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Autoridade máxima dos Dehonianos de passagem por Brusque

Padre José Ornelas de Carvalho termina hoje, 5 de março, sua estada na cidade

O superior geral da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, padre José Ornelas de Carvalho, 59 anos, em visita a Brusque desde a última quinta-feira, encerra hoje sua passagem pela cidade. No cargo desde 2003, padre Ornelas visita todas as igrejas da congregação a cada seis anos e conversou com a reportagem do Jornal MDD sobre sua estada em Brusque e os principais desafios dos Dehonianos atualmente.

Padre Dornelas já esteve na Venezuela, Equador e Paraguai e no ano passado visitou o Norte e Centro do Brasil. De Brusque, continua sua visita pela América Latina e vai para a Argentina, Chile e Uruguai. Após todas as visitas, haverá uma assembleia do continente latinoamericano para definir que orientações serão dadas a cada uma das congregações pelo mundo. 
A presença do superior geral é importante para que a congregação funcione adequadamente. “Não é que seja eu o responsável por tomar as decisões em cada espaço, temos uma organização muito descentralizada mas, ao mesmo tempo, temos orientações comuns e é importante que o governo geral saiba o que se passa”.
Em Brusque e no mundo
Os Dehonianos são uma instituição religiosa dentro da Igreja Católica, como os jesuítas, franciscanos, dominicanos e salesianos, que e reúne 2.160 membros, em 41 países. Os sacerdotes se dedicam a obras, dentro da igreja, de caráter de missão, obras de educação (como a Faculdade e o Colégio São Luiz, Paróquia São Luis, entre outras em Brusque), e a obras sociais. “A congregação é parte integrante desta cidade, estamos aqui há 110 anos, portanto, acompanhamos o desenvolvimento da região”.
O Brasil é o país que tem o maior número de Dehonianos, são cerca de 420 membros religiosos efetivos em três províncias. Há também muitos outros jovens, como no convento de Brusque, que ainda não são membros, mas estão se preparando para isso, além de muitas outras pessoas ligadas à congregação como colaboradoras nas obras. “A congregação é o que chamamos que vocação, você sente que Deus o chama para prestar serviço, não somente como um consumidor de religião, mas alguém que ativamente quer colocar seu projeto de vida à serviço da Igreja e do mundo”. 
Ele salienta que cada congregação, ou família religiosa deste tipo, não é para a divisão da Igreja, mas uma maneira de encontrar, a partir do compromisso da fé e de uma inspiração, chamada de Carisma, um espaço para colocar-se a serviço da Igreja e da sociedade. “Somos parte de um corpo de funciona na sua totalidade. O Carisma nos orienta, mas temos que nos sintonizar a este carisma e encarná-lo em cada situação concreta, situações culturais, econômicas e políticas distintas, que exigem uma coordenação a nível internacional”.
História
A congregação foi fundada em 1878 pelo padre Leão Dehon, na França, e se espalhou com uma intenção: dar mais dignidade ao ser humano. O padre Dehon viveu no início da época da industrialização em que as massas eram tremendamente exploradas e não havia regulamentações sindicais, o que ele considerava intolerável. Com um colégio, na formação da juventude, se iniciou o trabalho com a intenção de promover outras hipóteses de vida e, assim, preparar um mundo melhor.
No Brasil a primeira presença dehoniana ocorreu no Nordeste, onde havia uma fábrica. A segunda presença foi em Brusque, considerada o berço da presença dehoniana no Sul do país. Os primeiros missionários alemães chegaram a Florianópolis e ali ficaram por um tempo para aprenderem a língua portuguesa. Em Brusque foi o ponto de concentração e de onde partiram para outras cidades, com a preocupação de acompanhar as ondas de imigrantes que chegavam da Alemanha e Itália. Daqui se difundiram para outras partes de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 
Desafios
Segundo padre Dornelas, a igreja já faz globalização há 2 mil anos porque sempre esteve em todos os continentes, mas hoje de forma diferente. A filosofia da congregação prega que é preciso dar “um pouco do coração a esta globalização”, que, para ele, pode ser só mais uma forma de opressão e nivelamento das culturas, a partir de culturas dominantes. 
Na Europa, o embate da igreja com o mundo moderno e secularizado tem sido grande. A igreja estava habituada a ser o centro da vida da sociedade, mas padre Dornelas alerta que hoje não é mais. A congregação vivia com o”motor”da Europa, mas as comunidades europeias estão envelhecidas. “Em um mundo que muda constantemente, temos a Palavra de Deus que é eterna, mas nós não somos. Encontramos em muitos lugares uma Igreja que está mudando”. 
Ele salienta que as congregações continuam a ser formidáveis, mas não têm a vitalidade que tinham em outros tempos. Por isso, outros continentes têm despertado, como a América Latina, especialmente o Brasil, a África e a Ásia. Porém, os países orientais são desafios enormes porque não vivem uma tradição cristã. “Viver a unidade dentro dessa interculturalidade, inserir o evangelho, mas conservar sua identidade própria, torna o desafio muito maior”. 


Renúncia do Papa

Para Dornelas, a renúncia do papa Bento 16 foi uma surpresa muito agradável, embora não tenha ficado totalmente surpreso. “Esperava que este papa fosse capaz de fazer isso porque é uma pessoa muito honesta e lógica, um teólogo muito bem preparado”. Para ele era importante que o fato ocorresse porque no passado, com uma igreja “parada”, o motor ainda funcionava. 

Mas, atualmente, e, segundo padre Dornelas, essa foi a razão porque o papa renunciou, os desafios que a Igreja enfrenta requerem uma pessoa com energias que ele não tinha mais. “Foi muito bonito. Por amor à igreja ele deixou seu lugar à disposição para outro. Vemos tantos líderes agarrarem-se ao poder que acho tremendamente libertador encontrar um homem que fez o que devia fazer e deixou que outro venha para continuar esse trabalho”. Ele conclui dizendo que espera que este espírito de serviço toque profundamente a Igreja para que seja renovada constantemente.