João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Bacharel em Direito e o dilema profissional

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Bacharel em Direito e o dilema profissional

João José Leal

Em dezembro de 1966, conquistei o diploma de bacharel em Direito. Foi, realmente, uma conquista. Naquela época, a então Faculdade Direito da UFSC era o único curso jurídico do nosso Estado. Poucos jovens tinham acesso à Universidade e, hoje, posso dizer que fui um privilegiado numa sociedade extremamente excludente. Terminei o ano, ainda vivendo as emoções da grande formatura, ato solene prestigiado pelas principais autoridades estaduais e municipais, o Teatro Álvaro de Carvalho lotado de familiares e amigos dos futuros advogados, juízes, promotores e delegados.

Logo chegou 1967 e o dilema de escolher uma das carreiras jurídicas. Uma decisão, já tinha tomado. Não queria ficar em Floripa. Nada contra a capital. Principalmente, contra aquela cidade do Ponto Chic, o Café da elite democrática da Polis, local das conversas descontraídas sobre as coisas da cidade. Mas, também de discussões políticas acaloradas, pessedistas, udenistas, petebistas, muitos de paletó e gravata quase chegando às vias de fato, porque política em frente ao balcão, xícara de cafezinho quente na mão, é livre exercício da imaginação sem compromisso com o tamanho da verba orçamentária, é exaltação, é pura paixão de administradores públicos sonhadores, sem voto e sem mandato.

Nada contra a capital da Choperia Chiquinho dos saborosos pasteis de carne, palmito e de camarão, o preferido, que se pescava, o crustáceo, é claro, tarrafa lançada ao mar, até do cais do Mercado municipal. Bem em frente ao Ponto Chic, do outro lado da estreita Felipe Schmidt, a Choperia era o ponto de encontro dos que preferiam, copo gelado na mão, as discussões sobre futebol e conversas entusiasmadas sobre mulheres.

Nada contra uma capital com seus inúmeros clubes sociais dos tradicionais bailes, os dois mais ricos, da elite ilhéu, mas também muitos outros, mensalidades diversas para o tamanho do bolso dos associados das classes mais populares. Também, nada contra uma cidade que preservava os passeios dominicais noturnos, em frente ao Palácio do Governo e as enormes, falantes e alegres filas das sessões de cinemas. Enfim, como não poderia gostar da capital que ainda, conservava o Miramar, bela construção mar adentro, suas muradas de balaústre fustigadas pelo vento sul, as ondas lançando suas águas em fúria, até o telhado?

É interessante. Gostava da bucólica Floripa dos anos de 1960. Mas, sou tijucano, nascido a beira-rio e uma estranha voz me chamava de volta para o interior. Então, resolvi ingressar no Ministério Público. Fui exercer a Promotoria na longínqua cidade de Palmitos, que não conhecia.

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