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Associação de Radioamadores de Brusque mantém viva a comunicação longe do telefone e da internet

20 pessoas fazem parte da associação que completa 50 anos em novembro

O grupo que forma a Associação de Radioamadores de Brusque (Arab) conserva, há quase 50 anos, a comunicação longe do telefone e da internet. Hoje, a Arab conta com 20 associados que têm como hobby manter contato com pessoas de todo o mundo por meio de uma estação de rádio doméstica.

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Cada membro da associação tem a sua própria estação em casa e, uma vez ao mês, se reúnem na sede da Arab – atrás do reservatório do parque Leopoldo Moritz – para trocar experiências e manter o radioamadorismo cada vez mais vivo na cidade.

Assim como os radioamadores brusquenses, milhares estão espalhados pelo mundo. Para eles, bater papo pelas ondas do rádio é a melhor diversão. “Quando se chama alguém no rádio, quem vai responder pode ser de muito longe. Nós nunca sabemos até onde o nosso chamado vai chegar. Pode entrar um país mais perto, mais longe, esse é o interessante do radioamadorismo, não é uma coisa fria como a internet. No radioamadorismo você tem o contato mais próximo”, resume Carlos Fernando Penzlien, presidente da Arab e radioamador há 30 anos.

No entanto, para ser um radioamador não basta ter os equipamentos, é preciso seguir algumas regras que são reguladas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Todo radioamador precisa ter um registro no órgão e passar por testes de habilitação. São três as classes de radioamador: A, B e C.

“A classe C é para iniciantes. Para conseguir o registro é preciso prestar uma prova em Florianópolis de legislação e técnica operacional. Para passar para a classe B, é preciso estar há um ano na classe C. A prova da classe B é sobre recepção e transmissão em código morse, telegrafia e eletricidade. Já a classe A tem a maior abrangência, pode falar em todas as faixas. Para passar para esta categoria também é preciso estar há um ano na classe B”, explica.

Além da potência permitida para cada classe, o radioamador precisa levar em conta algumas regras sobre os assuntos de cada conversa. “Você não pode comercializar, falar em política, religião e nem tratar de assuntos polêmicos. Esses são os principais requisitos. Logicamente, existem punições que podem ser uma simples advertência da Anatel, cassação do indicativo por tempo indeterminado ou, se for reincidente, pode responder criminalmente e até ser preso. O radioamadorismo é uma coisa séria, por isso ainda sobrevive”, destaca Penzlien.

As conversas pelo radioamador acontecem com pessoas de estados vizinhos como Paraná e Rio Grande do Sul, ou até de locais um pouco mais distantes como Brasília e Minas Gerais. Há também os bate-papos com estrangeiros. “Já tivemos contatos com muitos países porque temos antenas apropriadas para isso. Já falamos com Japão, Itália, França, Alemanha, Estados Unidos”, enumera.

Normalmente, quando os radioamadores brusquenses querem entrar em contato com colegas estrangeiros, precisam adaptar o fuso horário. “Quando quer pegar um lugar bem longe, bem remoto, se levanta de madrugada por causa do fuso horário. A gente senta na frente do rádio e fica esperando alguém chamar, dá uma chamada, pra ver se alguém lhe ouve, se alguém responde. Isso que é o gostoso. A gente não sabe o que vai entrar, pode ser de perto ou muito longe”, ressalta.
Comunicação em código

A comunicação pelo radioamador é feita em código. Para contato fora do Brasil, o mais usado é o código fonético internacional. “Por exemplo, a letra A é alfa. B é bravo, C é charlie e por aí vai”.

Já o código Q é utilizado em conversar com radioamadores brasileiros, já que serve para abreviar as expressões. “Nesse código, quando a pessoa compreende a mensagem, por exemplo, ela diz QSL ao invés de dizer entendi. No começo parece difícil, mas com o tempo você acaba decorando e nem percebe mais quando usa”, afirma.

Para se comunicar com outros radioamadores, os membros da Arab mantém antenas repetidoras VHS. Uma delas está localizada no morro do Brilhante, em Itajaí, a 568 metros de altura. “Ela abrange toda a nossa cidade. Vai desde Florianópolis até o começo da serra de Curitiba, e foi inaugurada em 1979”.

A associação mantém também mais antenas em sua sede, no parque Leopoldo Moritz. “Somos uma entidade sem fins lucrativos. Todas as nossas antenas são mantidas pelos associados. Não recebemos nenhum tipo de recurso”, ressalta Nalú Coelho Gomes, membro da associação.
Auxílio à comunidade

Muito mais do que um hobby, os radioamadores também prestam um serviço à população em períodos de catástrofes. “O radioamadorismo serve para entrar em funcionamento quando os demais meios de comunicação falham, como televisão, telefone, internet. Então, imediatamente, são acionados os radioamadores, já na própria licença, na própria outorga do Ministério das Comunicações já fica esclarecido que a concessão é dada com a seguinte condição: nós temos que prestar auxílio e socorro em tempos de catástrofes”.

As situações de auxílio mais recentes dos radioamadores de Brusque foram nas enchentes de 2008 e 2011. “Em 2008 nós ficamos no ar quase 12 dias direto prestando auxílio à comunidade, Defesa Civil, Exército e Aeronáutica, nós passávamos todas as informações para aqueles que necessitavam de ajuda. O radioamador em si não vai socorrer ninguém, isso cabe à Defesa Civil, ao Corpo de Bombeiros, o radioamador só transmite mensagens, que precisam ser curtas e objetivas, só o necessário”, explica.

“Em 2011 fomos pegos de surpresa, não se tinha a previsão que se tem hoje. Operamos do Tiro de Guerra, outro colega que não pegou água foi pra prefeitura, e em 2012 quando houve ameaça de enchente, na sexta-feira fomos convidados pela prefeitura para reunião com outras instituições e ficamos de prontidão”, completa Penzlien.

O trabalho de ajuda à população vem desde o início da associação. “Em todas as fases que o clube passou os radioamadores sempre estiveram a postos quando se fez necessário. Muitas vezes aconteceu de o radioamador deixar a própria família para auxiliar a comunidade”, afirma Nalú.

No entanto, o presidente destaca que o radioamadorismo não se resume apenas ao auxílio à comunidade. “Radioamador não é ficar em frente ao rádio sentado esperando uma tragédia acontecer. Nós temos diversos eventos dentro do radioamadorismo, são os contestes nacionais e internacionais – uma espécie de competição – aqueles que fazem maior pontuação, falam mais longe, com maior número de pessoas, vencem. Isso motiva a pessoa”.
Clandestinidade

Durante as conversas, os radioamadores muitas vezes pegam interferências causadas por pessoas que não tem autorização da Anatel para operar. “O radioamador tem a sua frequência de operação e suas normas técnicas. Se fizer a coisa certa não vai dar interferência em nada, agora uma pessoa desavisada, se houver algum dano contra alguém, é notificada pela Anatel, que pode investigar junto à Polícia Federal. Já pegamos interferência, mas não é comum. Há tempos atrás isso acontecia com mais frequência”.

Os fundadores

A Arab foi fundada oficialmente em 17 de novembro de 1965, pelo padre Wandilino Waterkamper, Miguel Moacir Machado e Herbert Schlindwein. Os primeiros radioamadores de Brusque, no entanto, foram Egon Krieger e José Walendowsky. Entre os nomes que fizeram história na associação estão: Urbano Kistemacher, João do Santos, padre Anselmo Schmitter, José Torres de Miranda, Horst Schlösser, Ingo Arlindo Renaux, Valério Walter Schlindwein, Reinoldo Souza, Dom Wilson Laus Schmidt, Heinz Willrich, Clemento José Dominoni, João Maurici, Adhemar Félix Schlindwein, Erich Bueckmann e Osny Novaes.


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>> Vídeo: Associação mantém viva paixão pelo radioamadorismo em Brusque