Público, o assistente de acusação e a defesa de Rozalba para que apresentem o rol de testemunhas que irão depor em plenário. Portanto, ainda não há data para o júri acontecer.

No dia 16 de março deste ano, a primeira audiência do caso foi realizada. Na oportunidade, as testemunhas do caso foram ouvidas. Participaram 14 testemunhas e os dois réus, Rozalba e o marido Zulmar Schiestl.

Exame de sanidade mental

Em julho, a defesa de Rozalba pediu por novos exames, com objetivo de avaliar sanidade mental da acusada. No documento, a defesa dizia acreditar em “tendência psicopatia” e buscava uma semi-inimputabilidade.

Entretanto, a última sentença do TJ-SC apontou que o pedido foi rejeitado.

Rozalba passou por exame de sanidade mental | Foto: Arquivo pessoal

Segundo o documento, o Perito Judicial declarou que “não considerou necessário realizar entrevistas ou exames complementares, tendo em vista que a riqueza de elementos colhidos na entrevista, e as informações constantes nos autos processuais e inquérito policial, permitiram formular conclusões e responder aos quesitos propostos”.

Então, a decisão ressaltou que a defesa apresentou argumentos genéricos no sentido de que deveriam ser aplicados outros métodos para avaliação psicológica da Rozalba, o que não justificaria a realização de nova perícia.

Zulmar absolvido

Em outubro de 2020, a defesa de Zulmar já havia apontado que ele teria sido enganado por Rozalba. Contudo, a absolvição foi oficializada em julho deste ano, após a sentença do TJ-SC. O documento apontou provas da investigação de que ele não se envolveu no crime.

Uma delas é uma conversa específica entre ele e Rozalba. No texto, Zulmar pediu para acompanhar ela nos exames do bebê. Ela, então, criou uma falsa mensagem de cancelamento.

Zulmar afirma que foi enganado por Rozalba | Foto: Arquivo pessoal

Dias após mentir para Zulmar, Rozalba enviou nova mensagem afirmando que havia realizado o ultrassom morfológico no Posto de Saúde. Ela então encaminhou fotos falsas para ele, tanto do bebê em gestação quanto dos dados da sua então gravidez. Inclusive, tal fotografia é justamente uma que ele estampou uma camiseta.

Além de Rozalba ter pedido uma caneca com tal imagem para presentear o esposo no dia dos pais. Na decisão, outras provas apontam que Zulmar acreditava na gravidez da companheira. Ainda, aponta que ele trabalhava durante a semana em Guabiruba e retornava para a casa do casal apenas nos fins de semana, o que facilitou para o sucesso da farsa da falsa gravidez.

Memórias da Flavia

Após o crime, familiares e amigos de Flavia relembraram que ela era uma mulher alegre, dedicada à família e de um coração generoso. Ela era casada por quase um ano com Valdeli, o primeiro namorado. A jovem esperava ansiosa pela chegada da primeira filha, Cecília, prevista para nascer em setembro de 2020.

Formada em Pedagogia pela Unifebe, a jovem era apaixonada por crianças e trabalhou durante alguns anos como professora na educação infantil. No ano passado, porém, ajudava uma das melhores amigas em uma loja de bordados em Canelinha.

Uma das amigas dela, Jeisiane Benevenute Pacheco, recordou em reportagem ao jornal O Município, que conheceu a amiga durante a infância, mas as duas ficaram mais próximas durante a adolescência. A amiga participou de vários momentos importantes da vida de Flavia, como o casamento e também foi escolhida para ser uma das madrinhas de Cecília.

Amigas afirmaram em reportagem na época que Flavia estava feliz com a gravidez | Foto: Arquivo pessoal

A amiga descreveu Flavia como uma pessoa meiga, carinhosa e muito generosa. “Ela era muito boa de coração para as pessoas. Se comovia. Se a pessoa era boa com ela, já dava um sorriso, confiava muito nas pessoas e por maldade acabou confiando nesta mulher que tirou a vida dela”.

Jeisiane destacou que Flavia e o marido formavam um casal muito especial. “Ela era decidida, caprichosa, adorava fazer decoração, gostava de música. Era muito apegada com a mãe e o marido era tudo para ela. Ele está muito arrasado, ela era o apoio dele”, diz.

Josiane Firmo da Silva, outra amiga e escolhida de Flavia para ser madrinha de Cecilia, descreveu a vítima como uma pessoa sorridente. “Ela era uma pessoa incrível, sempre sorridente, não tinha dia ruim com ela. Sempre brincalhona, uma ótima professora”, diz.

Flavia faleceu devido à hemorragia causada pelo corte profundo na barriga | Foto: Arquivo pessoal

A amiga disse que Flavia também era uma ótima filha e esposa e sempre estava disposta a ajudar. Josiane lembra que a amiga estava muito feliz com a chegada da filha. “Ela estava feliz e muito ansiosa agora no final. Ela iria se consultar na terça-feira em Florianópolis e talvez já ficasse lá para o parto porque ela tinha diabete gestacional. A Flavia era muito importante para todos nós e merecia ser muito feliz”, disse à reportagem na época.

No dia da missa de sétimo dia, amigos e familiares realizaram uma carreata pelas ruas de Canelinha pedindo justiça pela vítima.


Receba notícias direto no celular entrando nos grupos de O Município. Clique na opção preferida:

WhatsApp | Telegram


• Aproveite e inscreva-se no canal do YouTube