Autista, cantora brusquense de 17 anos encontra na música formas de lidar com limitações
Artista mostra seu trabalho nas redes sociais e tem músicas lançadas no Spotify
Diagnosticada com autismo aos 9 anos, a cantora brusquense Edra Bloom começou a escrever músicas autorais em 2020 e produzi-las. A jovem de 17 anos conversou com o jornal O Município e contou sobre o diagnóstico, dificuldades e sobre a carreira.
Antes de ser diagnosticada com o espectro, ela havia desenvolvido um quadro depressivo durante a escola. Ela conta que, entre todas as dificuldades que teve nesse período, a música se tornou um meio de se expressar.
“O autismo tem as suas limitações e a música foi um meio que eu tive para lidar com elas. Sempre fui ligada à arte, e todos os meus trabalhos da escola eram voltados a ela. Um dos meus maiores medos é trabalhar atrás de uma escrivaninha”, diz.
Após ficar um período de quatro meses sem ir a escola no ano passado, os pais de Edra a levaram a um psiquiatra. Ela recebeu um laudo e não voltou mais presencialmente às aulas.
“Meus pais sempre me ajudaram muito. Minha mãe sempre esteve muito envolvida. Quando eu tinha o quadro depressivo era muito complicado, porque eu tomava remédio. Uma época eu tomava seis medicamentos tarja preta. Hoje estou só na terapia”.
Música dentro de casa
Multi-instrumentista, Edra toca violão, ukulele, guitarra e piano. Influenciada pelo pai, que toca violão e baixo, Edra começou a ter aulas de piano aos 6 anos.
Três anos depois, ela começou a participar de um coral. Porém, as dificuldades do autismo já se apresentavam. “Era muita gente e muito barulho. Eu não conseguia me concentrar na minha voz. Então era inútil para mim”.
Ela conta que há dias em que o transtorno está mais aparente que os outros, mas que ele nunca deixa de estar presente. Alguns dias ela acorda hiperestimulada e presta atenção em muitas coisas ao mesmo tempo, o que atrapalha sua concentração.
“Tem dia que eu não consigo usar óculos, porque fico sentindo ele. São muitos estímulos. Há semanas em que sou muito produtiva e outras não. Eu tenho o meu tempo”, diz.
Essa sensação ela tem também quando está se apresentando no palco e que no momento em que está cantando, sua mente pensa em muitas outras coisas.
“Como a minha cabeça é hiperestimulada, sempre penso em muita coisa. No que as pessoas estão pensando, na letra da música. Mas apesar disso, é uma coisa tranquila para mim. A única coisa que tenho que aprender é falar com o público, porque cantando eu me solto bastante”, conta.
Limitações
A principal questão que Edra enfrenta sobre o autismo é a aceitação das limitações impostas pelo transtorno. Ela diz que o importante para ela é como se sente e age em uma determinada situação.
“Tem coisas que eu não consigo fazer e as pessoas tem que entender que não consigo. Eu tenho medo de incomodar os outros pelas minhas limitações, mas eu já cansei de ligar para o que os outros vão pensar. Eu só ignoro e faço o que posso”.
Carreira e próximos projetos
Recentemente, Edra foi contratada por uma agência de marketing que irá gerenciar sua carreira. Durante uma reunião com a empresa, a mãe da jovem comentou com a proprietária da agência que a filha é autista e, para a surpresa de ambas, a empresária também é diagnosticada com o transtorno.
“A gente se deu muito bem. Ela consegue entender o meu tempo, que é muito específico. O autista se cansa muito fácil, não quer dizer que ele faça menos coisas. Se ele faz alguma coisa, faz com muita perfeição”, diz.
Ela diz que no período em que ia até a escola, ficava sempre esgotada e com poucas energias para fazer outras coisas. Agora, ele foca todo o tempo na música.
“A equipe [agência] ficou um pouco receosa, mas eu estou conseguindo fazer as coisas e chegar a um resultado que está me deixando feliz. Antes eu ficava agoniada porque não conseguia chegar a um resultado sozinha”.
Para acompanhar o trabalho de Edra, basta segui-la no Instagram, TikTok, Youtube ou Spotify.
Assista agora mesmo!
Voluntária do CVV de Brusque conta como é a rotina de quem ajuda a evitar tentativas de suicídio: