Aumento do preço da carne causa impacto no comércio de Brusque
Variação foi entre 25% e 30% somente de outubro para novembro no estado
O aumento do preço de grande parte dos cortes de carne bovina em todo o Brasil tem se refletido também em Santa Catarina. No estado, o aumento de outubro para novembro chegou até 30%. Em Brusque, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o acréscimo de valor foi de 14,7% em novembro. Um dos principais motivos para essa disparada nos preços é o aumento da exportação das carnes brasileiras para a China.
Os cortes que eram usualmente vendidos dentro do estado estão sendo exportados para o país asiático, que vem sofrendo com uma peste suína, o que os obriga a apelarem para importações. De acordo com relatório da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), cresceu em 23% a quantidade de carne exportada do Brasil para a China entre 2018 e 2019, com valor total de R$ 1,6 bilhão, 28,4% da arrecadação brasileira com exportação de carnes e derivados de bovinos.
Responsável pelo fornecimento de carne para as lojas do Supermercado Carol, Vanderlei Rudolf conta que o aumenta do preço desta semana causou crescimento do consumo nos últimos dias de novembro.
“Já se falava do aumento, tivemos um crescimento na venda de carne, mas essa semana deve cair. A percepção é que a população comprou mais carne para estocar”, diz.
Rudolf afirma que a tendência é dos preços congelarem no futuro próximo. “Tirando cortes como a picanha e o contra-filé, carnes muito vendidas na época de Natal, imaginamos que os preços chegaram no topo e devem se estabilizar nos próximos três a cinco meses”.
O aumento do preço do bovino é mais sentido em estabelecimentos menores. Um empresário do ramo de salgadinhos, Fernando Valmorbida, afirma que, para não precisar aumentar muito o preço ao consumidor, preferiu cortar alguns sabores que utilizavam carne.
“Senão fizermos isso, encarece muito o produto e o teu lucro morre naquilo ali. Você vai ter que manter o mesmo valor do salgadinho, porque se aumentar o cliente não compra. É mais fácil cortar alguns sabores do que tentar manter tudo e não ganhar com isso”, diz.
Valmorbida sente que o aumento do preço da carne tem um efeito dominó, que vai afetando toda a população.
“Muitos não pararam de comprar nossos produtos, mas já vi que compraram menos. Aumentei R$ 0,25 o valor do meu hambúrguer. Quando informo o cliente, eles se surpreendem, mas mostro o comprovante e explico que eu estava pagando um valor e este valor aumentou. Em menos de um mês, aumentou R$ 5 o quilo da carne moída, se torna muito caro e você não consegue passar para o cliente”, relata.
O empresário conta que participa de um grupo no WhatsApp com outras pessoas do mesmo ramo e que alguns procuram métodos alternativos para manter-se no mercado.
“Alguns pararam de usar carne e começaram a usar proteína de soja. O custo da carne está muito alto, em alguns valores ainda maiores que aqui. Comprar da distribuidora não compensa, é muito caro para moer. Esta situação é muito frustrante, pois temos que partir para métodos alternativos para agradar o cliente”, lamenta.
O proprietário do Açougue Montibeller, César Montibeller, classifica a queda das vendas como alarmante. “O pessoal não quer mais, está fugindo porque está muito caro desembolsar muito por um pedaço pequeno”, conta.
No Supermercado Bistek, apesar do aumento ter acontecido, as promoções foram mantidas. De acordo com a gerente da loja, Simone de Quadros da Silva, a rede tem um fornecedor próprio, que manda a carne desde o Acre, e que segue padrões pré-estabelecidos pela empresa. “Normalmente a carne não varia muito de valor porque não pegamos qualquer tipo de carne. Seguimos um padrão”, conta.