Atropelamentos de animais silvestres são frequentes na região
Risco aumenta durante a primavera, período de acasalamento da maioria das espécies
O aumento do fluxo de animais silvestres nas estradas e rodovias da região se reflete no volume de atropelamentos. Mesmo sem um levantamento local específico sobre o tema, o contexto é percebido na rotina de veterinários e biólogos.
Apenas no hospital veterinário SOS Animais, são atendidos cerca de cinco bichos silvestres por semana. O resgate de gambás e aves estão entre os mais recorrentes. O local chegou a receber um tamanduá.
O especialista atribui o número de casos à expansão urbana e ao contato mais frequente de animais silvestres com o ambiente doméstico. “Com essa redução das áreas verdes, eles acabam ficando mais expostos”.
O trabalho é prestado há mais de 15 anos, desde a abertura do estabelecimento. Segundo o veterinário Lucas de Souza, na época o objetivo era retribuir e colaborar com a fauna local.
Após os atendimentos, feitos de forma gratuita, a maioria dos animais é encaminhado para recuperação. Uma parceria com o Parque Zoobotânico de Brusque permite o acompanhamento de biólogos, reabilitação e até a reinserção deles em seu habitat natural.
Recuperação
O caso mais recente de atendimento foi de um falcão adulto, que foi encaminhado ao Zoobotânico para recuperação. Ele foi encontrado com uma das asas lesionadas e precisou amputar parte de uma delas, devido à putrefação de parte dos ossos e uma infecção. Souza acredita que a ave foi atropelada.
Em situações semelhantes, ele ressalta a necessidade de busca do atendimento especializado. Deve-se garantir a liberação das vias aéreas dos animais e evitar manuseios desnecessários até a chegada no veterinário.
Período de risco
De acordo com o biólogo Adriel Paloschi, o início do período de acasalamento da maioria das espécies durante a primavera é responsável pelo aumento do risco de atropelamentos de animais silvestres na região. Entre os mais expostos ao perigo das estradas, destaca os anfíbios, pequenas aves e gambás. ”As fêmeas mantêm os filhotes em seu marsúpio ou no dorso, fazendo com que elas fiquem mais lentas e, com isso, sejam atropeladas ao atravessar as estradas”.
Ele destaca o dano ecológico gerado pelas ocorrências e atribuí o problema à redução e à fragmentação do habitat natural. Durante a estação, a tendência dos mamíferos machos é deixar seu habitat para se reproduzir. Além disso, filhotes e animais jovens também são vítimas recorrentes ao tentar atravessar as estradas.
O biólogo destaca a ocorrência de atropelamentos durante todo o ano. Ele atribui o conflito entre a rotina de vida dos animais com o perigo das estradas ao fato do Vale do Itajaí estar inserido em uma área original de Floresta Atlântica.
Trechos periféricos das cidades, como regiões rurais e corredores ecológicos, onde os animais tentam migrar entre os fragmentos de floresta, costumam ser mais propensos aos casos.
Estrutura é agravante
A infraestrutura presente nas estradas destoam do modelo indicado por Paloschi para reduzir os casos de atropelamento de animais. Segundo ele, a colocação de cercas em pontos com mais incidência de atropelamentos, como rodovias, além da colocação de estruturas passa-faunas seriam aliados na prevenção. Os chamados passa-faunas, tipo de túneis abaixo de estradas ou pontes, beneficiariam não só animais como ouriços e gambás, mas primatas e outras espécies que dependem desta travessia.
A Fundação Municipal de Meio Ambiente (Fundema) é indicada por Paloschi como um contato inicial, caso alguém encontre um animal silvestre vítima de atropelamento. Segundo ele, o órgão encaminhará o animal para o tratamento necessário e, caso seja nativo e esteja em um quadro saudável, será encaminhado para zoológicos ou para o Centro de Tratamento de Animais Silvestres (Cetas), em Florianópolis.
Quinze por segundo
No país, o tema é acompanhado pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, com sede na Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. O órgãos mantém em seu site um “atropelômetro”, baseado em estatísticas coletadas nas rodovias brasileiras. A projeção é de 15 casos de atropelamento de animais silvestres por segundo.
Em média, o órgão estima o atropelamento de mais de 475 milhões de animais selvagens no Brasil. Por dia, são mais de 1,3 milhões de animais. Sapos, aves de pequeno porte, cobras, além de outros pequenos vertebrados são as vítimas mais recorrentes e somam 90% do total. Já gambás, lebres e macacos e animais considerados de médio porte somam 40 milhões de casos. Os de porte maior, como onças, antas, lobos-guarás e capivaras somam 5 milhões.
De acordo com o levantamento feito pelo órgão, as rodovias federais reúnem o maior número de casos. Rodovias estaduais, municipais ou estradas, apesar de apresentarem taxas menores, também são contabilizadas.