Basta mudar o governo?
Nós brasileiros passamos por mais uma experiência dura de um impeachment da presidente Dilma. Não faz muito tempo. Período desgastante. Colocou-se nesse episódio a esperança de nossos dias e de novo rumo para a vida política do país. De fato, aconteceu? Somos obrigados a responder negativamente. Não! Então, qual seria a razão de tantos desmandos, tanta corrupção, tanto desperdício do dinheiro público, tanta desorganização da máquina administrativa, etc. etc..
Simplesmente, porque não é o governo que é corrupto ou corrompe. São as pessoas que dele fazem parte. O governo não sai por aí pregando a corrupção. São as pessoas que lá estão, que se “aproveitam” das “deixas” que a própria legislação ou o sistema político oferece para praticar os “malfeitos”. E, não perdem tempo! Agarram a oportunidade de locupletar-se com os recursos que são de todos nós: o dinheiro público.
O problema não está no governo em si. Está nas pessoas que são colocadas lá, por meio de eleições, nas quais os eleitores são obrigados a votar e votam sem um discernimento do quanto estão comprometendo toda a Nação com seu voto mal endereçado. Porque todos os que são parte do governo, estão lá porque foram, direta ou indiretamente, postos lá pelo voto dos eleitores. Uma das raízes da corrupção está aí.
A conclusão lógica, experimentada pelo impeachment praticado, alijando a presidente Dilma e o PT do governo, nos diz que não basta mudar o governo para melhorar a administração ou acabar ou ao menos minimizar a corrupção. Não basta mudar o governo deste partido político por outro partido. A mudança vem das pessoas que são colocadas lá.
Por isso é fundamental o que precede a escolha dos candidatos a postos de governo. Aí, é que devem ser barrados os que já mostraram tendências para realização de atos ou de posturas que não somam para a construção do bem comum da Nação.
Pelo contrário, já demonstraram que estão mais propensos a busca de seu próprio proveito, de sua família, de seu grupo econômico, de seu partido político. Neste estágio das eleições tem que funcionar, a contento, a “Lei da Ficha Limpa”, sem dó nem piedade.
Não se pode deixar essa tarefa exclusivamente para o Judiciário. Como eleitores, deveríamos participar mais dessa etapa prévia das eleições: a escolha dos candidatos. Também, da fase mais remota: a participação na vida dos partidos políticos. É, aqui, que muitos que poderiam dar uma bela e boa contribuição, por sua preparação e preparo ético-moral, se omitem.
Como já escrevi, em outra ocasião nesse mesmo espaço, não é fácil tomar essa decisão, dentro da prática da política atual, carregada de tanto descrédito, tanto da prática política, dos políticos como também dos partidos políticos. Além do mais, a “máquina dos partidos políticos” está tão “viciada” que não é fácil alguém “estar nela” sem se deixar contaminar pela sua influência maléfica.
É bom escutar o que o papa Francisco nos disse quando passou por aqui, a respeito da atividade política. “Somos todos animais políticos, no sentido amplo da palavra política. Todos somos chamados a uma ação política de construção em nosso povo. A pregação dos valores humanos, religiosos, tem uma conotação política. Gostemos ou não, tem. O desafio de quem prega está em acentuar esses valores sem se imiscuir na pequenez da política partidária”.
Disse mais ainda, “Todos temos tendência a ser corruptos. Quando um policial para um motorista por excesso de velocidade, é provável que a primeira frase que se escute seja ‘vamos dar um jeito’. Está dentro de nós, temos que lutar contra essa tendência à recomendação, ao jeitinho, a tentar ser o primeiro da lista. Temos idiossincrasia do suborno”. “O desprestígio do trabalho político precisa ser revertido, porque a política é uma forma mais elevada de caridade social. O amor social se expressa no trabalho político para o bem comum”.